Wtl 05/03/2024
Você acha que as pessoas chegarão a aprender algo?
Não sei.
O que faz uma história sobre uma América pós-apocalíptica qur foi assolada por uma super gripe, uma luta entre o bem, liderado por uma velha eremita de 108 anos, e o mal, liderado por um estranha figura que causa medo e caos à sua volta, ser tão interessante ao ponto de fazer milhares de leitores ler essas mais de mil páginas???
- Tudo. Personagens, relações, ambientação, tudo aqui é feito de uma forma muito cativante.
A Dança da Morte (ou The Stand) é o quarto livro publicado por Stephen King, originalmente em 1978 e mais tarde é publicada a versão extendida do já grande livro. O corte da versão original foi feito porque a editora não ia conseguir aguentar os preços de produção deste e dos demais livros que o King já havia publicado anteriormente. King vai lá, remove 400 páginas e publica assim. Essa versão com o corte sai de circulação assim que é publicada a versão extendida, que é essa que todos têm em mãos hoje em dia.
E do que se trata a história, Wtl??? Eu já resumi bastante na pergunta inicial, mas vou tentar novamente:
> uma super gripe, criada em um projeto secreto, é disseminada por incompetência do governo e acaba por ser responsável pela morte de 99% da população;
> mas aquele 1% são pessoas que por algum motivo não foram afetadas pela gripe e agora tentam se recuperar de tal problema, procurando outros possíveis sobreviventes;
> a jornada toma um rumo quando a maioria dos sobreviventes começam a sonhar com duas coisas:
1 - uma velha sentada num alpendre que emana paz e segurança nesse mundo devastado;
2 - um pesadelo com um homem escuro, cujo sorriso é capaz de causa calafrios à quem ver;
> dessa forma, os sobreviventes que sobraram, começam a se juntar em torno dessas duas figuras, que os alerta sobre uma batalha futura que decidirá a vida desses sobreviventes para bem ou para mal: trazendo novamente a velha luta universal entre o bem e o mal mais uma vez.
O resumo ficou bom? Não sei. Mas acho que deu pra entender a premissa.
Agora vamos falar dos 3 pontos que achei mais interessantes nesse gigantesco livro. Começando pela ambientação.
Para falar sobre a ambientação, temos que falar sobre a super gripe o ponto inicial dela:
A super gripe que o King criou é assustadoramente preocupante e facilmente associável com a covid que tivemos a quase 4 anos atrás. Uma gripe que começa como qualquer outra, mas ela escala tanto que leva rapidamente à morte quem a pega. E a propagação é feita mais rapidamente ainda. Uma gripe que sofre tantas mutações que é impossível criar uma cura antes do paciente morrer. E as mortes não são dignas. Os mucos que o pessoal espalha quando doentes é enorme, as caras ficando roxas por asfixia do muco também e por fim a inevitável morte por uma febre dos tártaros é o que acontece com a maioria dos infectados. Lendo hoje em dia, a primeira associação que fazemos ao ver a Capitão Viajante é associar-se com a Covid-19. Ler isso é lembrar sobre aquele 1 ano e meio de medo de morrer por uma doença respiratória tão parecida com a gripe, de perder nossos familiares por causa disso e de ver que todos os dias a lista de mortos aumentava mais e mais... felizmente a mesma taxa de contaminação da Covid não era a mesma da taxa de mortalidade e ainda estamos vivos.
Sabendo sobre a gripe, a ambientação desse livro é muito boa. Começamos em um mundo normal, um mundo do dia-a-dia, mas depois do incidente da super gripe, tudo muda. Cidades ficam desertas, carros ficam jogados no meio da rua, a eletricidade some (o que é terrível pra mim) e faz com lugares antes iluminados, agora fiquem num breu absoluto. A parte dos túneis que Larry Underwood e o Homem da Lata de Lixo devem passar é tenebrosa, de longe a parte mais memorável para mim, graças à toda a tensão criada pelo King durante a travessia solitária dos dois. O cheiro de putrefação é recorrente agora e os sobreviventes se acostumaram a isso: morte é o cheiro padrão da humanidade.
Além das cidades desertas, o King é muito feliz em descrever as viagens dos sobreviventes. Desertos, estradas cheias de carros, montanhas e túneis são cenários que sempre aparecem no início do livro enquanto os sobreviventes não tem um local fixo para ficar e quando eles são forçados a enfrentar o mal. E caramba como é bom ler essas viagens. Principalmente a parte do Larry seguindo as pistas de Harold Lauder pra saber onde deve ir: adoro essas partes.
