Fer Paimel 23/10/2022Impressionante!É difícil resenhar esse livro, porque são muitos aspectos merecedores de atenção e, com certeza, uma única leitura da obra é incapaz de mostrar toda a profundidade de seu conteúdo.
Este parece ser um livro que nada foi colocado lá por acaso, ainda que não faça muito sentido a princípio. O próprio nome da família tem uma razão de ser, o que me faz pensar em quantas mensagens dos autores nós, leitores, deixamos passar quando não estudamos um pouco sobre a obra... Óbvio que nem toda leitura cabe e pede essa análise, mas me fez refletir sobre a profundidade das minhas leituras recentemente. Ah, tô divagando igual ao Dostoievski já kkkk
Voltando sobre a história, eu adorei cada personagem, até os chatos e irritantes kkkk é maravilhoso ler algo bem escrito, que você consegue, realmente, visualizar tudo que está sendo descrito. Eu comecei a ler em janeiro, em uma LC, mas acabei me atrasando e deixei a leitura de lado para somente pegar agora; foi uma jornada mais solitária, mas muito prazerosa.
O enredo tem de tudo: filosofia pesada, romances, tragédias e comédias, psiquiatria/psicologia, direito... enfim, as quase mil páginas não deixam nada a desejar e atendem a um público bem variado. A parte jurídica da investigação e do julgamento foi muito interessante para mim, que sou da área, mas o destaque vai para os diálogos existencialistas, sem sombra de dúvida!
As questões morais dentro do livro são inquietantes e objeto de estudo de muitas pessoas. Pensar se a liberdade humana é um fardo ou uma benesse é algo bem doido, temática de outras leituras que fiz, principalmente de cunho distópico. Dostoievski, por sua vez, aborda-a mais cruamente, em um diálogo arrebatador entre os irmãos Ivan e Aliocha, meus personagens preferidos! Dentro das questões sobre liberdade, ele também passa a questionar nosso senso moral, para refletir se existe alguma referência moral absoluta fora da religião ou se a falta de fundamento da moral ensejaria em uma permissão absoluta para qualquer comportamento... Olha que loucura! Se não me engano, acho que vi que Nietzsche se dedicou a explicar a moral longe da religião, tendo ele sido um leitor de Dostoievski...
O contraste dos personagens é marcante e a maneira como o autor oscila entre momentos de diálogos pesados, com descrições de personagens aleatórios e interessantes, me prendeu à leitura, embora eu imagine que seja algo que talvez cause dificuldades na leitura para outras pessoas. Achei tudo dinâmico e surpreendente!
Não dei nota máxima porque achei o final um anti clímax... Vi que este foi o último romance de Dostoievski e, parece, que ele pretendia escrever um segundo volume, mas faleceu antes de começar ou concluir (não sei se ele começou!). Alguns pontos não ficaram bem resolvidos para mim, mas, ainda assim, é possível traçar um final para cada personagem.
Aff, já falei demais!! É uma leitura que dispensa apresentações e vale a pena o esforço de tantas páginas... A ressaca literária ta grande, vai ser difícil esquecer um pouco essa história!