Renata CCS
11/08/2015E para não dizer que não falei das flores
"Não sou sempre flor. Às vezes espinho me define tão melhor. Mas só espeto os dedos de quem acha que me tem nas mãos."
(Clarice Lispector)
Clarice Lispector poderia facilmente ter buscado inspiração em Victoria Jones quando escreveu as palavras acima transcritas. A protagonista de A LINGUAGEM DAS FLORES é uma figura difícil para se gostar e compreender. Teimosa, mal humorada e sempre desconfiada, ela procura manter-se o mais longe possível do contato humano. Cresceu entre abrigos e lares adotivos, até ficar por sua própria conta ao completar 18 anos. Mas por trás da cara de poucos amigos e da forte personalidade, há uma jovem sensível e desconhecida até mesmo de si própria. Seu dom com as flores é uma prova disso.
Os capítulos vão alternando entre passado de Victoria, quando ela tinha 9 anos e conheceu Elizabeth, dona de um vinhedo nas proximidades de São Francisco, que não apenas foi a única mãe que Victoria conheceu, mas que lhe ensinou tudo sobre a esquecida linguagem das flores, e o seu presente, já emancipada, trabalhando em uma floricultura, encantando os clientes com seu talento para arranjos e palpites certeiros. E é neste momento que ela acaba se reencontrando com fantasmas do passado e tem a chance de reparar antigos erros e, claro, cometer novos.
É uma história sem heróis ou vilões. São apenas pessoas comuns, que cometem erros e acertos, e acabam aprendendo com todas essas experiências, tentando encontrar seus respectivos caminhos para a redenção.
A LINGUAGEM DAS FLORES é um livro sobre amor, perdão, amizade, família, mas, acima de tudo isso, de autoconhecimento, de amor-próprio e da capacidade de perdoar a si próprio, mesmo quando lutamos ao contrário. Um belo relato sobre a vida e as relações humanas.
Uma leitura simples, delicada e de qualidade, e também intensa de sentimentos.