Isabella.Wenderros 23/12/2020Não é uma resenha, mas sim um desabafo...Li O duque e eu quando tinha uns 15 ou 16 anos e me apaixonei por toda a história e seus personagens. Quando a Netflix anunciou a data de estreia da adaptação e a Arqueiro publicou essa nova edição de luxo, decidi que era o momento de uma releitura.
Eu tinha todo o enredo muito claro na minha memória (milagre!), então já sabia o que iria encontrar. Os Bridgertons formam uma família que eu carrego com muito carinho no meu coração, acho lindo o amor e a dedicação que existe entre eles.
Se não fosse uma cena extremamente problemática entre Daphne e Simon, talvez eu tivesse continuado a amar esse livro, mas não tem como fingir que o que aconteceu não foi um estupro; foi. Quando alguém, independente do gênero da pessoa, está incapaz de consentir ou impedir uma relação sexual, e o outro insiste, isso é um estupro. Independente do quanto Daphne queria uma criança, ou do quanto estivesse magoada e se sentindo enganada, ela não tinha o direito de se aproveitar de um momento de vulnerabilidade do marido para tentar conseguir aquilo que desejava.
Depois de tudo, o mínimo que a autora deveria ter feito era criar uma situação para deixar muito claro que aquela atitude não é aceitável – poderia ser uma conversa franca entre marido e mulher ou até mesmo um debate interno ou, quem sabe, uma conversa com a mãe. Quando tudo é deixado para trás pelo casal, com as pazes feitas e um final feliz (que confesso, por mais ambíguo que soe, me deixa alegre por eles),” fiquei” com a impressão de que se aproveitar fisicamente de alguém é razoável se o seu objetivo for agradável.
Mais uma coisa que me incomodou: Daphne não tem nenhum interesse além da maternidade. Nenhum mesmo. E não estou dizendo isso desconsiderando que naquele período (ou mesmo agora, já que muitas mulheres desejam uma vida familiar e está tudo ótimo) o único jeito de uma mulher se sentir ou ser vista como completa era através da família, mas uma personagem tão inteligente e sagaz sem um único hobby? Poderia ser qualquer coisa aceitável para a época: pintar, bordar, cavalgar, ler, tocar piano... Mas, não. Antes de se apaixonar – praticamente de maneira instantânea por Simon – o que essa jovem fazia durante o dia inteiro? E depois de casada, quando o marido está fora de casa? Gostaria de ter conhecido mais da protagonista.
Sobre Simon e seus traumas, senti por ele agora a mesma compaixão que senti antes. A relação da matriarca Violet com seus filhos também me (re)conquistou. Enfim, continuo gostando do livro, me diverti em alguns momentos e me envolvi. Sobreviveu à releitura, mas não saiu intacto.