Valéria 28/01/2021
Esse livro me surpreendeu
Acho que eu poderia resumir a história desse livro com apenas um paragrafo, então como Stendhal (pseudônimo de Henri-Marie Beyle) conseguiu transformar isso em 350 paginas? É simples, tudo aqui retratado vem a nós como um romance psicológico que faz um perfeito recorte da história politica da França no séc. XIX, e o quê pode ser mais extenso e complexo do que a psiquê humana? O importante aqui não são os acontecimento da trama em si (estes que podem parecer para alguns simples e até entediantes), mas sim a relação entre os personagens; a interação de suas psiquês; o choque de seus interesses, suas personalidades, e seus objetivos.
Temos a história de um jovem humilde filho de um carpinteiro, chamado Julien Sorel, este é extremamente inteligente, e orgulhoso. Seu maior desejo é ser um padre (uma das profissões mais bem pagas dessa época) para que assim possa realizar seu sonho de ser rico. E a partir daí acompanhamos a sua ascensão; seus sucessos; seus fracassos; seus acertos; seus erros; seus amores; seus pecados; e o desenrolar da sua história
Os momentos de ápice são os diálogos, é ver um personagem de frente ao outro, o encontrar de seus sentimentos. Eu nunca me envolvi tanto com um romance, nunca antes o senti de uma forma tão intensa; como os pequenos acontecimentos se desdobram, como cada adeus dos personagens dói e como cada reencontro é tão grandioso quanto o outro. É um romance verídico, é real, a gente sente e foge completamente das melosidades que temos no gênero; é extremamente profundo. As personagens são tão bem construídas pelo autor que nós temos uma relação de amor e ódio com cada uma delas, cada ato vindo de uma é entendível e justificável mediante sua personalidade e sua história de vida, a gente as aplaude tem hora e a gente os condena em outra, aqui não existem heróis e vilões são só... pessoas e suas relações.
O final é surpreendente, o livro todo tem seus altos e baixos, basta o leitor ser paciente e saber apreciar os momentos de calmaria, mas as ultimas paginas que vem após um acontecimento que vira completamente o andar da história (o famoso plot twist) são impossíveis de não se devorar, é a partir dali que o destino do protagonista se concretiza e a gente acompanha completamente pasmo a cada virar de pagina, torcendo por um final diferente, mas aceitando internamente e cada vez mais conforme a trama avança que a história só poderia acabar de uma forma.
É um livro que vale muito a pena ser lido, talvez não seja para todos os tipos de pessoas, a leitura é sim um pouco rebuscada, mas nada que seja difícil de ler. Creio que alguns podem considerar um tipo de livro chato ou denso, mas nunca antes uma obra me fez aprender tanto como escritora, e me fazer refletir sobre tantas questões como as criticas as religiões e as diferenças sociais, e o autor sabe bem como pontuar tais criticas, elas vem de forma sutil, completamente justificais para sua época e se mantém incrivelmente atuais (o livro é de 1830).
Enfim, o Vermelho e o Negro (um titulo que eu amo, por sinal) é um recorte perfeito dos embates políticos da França do séc. XIX e apesar de serem esses embates todo o backgroud da trama, são os personagens que brilham e a fazem acontecer, esta é palco para os romances; para o desenrolar de filosofias e criticas; é uma experiência única que não deve ser desperdiçada por ninguém.
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