Cássio Ulisses 01/01/2015Bom livro.Chevy Stevens
Ano: 2011 / Páginas: 256
Editora: Arqueiro
O que falar desse livro? Posso comentar que ele é melhor do que eu esperava. Que não faz apenas o uso do tema do sequestro, porque cita outros temas. Quando você achava que tudo tinha terminado, chega outra bomba (figura de linguagem rs) para a personagem.
A ideia da autora de narrar o livro pela Annie falando com a terapeuta foi uma boa jogada, gostei do estilo da autora. A separação dos capítulos (o que eu acho necessário) ficou boa, não deixando a leitura cansada. A forma como foi surpreendendo os leitores, com novas informações, deixou um ar de investigação ao livro, porque de inicio achava que seria apenas um relato sobre os problemas passado com o Maníaco. Não imaginava da droga que tinha no fim da história.
Annie. Que droga de vida esta mulher tinha. Primeiramente, teve o azar de pedir sorvete ao pai, onde por uma questão de infelicidade, o pai e a sua irmã morreram no acidente de carro ao voltar do local da loja de sorvete. Que garotinha imaginaria que poderia acontecer algo assim, isso não é comum e não ocorre a todo instante. E também antes do ocorrido, tinha a disputa de irmãs. Em muitos casos nem sãos os irmãos que disputavam, pois apenas estão conhecendo a vida ainda, chegando ao ponto de os pais criarem intrigas desnecessárias (quando são necessárias? rs). E ai veio à morte do pai e da irmã. Como se tivesse bastado a disputa entre irmãs, tinha a da sua mãe entre a sua tia, para ver quem tinha a filha mais bem de vida. A Annie esteve sempre a margem da sua própria vida, nunca chegou a ter controle. Tinha um namorado que lhe convinha e uma best friend igualmente boa. E sua cachorrinha chamada Emma. E veio o sequestro...
Quando ela foi sequestrada, imaginei que ele iria estuprar e matar a Annie. Só que com a casa montada e adaptada daquele jeito, vi que ele era doido e queria ficar com ela para sempre. A questão dos horários de banhos, dos horários de ir ao banheiro, da depilação rotineira. O Maníaco era um cara perturbado. E não me venha falar que é justificável as suas atitudes por abusos ocorridos enquanto menor. Não acho isso justificável, o que ele fez a personagem é imperdoável, fiquei triste que ele teve um fim muito tranquilo (sim, foi uma machadada, mais ele nem sentiu). Fico puto com esse relato porque isso ocorre no mundo a fora, teve alguns anos atrás uma mulher que ficou anos em cativeiro. Um cara que faz algo tinha que ter um fim que nem no filme Doce Vingança. O estupro é um dos mais nojentos crimes (junto com pedofilia), não estou falando que não há outros, só que esses dois são abomináveis. Uma mulher que sofre estupro, como ela vai confiar em algum cara depois? Achei que Annie foi muito forte ao conseguir fazer sexo com Gary, ela fez mais para aliviar a tensão e teve a sorte dele ser uma pessoa que realmente entendia ela. Seria legal se eles tivessem ficado juntos, mas não era o objetivo do livro retratar finais felizes.
Continuando o sequestro. O cara era tão tosco que só sentia tensão se a mulher se debatia, reclamava. Era algo doentio e nojento. Obrigar alguém a fazer sexo com você. E como se tudo isso não fosse o bastante, ele agredia de maneira brutal. Ela foi sequestrada, estuprada e agredida fisicamente e emocionalmente. E ai vem a questão da filha. Cheguei a pensar que ela não iria aceitar a garota, ou que tentaria matar ela, mas sabe como é amor de mãe, sempre gosta do filho. Imagine a seguinte questão, a criança quando crescesse perguntasse para a mãe como que ela conheceu o pai e quem ele era. A mãe responderia, seu pai me sequestrou e me estuprou, tivemos você, consegui mata-lo e voltamos a liberdade. Engraçado que a legislação brasileira a um tempo permitia que a mulher que sofresse estupro e engravidasse, poderia casar com o estuprador e ele ficaria livre de problemas penais, só tinham que ver a idade. Tal aberração foi criada para evitar a desonra da família. Tem momentos que não entendo a mente humana, se são burros de nascença ou que viram com o crescimento (apenas físico, mas não mental). Tal dispositivo do casamento com estuprador ainda existe em outros países, teve até um caso de uma garota que se matou para não casar com o lixo humano.
A criança nasceu e cheguei a cogitar que o Maníaco iria se humanizar só que me lembrei do relato do passado dele, quando ele falou da sua relação do padrasto e sua mãe. Acho Freud gostaria de ter estudado ele antes de virar um assassino, para quem conhece o estudo dele sobre este aspecto. O Maníaco nem se importava direito com o neném, sofreu até morrer. Quando ele a largou no ar, caramba, deu vontade de atravessar o livro e acabar com o sujeito. Quem não gosta de criança, são os seres mais bonitos que existem. A neném morreu por descaso do maluco, sofreu e chorou sem poder contar com ajuda, já que Annie não tinha os conhecimentos médicos necessários. E como se não fosse o suficiente, ainda queria outros filhos em seguida. Foi boa a morte dele, só que foi algo muito simples. Ele matou até o patinho que não tava fazendo nada de ruim.
Ela retornou a vida e foi o centro das atenções. Fiquei me perguntando o que ela tinha mais a falar depois de ter relatado tudo aquilo. A autora nos surpreende com a bomba final. Quem orquestrou tudo. Ninguém menos que sua mãe. A relação entre elas duas era complicada, isso era inegável. E também acho que não justifique o fato dela ter passado por problemas na juventude, o lance da irmã dela ter transado com o padrasto e jogado a culpa nela, onde ela foi expulsa de casa. E acabou se casando com um cara que não tinha um bom futuro pela frente. Isso nada justifica o seu plano inicial, de mandar sequestrar sua filha durante uma semana, para ganhar os noticiários, receber sua filha de volta e ganhar dinheiro em cima disso. Ela não mandou e não teve controle pelo que se seguiu a sua família, mas é responsável. Não é justo ela comparar o pedido de sorvete da sua filha e o acidente, com um sequestro que se seguiu a torturas mentais e físicas.
Você chega a sentir pena da personagem, a sua vida era uma droga. Por fim ela resolveu vender sua história para uma produtora de cinema, e ai conseguira dinheiro para o resto da vida, já que continuar a ser corretora é impossível. E o sonho de virar artista, com seus desenhos, quem sabe não dá certo.
O nome do livro é coerente com o livro. A Annie perdeu sua identidade com o cativeiro, foi roubada e destruída. A Annie de antes morreu lá, o que voltou foi uma completamente diferente, que mesmo com as sessões de terapia, jamais voltara a ser a mesma.
Tenha uma boa leitura.