Murillo Bertolini 24/10/2023
Um pouco abaixo do primeiro, mas ainda sim sensacional
O volume 2 de Sandman segue a incrível e poética história criada por Neil Gaiman e seus perpétuos, em 4 principais "arcos": Estação das Brumas, Espelhos Distantes, Um Jogo de Você e Convergência.
Estação das Brumas continua a história de Sandman com o mesmo lirismo, poeticidade, dinamismo e riqueza em história tal qual o volume anterior, com Morpheus voltando ao Inferno para recuperar Nada, e encontra Lúcifer renunciando ao trono de soberano do Inferno, indo contra todas as expectativas. Acho incrível como Gaiman consegue subverter a expectativa do leitor tal qual no primeiro volume, fazendo com que um embate feroz viesse a acontecer, mas na verdade uma questão muito diferente se apresenta ao soberano do Sonhar. A continuação da história com todas as deidades e seres indo ao encontro do Sonho para receber a chave do Paraíso, bem como a reunião de família dos Perpétuos e o desenrolar dos acontecimentos no Inferno mostra o porquê de Sandman ser tão incrível.
A mesma qualidade se mantém em Espelhos Distantes, com histórias interessantes, intrigantes, reflexivas e que cada vez mais adiciona elementos à história principal, como Orfeu e a rixa com Desejo. Além disso, amo quando Gaiman usa a história de Sandman para amarrar e justificar fatos da nossa história, como na história de Octavius. Sensacional!
Já Um Jogo de Você apresenta alguns problemas que não tinha visto na série até então. A história é muito interessante ao tratar sobre o mundo feminino e as questões relacionadas à identidade, seja com Wanda e transexualidade, seja com Barbie e sua ausência de personalidade, seja com Cuco e sua natureza simples e singela de um parasita do Sonhar. Alías, é a história de Cuco que para mim, desanda um pouco o arco. Sandman até agora vem usando uma história interessante como pano de fundo para trabalhar temas filosóficos, poéticos e reflexivos. Nesse arco, creio que a história de Cuco, toda a relação com o Sonhar e com Barbie ficou um pouco confusa, até mal explicada, o que me fez ter que revisitar as páginas algumas vezes para entender o que havia acontecido. Aqui temos todos os assuntos importantes e relevantes trabalhados com o mesmo nível de sutileza dos arcos seguintes, mas sem uma história de fundo que fizesse tanto sentido para dar sustentação para a reflexão desses pontos.
Por fim, Convergência traz duas histórias curtas interessantes, mas para mim sem a mesma alta qualidade das anteriores. A Caçada traz uma história de família, passada de geração em geração, que tenta trazer uma reflexão sobre sonhar/expectativa com realidade, enquanto Lugares Maleáveis apresenta um conceito bastante interessante de cruzamento entre realidade e Sonhar que vai ser usado em volumes futuros, mas aqui parece uma conexão legal com a realidade, mas sem o peso dramático das histórias curtas anteriores.
De todo modo, Sandman volume 2 continua com sua altíssima qualidade artística, mas um pouco inferior ao volume 1, sobretudo na sua metade final.