Pedro3906 13/08/2023
Porque no Impossível é que está a realidade.
Uma aprendizagem passou rascante por mim numa velocidade inusual, a estruturação tímida de capítulos delimita pausas ótimas na leitura. Mas que é que digo desse livro? Não sei. É diferente em corpo e palavras dos últimos que li de Clarice, é uma ferida cicatrizando e não sendo exposta aos ventos quentes, interessante porque os eventos descritos de certa forma me pertencem, eu que vivo a extrema individualidade de pessoa e quero me arremessar ao ver qualquer lirismo. A frase inicial que Clarice escreve, "Este livro se pediu uma liberdade maior que tive medo de dar. Ele está muito acima de mim. Humildemente tentei escrevê-lo. Eu sou mais forte do que eu" faz-me pensar nos montes e vales de embeber-se da literatura, instantes onde quis escrever mais do que sou. Curioso, acostumei-me cegamente na transgressão de Água Viva e A hora da estrela, lendo Uma aprendizagem estive acomodado. É que estou sofrendo de uma alegria paralisante, prefiro ser destruído e viver levemente infeliz, ao menos sou arremessado vulgar e incólume aos riscos e dignidade do futuro.
Lóri é vida nascendo. É estado gratuito da vivência. Eternidade sem começo nem fim. Às vezes nos deparamos com pessoas que provocam necessidade de espírito esfuziante (ainda que Ulisses seja um pé no saco, com todo respeito), fome de nós, fome insaciável de consciência, embora no processo todo nos perdemos em inúmeras ocasiões. Perdas e encontros, mudez e falação digna. E nunca se chega na consciência eterna, vive-se na mentira momentânea até que o corpo mude e nós, tolos que somos, perdidos estaremos mais uma vez.
"Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro ? preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana."