Aegla.Benevides 13/07/2021Sur(real) demaisÚnico romance de Murakami em que a personagem principal não é um homem, Minha querida Sputnik aborda temas sensíveis e cada vez mais comuns na nossa realidade, como a solidão, a obsessão e os relacionamentos conturbados, com uma pitada de surrealismo que faz toda diferença.
O narrador é K, um professor universitário (sem graça) que é apaixonado por sua melhor amiga Sumire (a excelentíssima personagem principal). Sumire é uma jovem que adora livros e que largou a faculdade para se dedicar à vida de escritora ? vida essa que não vemos se concretizar na história. O enredo começa quando Sumire se apaixona por Miu, uma empresária casada e mais velha, e começa a viver em função dela.
Nas poucas páginas desse romance, vemos uma autodescoberta que foge do padrão da maioria dos enredos LGBTQIA+ e conseguimos sentir, durante a leitura, cada sentimento que desabrocha em Sumire ? ainda que o narrador seja K. Vemos a personagem principal dar passo a passo em direção à perdição, que se concretiza nos 30% finais do livro de forma esplendorosa.
Foi minha primeira experiência com Murakami e fiquei fascinada, pois não conhecia o surrealismo do autor. Enquanto insere elementos mágicos (ou espirituais?) na história, ele mantém o tom do enredo natural, como se nada de estranho tivesse acontecendo, e deixa que o final seja imaginado pelo leitor. Definitivamente, uma das melhores experiências literárias que já tive na vida.