A montanha mágica

A montanha mágica Thomas Mann




Resenhas - A Montanha Mágica


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Gustavo 11/01/2022

Tem o teu próprio tempo
Tua narrativa difere do convencional e ainda mais com o tradicional de hoje. Como em muitas resenhas que vi e concordei com todas, o livro tem seu próprio ritmo e tempo, o que o enriquece mais ainda quando você compreende isso.
É incorporado na história bastante diálogos do estilo: "essa peça de roupa ta úmida ou só ta fria?", E não é chata de maneira alguma, da peso e camada pro ambiente e pros personagens.
Tem um certo quê" de mistério (pelo menos para mim) todo o ambiente .
O nosso querido Hans é um cara meio sem sal, meio no muro, meio sem posição, e o que a gente vê ao decorrer so livro são situações que moldam seu caráter e que o formulam como pessoa. Thomas Mann escreveu esse livro ao longo de anos, o que as vezes da a sensação de uma diferença de narrativa, mas não só isso, acredito que traz mais substância, mais sabor aos personagens, um deles é Settembrini assim como Naphta, duas vertentes que ajudam na construção do nosso protagonista.
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Fabio Shiva 31/05/2014

Não é Hesse
Raras vezes fiquei tão feliz ao terminar uma leitura. Essa montanha me deu mesmo uma canseira! Não restam dúvidas de que se trata mesmo de um grande livro (em todos os sentidos, com suas quase 900 páginas em letra miúda!), uma obra-prima da literatura mundial... mas foi um desses que gostei mais de ter lido que de ler propriamente.

O problema todo é que escalei a maior parte da montanha mágica brigando com ela! Confirmei nessa leitura a primeira impressão que tive do Thomas Mann ao ler “A Morte em Veneza”: um alto intelectual, de senso estético apuradíssimo... e no entanto cego espiritualmente! Mann incorre no mesmo erro de ilustres contemporâneos como Aldous Huxley, iludido pela pretensa primazia da razão propagada pela ciência e filosofia européias no início do século XX: confundir “mente” com “espírito”. E daí o fato de aproximadamente 500 páginas das 900 que compõem “A Montanha Mágica” e que fazem a alegria dos eruditos, envolvendo sutis discussões filosóficas, foram para mim uma grande provação, páginas que li com a sensação de estar desperdiçando tempo... pois não encontrei verdade ali, apenas estéreis divagações.

Uma ideia que tive ao assistir “Ninfomaníaca” do Lars Von Trier voltou com muita insistência durante essa leitura: penso que Deus escolhe algumas pessoas, a quem concede grande inteligência, sensibilidade e talento, mas ao mesmo tempo oculta-Se inteiramente dessas pessoas... como se Ele quisesse ver o que suas talentosas crianças cegas criarão no mundo! Por isso acho que Deus gostou de “A Montanha Mágica”, assim como gostou de “Ninfomaníaca”...

Já eu não gostei nem um pouco foi da inclusão de dez páginas de diálogos em francês, bem no meio do livro. Desconfio que essas páginas ajudaram muito na boa reputação de “A Montanha Mágica” entre os literatos, pois sempre há quem busque na literatura uma forma de se sentir superior aos outros. Pois bem, meu francês autodidata me permitiu ler essas dez páginas (e que boa surpresa descobrir que o próprio Mann se considerava também um autodidata), embora não, certamente, apreciar a sutileza de Hans (herói da história) falando francês como se fosse alemão... achei um esnobismo desnecessário. Se o autor achava fundamental ter essas páginas em francês, a decência deveria tê-lo obrigado a colocar esse trecho no início do livro, e não depois da página 400...

Felizmente fiz as pazes com a Montanha Mágica antes do final da leitura. Gostei de ter lido e recomendo a todos interessados em se aprofundar na literatura, mesmo com todas as ressalvas que fiz. O livro tem grandes méritos e é realmente muito bem escrito. O problema todo é que Thomas Mann não é Hermann Hesse! Sofri com Mann a mesma decepção que tive com Kafka: ele é bom, é até genial, mas não é nenhum Hesse... Quem quiser saber quão profundo pode ser um olhar ocidental, que leia Hesse! É o que eu mesmo vou fazer: não pretendo ler mais nenhum alemão antes de esgotar toda a bibliografia de Hermann Hesse!

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arlete.augusto.1 12/05/2021minha estante
Estou na página 530 e sentindo que todo aquele debate filosófico poderia bem ser simplificado, achei sacal. Quanto às páginas em francês, como não lembro coisa alguma, mesmo com a tradução no rodapé - que tem na minha edição, que é a última, muito bonita-, a gente acaba perdendo o ritmo do diálogo, poderia ter sido traduzido em português com a citação que conversavam em francês, idioma que a Clawdia fala melhor do que o alemão.
Vamos ver o que acho ao final do livro.


