Laura Finesso 30/07/2020“Como uma pessoa fica tão vazia?, perguntou a si mesmo. Quem esvazia a gente?”Escrito por Ray Bradbury, Fahrenheit 451 é uma ficção científica clássica, em que os bombeiros queimam livros por considerá-los provocativos e melancólicos, baseados em uma cultura contra o pensamento crítico do indivíduo. Nesse cenário acompanhamos o bombeiro Guy Montag, que ao conhecer sua nova vizinha Clarisse, começa a questionar todo esse sistema e o seu papel nele.
Eu diria que esse livro é uma crítica perspicaz da modernidade alienada e essencialmente midiática. Com seus grandes televisores, os quais a esposa de Montag (Mildred) e a maior parte da população interagem como se fossem reais, nos é exposto a noção de felicidade superficial e consumista da era da imagem, em que não basta apenas ter um televisor para suprir seus vícios e dependência emocional dos aparelhos, mas vários, mesmo que sem necessidade. Bradbury nota as origens do totalitarismo na indústria cultural, na sociedade consumista que se conforma com o senso comum.
Levando em conta que fora escrito em 1953, não é difícil fazer um paralelo com o American Way Of Life que se perpetuou após a Segunda Guerra, porém a genialidade dessa obra reside no fato de que ela é atemporal. Fazendo um recorte para a atualidade, com pessoas cada vez mais dependentes de seus celulares e televisões, considerando livros de um perigo “ideológico” desmedido e utilizando disso como arma política… essa distopia se torna apenas o retrato de uma sociedade falha e superficial, não tão distante como de início podemos imaginar.
A escrita desse livro é poética, quase como uma dança suave que nos embala a cada página. Contudo, ao mesmo tempo que sua narrativa é suave, os seus questionamentos e provocações são objetivos e excruciantes.