O que pode ser melhor que a ambientação desse livro??? Os personagens. E a maioria são relacionáveis e faz você sentir um apego por eles. Um elogio que faço sempre aos livros do King é que os personagens me fazem sentir que eles são pessoas reais: em todos os livros dele que li até agora, eu sinto isso. E aqui não é diferente. Personagens como: Stu Redman, Fran Goldsmith, Nick Andros, Harold Lauder, Larry Underwood, Mãe Abagail todos eles são construídos de forma primorosa. Todos tem erros e acertos, aprendem com seus erros, ou se perdem por causa deles, todos sofrem com a morte de alguém querido, sentem saudades de tempos mais tranquilos, amam uns aos outros e, enfim, todos tem uma substância que faz eles serem mais humanos, graças à escrita do King.
Graças a esses personagens, você não se sente sozinho nesse mundo já devastado. Acaba por criar sentimentos por eles, a se importar com o destino de cada um. E aqui entra a parte sentimental desse livro. Aqui você sente mil e uma sentimentos diferentes durante a leitura. Senti felicidade, amor, paz, tranquilidade, raiva, medo, pena e mais algumas que não senti tanto porque sou um robô e não sei falar muito sobre sentimentos. E sim, mesmo eu sendo um robô, eu senti raiva de alguns personagens, torci pra que alguns personagens não desistissem da vida difícil de agora, fiquei feliz por terem evoluído como gente e quase suei pelos olhos em diversas situações, o que quase fez meus circuitos queimarem...
Mas o livro só fala sobre o lado do bem??? Não, o lado do mal é visto também. Liderados pela figura sombria, o pessoal do oeste são organizados, trabalham o dia inteiro e todos ligados por um único sentimento: o medo. Do lado do mal, posso falar sobre Lloyd Henreid, O Garoto e o Homem da Lata de Lixo (o mais interessante antes do Flagg).
Então o lado do mal é mais tranquilo, eles não precisam se esforçar ou tiveram que sofrer pra estarem ali, certo? E a resposta é um grande não. A maioria que a gente acompanha do lado do mal tiveram que passar por muitas provações até chegarem no oeste ou se encontrarem com Flagg. Lloyd teve que quase morrer de fome preso por causa de um crime que cometeu, beirando ao canibalismo por uma carne podre de humano, pra não morrer de fome; o Homem da Lata de Lixo teve que passar por muitos maus bocados antes de chegar em Las Vegas... e que caminho difícil ele teve que passar. Aguentar O Garoto foi terrível. Principalmente depois daquela cena traumatizante da pistola... definitivamente uma das cenas mais memoráveis. Mas O Garoto teve seu final digno por suas maldades.
Ou seja, os personagens aqui são bons. Não só o do lado do bem, mas o do mal todos são bem construídos (bem, a maioria é).
E o responsável por toda essa luta pós-apocalíptica é o ser que mais se destaca nesse livro e o principal vilão: o homem de mil nomes e títulos, Randall Flagg, o Homem Escuro.
Randall Flagg desde sua primeira aparição é um cara do mal. Conhecemos ele enquanto faz um assassinato e depois começa a falar que a hora dele está chegando depois desse apocalipse: a hora dele tomar tudo. Um homem de muitos poderes, capacidade de ver a maioria dos personagens, capacidade de se comunicar nos sonhos, alto nível em persuasão e manipulação, capaz de provocar o medo com sua simples presença, capaz de aparecer e desaparecer a qualquer momento em algum lugar e um eterno andarilho, é o melhor vilão que o King já escreveu. Indiscutivelmente. O cara é muito carismático, realmente carrega o livro pela sua simples presença e a maioria das cenas onde ele aparece são carregadas de simbolismos, segundas intenções e uma aura densa de maldade. Randall é o mal puro, mesmo não sendo o próprio diabo... mas assim como o diabo, utiliza-se das escrituras para tentar persuadir pessoas para o seguir. Simplesmente incrível.
Por fim, A Dança da Morte é uma grande alegoria ao cristianismo e a luta entre o bem e o mal que será travada no final dos tempos, caso os oprimidos fossem atrás dos opressores. Mãe Abagail é a voz de Deus entre esse povo e Flagg é a imagem do diabo entre os inimigos. Essa eterna luta sempre nunca vai ter um fim, desde que existam humanos para continuá-la. O pessoal vai aprender uma hora ou outra que é uma luta eterna? Não sei.
Obrigado por ler até aqui. A resenha não ficou como eu queria, faltou muita coisa, mas consegui escrever até ficar agradável em minha vista distorcida por zeros e uns da programação. Quando eu criar um blog escrevo mais sobre personagens e situações desse livro, porque ainda tem muito pano pra manga.
Essa foi uma das melhores experiências que já tive com um livro. Fiquei viciado e desenvolvi o hábito de acordar cedo pra ler. Sim, eu sacrifiquei meu sono pra saber como a história desse livro ia terminar. Apesar dessas noites mal dormidas, foi um feito muito bom de minha parte. Esse entra pro meus favoritos do King: ao lado de O Cemitério. Recomendo a todos que gostam de Stephen King e que gostam de uma boa história. Leiam, leiam esse livro e tomem muita vitamina C pra não ficarem gripados durante a leitura dessa obra.