Lurdes 30/06/2022
O subtítulo "Estudos para a composição do cansaço" já entrega muito do que vamos encontrar nos 14 contos do livro.
As narrativas têm, em comum, personagens afetados por circunstâncias que sugam suas energias, sua razão ou sua humanidade.
O cansaço pode ser físico, como mental, espiritual. Individual ou coletivo.
Acompanhamos desde o dono da loja em que não entra nenhum cliente, no conto Exílio, ou do desempregado que consegue um trabalho insólito, de acompanhar uma cachorrinha a uma Pet shop para fazer um tratamento veterinário, em Para salvar Beth.
A maioria das estórias flerta com o fantástico e o surrealismo, como em Crocodilo I e Crocodilo II, em que o protagonista precisa conviver com um Crocodilo que se aloja em suas costas causando sensações de desconforto, mesclada com proteção e bem estar ou em Hereditário, em que um pai deixa de herança para seu filho uma caixinha com algo que vai "grudar" no filho, junto com lembranças e uma sensação de desamparo e tristeza, a mesma que acompanhava seu pai.
Um dos meus contos preferidos foi A Cura, em que o autor expõe o desamparo e cansaço de toda uma comunidade, supostamente atingida por um vírus, que os isola do resto da sociedade, e os leva a viver em condições sub humanas. Uma crítica social contundente, com ares de Ensaio sobre a cegueira, de Saramago.
Gostei de todos os contos e foi uma grata surpresa.
Fiz a leitura junto com minha filha, já que ela vai prestar vestibular e o livro é uma das leituras obrigatórias da UFRGS.
Uma leitura muito prazerosa e enriquecedora.