Fabio Shiva 13/05/2021minha estante
Oi Arlete, valeu por seu comentário! Muita gente considera "A Montanha Mágica" o melhor livro de todos os tempos, o que mostra como tudo é mesmo relativo. Sua edição com a conversa traduzida é bem mais decente que a que li, com certeza! Viva a Literatura!


Ana Paula Avila 17/04/2022minha estante
Estou a quase 1 ano ?sofrendo? com essa leitura, mas me recusando a abandoná-la pois acredito que sobrará algo de bom no final, e lendo sua resenha sei que assim será. Obrigada por me ajudar a não desistir (sim, esse pensamento passou pela minha cabeça rsrsrs). ??


arlete.augusto.1 21/04/2022minha estante
Persevere! Vale a pena!


Fabio Shiva 02/05/2022minha estante
Oi Ana Paula! Depois comente suas impressões da leitura, ok? Arlete, que massa o seu incentivo!


Jonas.Doutrinador 08/06/2022minha estante
Terminei a leitura tem pouco tempo e estou me preparando pra fazer a resenha. Concordo com a questão do francês e acredito que sua decepção com Mann e Huxley é porque você esperava algo espirituoso de grandes racionalistas que tinham em seus retrovisores o século XIX. Creio que nós ocidentais ainda engatinhamos em fazer a fusão racional/espiritual. Creio que para isso precisemos de beber mais de fontes orientais.


Adriana 19/07/2022minha estante
Maravilhosa resenha ????????




Daniel.Prattes 23/04/2022

Discussões filosóficas como pretextos para reflexões, digressões, sobre vários aspectos da vida tão inusitados quanto heterogêneos. A obra apresenta-se como uma viagem do protagonista, afastado da realidade, do espaço e do tempo, numa espécie de bolha que constitui um sanatório de altitude situado na Suíça no início do século XX, pouco antes da Primeira Guerra Mundial . No alto da “montanha”, em seus últimos momentos de uma paz precária e comprometida pelo comportamento suicida das sociedades ocidentais, os pacientes do sanatório se ocupam da dialética e de jogos inocentes.

O protagonista, Hans Castorp, uno, nos é apresentado e então subdividido e vivificado em seus companheiros no sanatório. Castorp é o estranho que aos poucos é assimilado pela construção robusta sobre a montanha e então desconectado da realidade do mundo. Acompanhado por Ludovico Settembrini, pedagogo e escritor democrata e por seu notável oponente Léon Naphta, um obscuro jesuíta, medieval, teocrata e cínico - cada um convencido de seu lado de estar absolutamente certo -, e também pelo médico Behrens, cáustico e pragmático.

Doente, Castorp se espraia por seu leito e permite que a doença o situe no mundo, procurando pela honra em estar convalescente – qualquer significância para a sua existência diante da morte. Os pacientes são sombras da importância que dão a si mesmos, aprisionados no conformismo que a doença, que os come por dentro, a eles impõe.
Uma crítica ácida e cheia de ironia de Thomas Mann aos ricos europeus que gastavam rios de dinheiro em tratamentos de eficácia duvidosa, enquanto corroídos pelo ócio que depreendiam como sintoma da riqueza.

Exige paciência e exige do leitor esforço para enfrentar o enfado de seu leito e participar de uma conversa que atravessa o século a respeito do que constitui o homem-social.
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ekundera 22/06/2021

?Quando um dia é como todos, todos são como um só?
Certamente eu li mal, mas essa leitura se arrastou infinitamente e me deixava sonolento sempre que eu retomava. E como não há grandes acontecimentos, a letargia ia tomando conta e parecia que o tempo não rendia nunca. O incrível é que a introdução do livro faz a gente ansiar pela a história, com um narrador que se inicia com uma forma de comunicar bem instigante. Infelizmente esse sentimento não permaneceu ao longo da história e me desencorajou a enfrentar essa batalha diária.
Gleis 23/06/2021minha estante
Ao ler essa obra, tive esse mesmo sentimento... Uma leitura que não flui...?




