Bruna Fernández 24/02/2012Resenha para o site www.LivrosEmSerie.com.brQuando fiquei sabendo do lançamento dessa série do Andrew Lane aqui no Brasil senti um misto de empolgação e decepção. Empolgação porque eu sou vidrada nas histórias do Conan Doyle – criador do Sherlock – e adoro o personagem e uma certa decepção prévia, por simples medo de estragarem a infância de um personagem tão amado pelos leitores de romances policiais. Mas acho injusto julgar uma obra sem ao menos ter lido – ou tentado ler – então resolvi encarar a leitura e, pra variar, não me arrependi.
Como o próprio autor destaca em uma nota ao final do livro, Conan Doyle nunca falou muito da infância de Holmes. Tudo o que nós sabemos, através de seus quatro romances e inúmeros contos, é que Holmes tem um irmão mais velho, Mycroft, e possue toda uma forma peculiar de organizar seus pensamentos e deduções. Mas nunca soubemos como ele se transformou nesse exímio detetive. É exatamente isso que Andrew Lane tenta destacar na primeira aventura dessa série.
Nos deparamos com um Sherlock adolescente, apenas 14 anos, e que ainda não possue o cérebro afiado que conhecemos. Ele chega a ser um garoto quase comum, o que dá uma sensação estranha para quem já leu alguma obra de Conan Doyle. Ele estuda em um colégio para meninos e tem que passar as duas férias na casa dos tios, dos quais nunca conheceu pessoalmente, pois seu pai foi viajar, sua mãe está muito doente e seu irmão mais velho, Mycroft, trabalha em Londres e não pode ficar com ele. Como qualquer adolescente quando é forçado a fazer algo que não deseja, Sherlock se mostra contrariado. Porém, não de forma revoltada e insolente como muitos adolescentes do século XXI fariam, afinal, a história se passa por volta de 1860 e o autor torna o ambiente muito verossímil à época.
As férias de Sherlock prometem serem as piores de sua vida: os tios são esquisitos e a empregada da família, Sra. Eglantine, parece estar pronta a fazer o dia a dia do jovem o mais completo inferno. Mas logo Sherlock faz uma amizade com um garoto de sua idade chamado Matty Arnatt, que presenciou uma morte muito estranha e misteriosa, afirmando ter visto uma “nuvem negra”. Depois de formar essa amizade, o jovem Holmes descobre que seu irmão contratou um tutor para suas férias, um americano chamado Amyus Crowe. Durante a sua primeira lição com o professor, Sherlock encontra um corpo e presencia a mesma “nuvem de morte” que Matt descrevera a ele. A partir daí, a aventura se desenrola.
A figura de Amyus Crowe evidentemente funciona como um mentor para Sherlock, pois é ele quem ensina o garoto a pensar, a usar a lógica e o raciocínio – marca registrada do detetive quando adulto. Espero que o tutor apareça nos futuros livros e continue a moldar a mente do jovem detetive, que já no final do primeiro livro está bem diferente de como começou. Outra personagem que entra nessa aventura ao lado de Sherlock, Amyus e Matty é a garota Virginia. Filha de Amyus, ela é diferente te todas as garotas que nosso jovem protagonista conhece: usa calças, monta em sua égua como se fosse um homem e possue atitude de sobra. Consigo imaginar Sherlock se apaixonando por ela e acabou perdendo-a de alguma maneira, pois se a premissa do autor é mostrar como se formou o caráter de Holmes, é a melhor explicação para a solidão do detetive em sua vida adulta.
Pra quem é fã do detetive, essa série promete e é leitura obrigatória! Quem conhece a obra de Doyle notará pequenos detalhes de Lane que se amarram com os romances mais antigos de Sherlock Holmes, provando que a ideia do autor de nos mostrar um infância mais próxima o possível da “realidade” de Holmes foi muito bem trabalhada. Se você não gosta do detetive ou nunca leu nada a seu respeito dele, essa é uma ótima oportunidade para fazê-lo. Acrescento ainda que é uma ótima escolha pra quem gosta de livros de mistério e muita ação.