André Prado 25/01/2012
Albert Camus é genial com seu livro, sucinto, perfeito. Exprime um pouco de todos nós, estranhos no ninho.
Já bati, e ainda bato na tecla de que não há destino, seja guiado por um ser Onisciente, ou apenas a inevitabilidade da vida social, tal qual estivéssemos numa rodinha da gaiola de um rato. Mas essa mesma inevitabilidade, e ironicamente pra quem acredita nisso, é sentida todos os dias. É fácil nos pegarmos perguntando: "poderia ter evitado isso", mas a questão é: "é o que costumamos fazer?". Muitos diriam que é fácil, é apenas mudar as atitudes, muitas delas radicalmente. Porém outra pergunta nos vêm a mente: "isso é realmente necessário?". É fácil estarmos "desplugados" e sentirmos alheios a algum controle sobre a realidade que nos cerca.
Decerto, acabamos nos entregando a esse mecanismo infernal que se chama vida. Somos cidadãos comuns, trabalhamos, estudamos, pagamos impostos, temos amigo(s), saímos com pretensões amorosas, conhecemos pessoas e coisas novas... Tudo faz parte de uma inevitabilidade de nós mesmos. São coisas que nos satisfazem, sendo a curto ou a longo prazo, mesmo se não gostamos realmente. Mas chega uma hora e nos perguntamos: Há mesmo como mudar aquilo que fazemos? Nossa vontade? A primeira resposta que deve vir agora na sua cabeça é: Não. Logo depois vem a negação. Após o desespero. E por seguinte o conformismo.
É certo que, a nossa vida comum, é mais comum do que qualquer outra que imaginemos. Em suma, acabamos sendo comandados por ela, e o sistema nos prende a ela de forma inevitável.
Mersault trabalha como escriturário e é um jovem Parisiense como outro qualquer, é no fundo cada um de nós. Trabalha, paga seus impostos, se relaciona com mulheres, tendo amigos como um vizinho, aquele cara que é companheiro de trabalho, ou mesmo aquela garota que trabalha na loja da esquina. É normal por fora, mas vazio por dentro. Sem ambições, espera a vida apenas acontecer pois ela irá acontecer, e acontece em satisfações imediatas como dormir com uma mulher ou comer um biscoito. Tanto faz casar com Maria, tanto faz se sua mãe morre. Oras, mais cedo ou mais tarde essas coisas irão acontecer não é? De um lado a maior certeza da vida que é a morte, de outro a certeza estatística de que cada um, por mais horrível que seja, tem alguém que nos irá amar. Uma hora, aliás 90% das horas, com certeza dentro de nós bate o conformismo, aquela sensação de tanto faz. Vivemos e morremos, ficaremos tristes por alguém morrer, podem milhões morrer. Mas inevitavelmente, você terá a mesma vida - a não ser que haja um cataclisma apocalíptico, então o descartemos. E nesse cenário de ruínas, e de tristeza, continuaremos nossa vida. Aquela em que sendo julgados estando alheios a tal, e descobrindo o valor das coisas quando perdemos. A vida de Mersault é assim. Me sinto assim muitas vezes.
É um retrato de uma sociedade e um retrato de Camus, retrato de um cenário da época. Com uma infância extremamente pobre, e crescido, vislumbrando várias mudanças sociais e de pensamento, como: Marx e Engels lançando O Manifesto Comunista, Darwin e sua A Origem das Espécies, a explosão da Primeira Guerra, a Grande Depressão e outros acontecimentos que mudariam a visão de uma sociedade, e trariam o vislumbre de que o progresso... não é lá tão bom assim. Até hoje aliás, permeia em nossas mentes esse questionamento.
E inevitável, esquisito como a vida, Albert Camus morreu em um acidente de carro em 1960. Morreu em uma viagem para Paris com amigos, tendo as passagens compradas para ir de trem. Entretanto, por insistência deles, resolveu ir de carro. O carro se espatifou contra uma árvore, ele morreu na hora, apenas ele. É a inevitabilidade da vida aplicada. Nela não há o destino, mas quem disse que controlamos a nossa vida? A nossa satisfação move o mundo, ou o para.
Um grande mérito de "O Estrangeiro" é sua narração em primeira pessoa tal qual um diário, é ser tão curto, e ser suficientemente sucinto para não mais uma página. Albert Camus é genial com seu livro, sucinto, perfeito. Exprime um pouco de todos nós, estranhos no ninho.