Bruna Moraes 08/03/2024
Fahrenheit 451 – Ray Bradbury
Em uma sociedade distópica, onde bombeiros não apagam incêndios, mas os iniciam, temos Guy Montang, que seguiu a tradição da família e também se tornou bombeiro, fazendo de seu ofício o ato de queimar livros, por serem considerados proibidos. Fazia seu trabalho como tinha que fazer e voltava para casa, onde sua esposa (ou quase isso) o esperava, até que conheceu Clarisse, sua vizinha, que através de seus questionamentos despertou nele um desejo irrefreável de descobrir o que existia por trás dos livros, que os considerava tão perigosos. Se o ato de ler uma página do livro já era passível de punição, imagine se um bombeiro os tivessem em casa...arriscar a própria vida e de sua família deveria valer apena por algo tão importante, afinal.
A obra foi publicada, inicialmente, em 1953, dentro de um contexto de 2ª Guerra Mundial e ascensão do governo nazista, que inviabilizava qualquer tipo de liberdade e censurava as armas mais importantes que se poderia ter contra um governo autoritário e misógino, os livros. O autor retrata muito bem isso em sua narrativa, fazendo inclusive menção a temperatura usada para queimá-los no próprio título, além de mencionar outros importantes autores e suas obras, que sofreram repressão do governo.
Na narrativa, o autor traz as reflexões sobre os motivos pelos quais os livros são queimados, mas de forma ambígua, deixando o leitor tirar sua próprias conclusões. Em um dos trechos, o próprio chefe dos bombeiros menciona que a curiosidade de saber o que tem nas páginas passa por todos um dia, mas o que diferenciou Montang foi leva-los para casa e lê-los pra quem quer que fosse, mesmo que isso colocasse sua vida em risco (como de fato colocou), além de querer que mais livros fossem impressos com a ajuda de seu novo amigo Faber.
As duras críticas sobre a massificação das telas televisivas, que mais alienam do que informam, é extremamente atual, apenas transferimos esse poder de dominação para uma tela menor, a do celular, mas permanece a restrição literária e cinematográfica, um pouco mais velada do que antes, onde uma vez ou outra surge uma notícia de que um livro foi proibido em uma determinada escola ou um determinado filme foi impedido de passar no Brasil ou qualquer outro país. Permitir meios, que inviabilizem a liberdade de expressão e a produção artística, é uma forma de queimar livros também.
Um excelente livro, para ler com a mente aberta e aguçar o pensamento crítico, sendo possível fazer uma analogia com outros livros como “a menina que roubava livros” e o “admirável mundo novo”, que tratam da necessidade de mudar a sociedade através do conhecimento, da leitura, que são as maiores armas contra a dominação.
“O crime não é ter livros, Montang, o crime é lê-los! Sim, é isso mesmo. Eu tenho livros, mas não os leio”.