Lucy 14/02/2022
Uma novela das 6 de Elisabeth Jhin
Tá, por onde começar? É meio complicado fazer uma resenha crítica de um livro psicografado, ainda mais que não tenho domínio sobre a doutrina espírita. Por isso vou me atentar a parte mais "literária" vamos dizer assim.
É uma novelona. Mocinhos e mocinhas, romance (meu Deus quanto romance), drama, reviravoltas e coincidências pouco acreditaveis, uma pitadinha de ensinamentos da doutrina espírita e uma moral da história.
Vamos aqui então ao que me encomodou horrores; a fixação de que o papel de uma mulher é casar e ter filhos (dito por um dos personagens do próprio livro), e que uma mulher pode ter uma super carreira, mas só vai se realizar como ser humano, assim que parir (depois de casada, óbvio. Bebês não vem de outro jeito). Não sei quando o livro foi escrito ou quando se passa a estória (eles falam de telefone e cartas, então sei lá, anos 50-70?), e eu deveria passar um pano pra isso, mas vou não. Parece que só existe esse tipo de amor no mundo, amor romântico e de mãe-e-filho (em uma das tramas apenas, e que tecnicamente é um amor romântico também). Nada de amor fraternal, amizade e empatia. É pra casar mesmo.
Mais outra; Maria Eugênia. Achei paia terem condenado a menina por ter saído e curtir a noitada (nem to falando da traição, realmente não tem como passar pano). Ela era novinha, tinha mais que sair e aproveitar. E como outra personagem disse, ela só gostava de curtir mesmo, a traição foi um equívoco, um jeito dela de vingar de uma injustiça (sim, injustiça). Outra coisa, ela foi precionada a aceitar o rolê da barriga de aluguel, então ao MEU VER faz sentido ela ter ficado p*** da cara. Não gosto como o livro passou pano pra mãe de "ela está só garantido os negócios da família" se no próprio livro fala que eles são ricos o suficiente pra se manter, mesmo sem a empresa. E não, eu não acreditei no papo de "ah, mas e as familias que precisam do emprego da empresa?".
O marido dela é um chato, ele podia ter conversado de verdade com ela, saber da opinião sincera, já que eles casaram por amor. Sem falar que depois que ele não quis mais sair com ela, e ficou todo carente, queria fazer a coitada ficar em casa, sendo que ia ser só uma dor de cabeça a mais.
Marina; achei interessante o plot de mulher ambiciosa que faz tudo para o bem da sua família (poderosa chefona, em?), de querer ser dona de si e não precisar de marido. Mas óbvio que não ia durar muito. Achei insultuoso o personagem do Rafael perguntar pra Marina se ela era gay, porque não queria namorar (meu filho????? A noção, cadê?).
Não que eu condene casamento e filhos. Se é um desejo da pessoa, vai fundo. Mas detesto como isso foi abordado aqui. Nem a Adele foi poupada, teve que arranjar um boy. A única que se safou foi a Jamile, mas ela não era tão importante assim (a única que eu gostei).
Por último (sim, até que enfim), as repetições; Mas que chatisse, acabava de acontecer uma cena de conversa, e na próxima o personagem contava toda a conversa de novo pra outra. Era só o narrador escrever "e fulano contou sobre sua conversa com beltrano" e dar sequencia por aí. Isso acontece com as cenas de sonhos também. A mulher acabou de sonhar, e ta ela lá contando o que sonhou, sendo que os leitores já tinham lido a cena do sonho.
E a explicação para o motivo desses encontros todos de alma só aparece no finalzinho. Ao invés de botar a Norma pra repetir mil vezes que tava tudo bem, podia ter colocado fragmentos das cenas da vida passada nos sonhos dos personagens. Seria mais legal, ter o um ar de mistério, mais envolvimento, e não essa coisa tediosa. Terminei o livro na base do ódio.
Pretendo ler outros livros, porque gosto dessa temática, mas espero que não seja tão chato como esse. Bom, mas pelo menos consegui concluir uma leitura depois de uns 13 anos.