Bela Calli 16/03/2022
Os humanos são piores que os monstros
"Crianças, a ficção é a verdade dentro da mentira, e a verdade desta ficção é bem simples: a magia existe." ?
É verdade, a magia existe. Em It, acompanhamos uma cidadezinha no Maine que está sempre repleta de acontecimentos macabros e trágicos ao longo da sua história. É muito mais que um palhaço assassino devorador de criancinhas, nós acompanhamos o limite da mente humana e principalmente a sua força.
O título da resenha é, basicamente, um pensamento que estava presente na maior parte da leitura. Derry é uma cidade que, descrita inclusive algumas vezes por alguns personagens, "É um lugar ruim; um esgoto". As cenas que mais me chocaram não era sobre a Coisa, mas o quê os humanos eram capazes. As pessoas pareciam predispostas à loucura; à maldade; e pior: à apatia. Estranhamente omissas.
Mas, em meio essa mistura desumana de preconceitos e barbáries, acompanhamos sete crianças que descobrem o poder da amizade e da imaginação. Amigos que enfrentam suas próprias dificuldades e encontram, um nos outros, poder para transformar a realidade, força para superar os desafios.
Crianças que acompanhamos de pertinho, brincando, sofrendo, gargalhando. Seus trocadilhos, suas provocações, suas ideias infantis mirabolantes. E seus medos... principalmente seus medos.
O livro é extenso e, por vezes, cansativo. Ele é intenso, envolvente, pesado. Algumas cenas são simplesmente indigestas. Pode ser um pouco arrastado, mas muito bem escrito e detalhado. Você entra no livro, se coloca no lugar, sente as emoções e se apega aos personagens. É como se você fosse mais que um telespectador... fosse parte do "clube dos Otários".
Foi o que senti... que voltei à infância.
E acredito que o livro seja exatamente sobre isso, sobre a infância.
A transição entre a imaginação fértil e a dura perspectiva da vida adulta que nos força, muitas vezes, a matar a criança interior. Como nós eventualmente nos esquecemos dos dias felizes e inocentes, só porque o tempo passa e a idade chega. Como esse processo tão natural pode ser tão triste e assustador.
Querendo ou não, o tempo passa e as coisas mudam. E esse contraste entre nostalgia e tristeza é tão forte, que você eventualmente pensa nas coisas que também esqueceu, nas mudanças ao seu redor que talvez nem tenha percebido.
Sim, o tempo passa, nós crescemos.
Mas, sempre carregamos esses momentos em nós. Porque essas crianças "não são necessariamente a melhor parte de você, mas já foram o depósito de tudo que você poderia se tornar."
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