Fábbio @omeninoquele 02/09/2023Incrível!#OMeninoResenhando
"Havia dias que eram tão áridos e desérticos que ela daria anos de sua vida em troca de minutos de graça."
Publicado em 1959, com mais de cinquenta anos, "Uma aprendizagem, ou os livros dos prazeres" é um livro atemporal, porque nele traz sob a visão de uma personagem feminina todos os seus desejos, os anseios e o modo como ser mulher e se portar. Se no ano de publicação se tornou um burburinho por justamente mostrar esse lado da feminilidade, hoje em dia ainda vemos que o papel da mulher na sociedade mudou bastante, mas ainda há entraves quanto a ser mulher nos dias de hoje.
Lorelay é uma mulher a frente do seu tempo, uma femme fatale que busca a necessidade de entender seus desejos e não exita em conquistar, mesmo que em meio a isso tudo, viva numa crise existencial enorme. Pra ela tudo ou é ou não é, simples. Mas ela vê em Ulisses, que conhece numa parada de táxi, o amor e a porta pra se desprender de tudo o que a segura.
E é essa jornada de autodescoberta que passamos a presenciar, desde os primeiros capítulos do livro. Lori é intensa, não consegue a conexão que deseja com ninguém, nem consigo mesma, ela é professora, vive sozinha, às custas do pai e em meio a isso tudo acha que não consegue fazer nada como deveria, mas é com a ajuda de Ulisses, a quem ela vê como um deus grego e a quem ela um pouco que venera, que ela aprenderá a ser e a se permitir a tudo.
Uma vida aos extremos causa mesmo essa dualidade, e a Lori que conhecemos no início dessa história, com o passar do tempo, do amadurecimento e de seu encontro com si mesma, é uma Lori bem diferente de quando terminamos a história, muito mais segura de si e dona dos seus desejos, como ela sonhava. O medo já não a abala mais e ela quer mais que tudo viver o que tem pra viver e desfrutar da sua vida, junto de seu Adônis, o Ulisses.
Esse foi o livro que eu achei mais lento da Clarice, tudo é muito filosófico, mas o brilho de uma escrita brilhantemente atemporal está aqui mais forte do que nunca. Confesso que tive picos durante a leitura. Num momento estava amando demais e curtindo a experiência, enquanto noutro, estava perdido, tentando compreender o que estava escrito ali.
E essa experiência pra mim foi muito válida e positiva, porque gosto mesmo de ser tirado do meu conforto.
Essa jornada de amadurecimento de Lori e a sua busca por sentir algo, como o amor é algo que hoje em dia dita a vida de muitas pessoas, a busca por felicidade e pelo amor. E achei que isso é muito relevante num livro cinquentenário que conversa tanto com a atualidade. O romance é feliz, Ulisses e Lóri se encontram no ápice dos dois, mas o fim é bem a lá Clarice Lispector e me deixou com uma pulga atrás da orelha. E certamente esse é um livro que se eu reler mais pra frente, mais maduro, a conclusão será outra e inclusive verei mais coisas que não vi nessa primeira experiência.
Eu recomendo se você já tem uma relação com a escrita da autora e gosta mesmo de ser arrancado de sua zona de conforto. O livro ganhou uma adaptação que inclusive eu agora tô mais afim de ver rs.
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