Diego Vertu @outro_livro_lido 10/12/2021

O tempo, A doença, A filosofia, A morte, A guerra... Uma mistura disso tudo.
O livro narra as histórias de Hans Castorp, um jovem engenheiro alemão que vai fazer uma visita a seu primo Joaquim a um sanatório (entenda-se sanatório como um lugar que trata tuberculosos) na cidade de Davos, nos Alpes Suiço. O narrador narra a vida de Castorp dentro do sanatório suas amizades, seu amor por Claudia Chauchat e as eternas conversas e discussões filosóficas com Settembrini e Nafta. Outro protagonista também é o Tempo, que na montanha passa de uma maneira diferente.
Gostei da leitura do livro, Thomas escreve de maneira brilhante mesmo fictício retrata muito bem a sociedade do início do século XX e ao mesmo tempo conseguimos sentir o peso do termo "Mágico" do título da obra. Gosto muito das descrições espaciais do livro, onde é possível sentir as variações climáticas e principalmente na parte do rigoroso inverno e da neve. Também há várias reflexões filosóficas no decorrer do livro, principalmente pelos embates entre o humanista Settembrini e o jesuíta totalitário Leo Nafta, mostrando pontos de vistas de diferentes assuntos como a morte, a política e outras questões. É um livro grande de quase 900 páginas e letras pequeninas que demorei quase 2 meses para ler, ai que entra um ponto negativo: muitas reflexões filosóficas deixando a leitura muito arrastada em vários pontos.
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PRETO 26/08/2022

Depois de 7 meses (ironicamente), chego ao fim da história do nosso já conhecido Hans Castorp. Muitas experiências no alto da montanha. Obrigado pela companhia, Sr engenheiro.
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Fabio.Nunes 03/05/2022

Tedioso, árduo, com pinceladas geniais
Se Thomas Mann tinha como intuito fazer o leitor se entediar a ponto de ganhar a consciência da passagem do tempo ele conseguiu.
Já é o segundo livro do autor que leio e confesso ter tido a mesma dificuldade em ambos: a narrativa não empolga.
Não que um livro tenha que ser empolgante como regra, não. Mas ele não precisava ser tão recheado de digressões a ponto de te fazer desistir da leitura.
Há passagens geniais em que vc realmente se empolga, devido à forma como o autor te transporta para conceitos filosóficos, principalmente os relacionados ao tempo. Mas essas passagens são como pequenos oásis num grande deserto.
Confesso que só terminei a obra por puro brio.
Vários capítulos tive de ler de forma atravessada, de maneira a não me desencorajar.
Foi uma das maiores frustrações literárias, pois que minhas expectativas eram altas.
Finalizando, aqui deixo meu conselho: só leia se vc tiver brios, pois a aventura é longa e difícil.
Não recomendo.
Kemilão 04/09/2022minha estante
Justamente kkkkk




Ellie 03/04/2022

Relato minucioso
Impressiona os mínimos detalhes descritos. Muda minha visão em relação a doenças no geral e como podemos ser solícitos em apenas ouvir e dar atenção a quem está inteiramente sozinho. A alguns exageros nos detalhes mas não compromete o todo.
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Noemia 01/10/2022

Hans Castorp, o enfermiço e cândido filho da vida.
Com intenção inicial de visitar um primo, o jovem Hans Castorp sobe a montanha do sanatório Berghof para tuberculosos e, após ter sua saúde afetada, se entrega à uma vida horizontal até se desconectar completamente da planície. Assim se inicia a história de A Montanha Mágica.

Nesse lugar elevado, ele conhece personagens inesquecíveis: os rivais Settembrini e Naphta, que representam os intelectuais de lados opostos que dão a vida por suas ideias, em relação aos quais Castorp passa de aluno passivo à interlocutor ativo e questionador; o hedonista Peeperkorn, homem de envergadura que não tem muito a dizer, mas que tanto ensina com suas pequenas futilidades e sua paixão em aproveitar a vida; os olhos quirguizes de Clawdia Chauchat, que despertam em Castorp um amor ardente e ingênuo, bonito porque sincero; e convive longo tempo (seja lá o que isso signifique) com seu primo Joachim Ziemssem, homem profundamente ligado ao dever de luta na planície.

A vida que para Castorp estava encaminhada como engenheiro naval é então substituída pelo dia a dia do sanatório. Neste tempo, que se apresenta de forma totalmente distinta, se estendendo e encurtando segundo suas leis incompreensíveis, ele evolui de um jovem inexperiente, medíocre, ingênuo e de mente simplista a alguém com opiniões próprias, relativamente maduro, curioso pelos mistérios da vida e da morte, do universo, do corpo e do espírito. Longe do mundo "real", conhece os lados sublime e vil do ser humano e se entrega a si mesmo, aos mais profundos sentimentos e reflexões e ao prazer da arte.

Até o  mundo lá de baixo lembrar a ele e a todos nós que, por mais que questionemos o relógio e tentemos escapar ao tempo, ambos seguem existindo fora de nós.

