spoiler visualizarfellipe! 12/10/2012
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Através dos relatos do personagem Roquentin, embarcamos numa história que
reflete sobre o significado da existência. O personagem que acompanhamos é um
historiador que vem a cidade de Bouville atrás de fontes para seu retratado,
Rolebon( lembrar nome); o fato é que conforme vai se vivendo e pesquisando
sobre esse homem, Roquentin se vê voltado de questões que ajudam a formular
mais visões pessimistas- como fica claro, Roquentin é uma projeção do próprio
Sartre e sua filosofia existencialista.
No decorrer da história, que é contada em 1° pessoa, somos apresentados a
diversos personagens que são descritos pelo próprio personagem principal, ao
mesmo tempo que presenciamos suas impressões. Um dos personagens
interessantes é o autodidata, um estudioso que permanece muito tempo na
biblioteca que Roquentin estuda, e é o oposto do protagonista em diversas coisas,
um bom exemplo para acentuar isso é o caráter humanista do autodidata, um
positivista que acredita nos homens, que fica explicito no ótimo momento a qual
roquentin e ele se debatem num bar- um dos pontos altos do livro aliás. Há ainda
uma sugestão quanto a uma sexualidade reprimida do autodidata, que parece ter
uma pequena queda por jovens mais novos. Uma sutileza que deixa quase óbvio
os desejos pedófilos do coadjuvante.
Outra personagem interessante que desencadeia um dos momentos marcantes- e
tristes- do livro, é o reencontro de Ronquentin com sua amada: Anny, depois de 4
anos. O encontro é marcado por diálogos secos a qual ela tenta mostrar o quanto
é desnecessário e o quanto não faria diferença um amor entre eles, fazendo com
que Ronquentin se sinta ainda mais vazio.
Aliás, deixei a melhor parte para o final, que são as minhas impressões a essa
excelente obra de Sartre: a questão do vazio da existência. Ronquentin é só uma
projeção do autor, um símbolo que de certa forma simboliza não só as angústias
do autor, mas de toda a geração. Ele reflete muito sobre até qual ponto podemos
ter acesso a consciência, sobre as banalidades do cotidiano que
são “desvaziadas” por manifestações artísticas que nos tocam- e que também
achamos que nos preenchem, quando na verdade nos entorpecem- Ronquentin se
sente profundamente tocado pela canção “Some of theses days”, acentuando sua
importância transcendente, que imortalizou o momento artístico de um ser, que
mesmo através dos arranhos no vinil tiram o embalo de sua ritmica.
Esse livro, de certa forma, sintetiza os anseios do homem moderno: cada vez
mais individual, longe do coletivo, o homem se fecha para si, e não encontra nada-
quer dizer, encontra “O” nada-, o que é pior. Um homem não idealista e deveras
racional, frio, de certa forma. Essa obra “ A Náusea” é, com certeza, um dos
semblantes oficiais do homem contemporâneo.