PS: este livro é um mundo e esta resenha é apenas uma versão encurtada e sem spoilers da que fiz quando acabei a leitura.
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Diego Rodrigues 16/04/2021

"Aqui não há tempo nem vida" - Um romance sobre o tempo e a morte
Em 1912, Katia Mann, esposa do renomado escritor alemão Thomas Mann, foi internada em um sanatório de Davos, na Suíça, para tratar de um caso de tuberculose. Naquele mesmo ano, inspirado em uma visita que fez ao local, Thomas Mann começou a escrever a obra que viria a se tornar uma das mais influentes da literatura mundial. Doze anos e uma guerra depois, "A Montanha Mágica" foi finalizada e, finalmente, publicada. E cinco anos mais tarde, em 1929, Thomas Mann venceu o Prêmio Nobel de Literatura e entrou de vez para o hall dos maiores romancistas da história. "A Montanha Mágica" é um romance de formação que vai nos contar a história de Hans Castorp, um jovem órfão que está prestes a iniciar sua vida adulta e que decide, por recomendação médica, tirar um pequeno período sabático nos Alpes suíços, mais precisamente no Sanatório Internacional Berghof, local onde seu primo, Joachim, está internado para tratar de uma doença pulmonar. Mas, ao chegar no sanatório, Hans descobre que ali "não há tempo nem vida" e as três semanas que ele pretendia passar nas montanhas logo começam a se alongar.
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Os dias vão passando e Hans vai se aclimatando, ou melhor, se habituando ao fato de não se habituar ali em cima. No Berghof tudo é diferente, o tempo, o clima, a vida, nada é como na "planície", e Hans vai, aos poucos, se desintoxicando (ou seria se intoxicando?). Os muitos personagens, pacientes e funcionários do sanatório, encarnam os medos, as aflições, os conflitos e os pensamentos que assolavam a Europa no início do século XX, durante o período pré-guerra. O doutor Behrens e seu assistente Krokowski, o humanista Settembrini e seu rival jesuíta Naphta, a madame Chauchat, o hedonista Mynheer e até o próprio primo Joachim, cada um deles é um enigma a ser decifrado, tanto por Hans quanto por nós, leitores. A narrativa é extremamente existencial, repleta de simbologia e sujeita a longas digressões. Temas como a arte, a filosofia, a política, a religião e o amor são profundamente investigados, mas o maior destaque fica por conta do tempo e da morte, temas centrais da obra.
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Difícil dizer o que "A Montanha Mágica" significou pra mim. Enquanto permanece no Berghof, é como se Hans houvesse se desprendido do tempo e a narrativa é construída de tal forma que o mesmo se dá com o leitor. É um livro que entorpece e causa uma sensação de fuga e de total isolamento do mundo ao redor. Ao final da leitura, é como se nós também tivéssemos ficado internados ali no sanatório, junto de Hans Castorp. Nos apegamos aos pacientes e funcionários do Berghof e nos habituamos ao clima da montanha. E claro, ficamos órfãos quando a história chega ao seu fim. Ao mesmo tempo, parece que nada e tudo aconteceu ali em cima. O tempo realmente esteve suspenso ou era apenas sentido de alguma outra forma? Seria tudo uma analogia ao estado de espírito e psicológico do jovem Hans Castorp?
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A que conclusão cheguei sobre essa história? A resposta é: nenhuma. "A Montanha Mágica" é um livro que não nos leva a uma conclusão clara, não nos dá respostas e sim perguntas. Faz a gente olhar para a nossa vida de certa distância, ou melhor, de certa "altura", e nos possibilita ter uma perspectiva diferente sobre nós mesmos. Reflete muito a bagagem de vida do leitor, talvez por isso tenhamos tantas interpretações diferentes. Thomas Mann dizia que para que a obra fosse minimamente compreendida deveria ser lida duas vezes. Eu iria além e diria que essa é uma obra que deve ser revisitada em diferentes fases da nossa vida. Não por ser um livro difícil, não é, mas por ser extremamente existencial, o que faz com que cada leitura seja única e traga diferentes sensações. Com certeza voltarei a visitar o Berghof algum dia e sei que estarei diante de um novo livro.

site: https://discolivro.blogspot.com/
kaloskagathos 16/04/2021minha estante
???


Pri.Kerche 28/12/2023minha estante
Ótima resenha


Diego Rodrigues 04/01/2024minha estante
Grato pela leitura!


Pri.Kerche 04/01/2024minha estante
Estou lendo esse livro. Sua resenha me ajudou a situar o momento histórico (tanto pessoal do autor qt da Alemanha)




Emily422 10/12/2021

Refletindo da montanha para que todas as almas possam ver.
Antes de começar esse livro tenha em mente que "placet experiri" será o que mais você terá que fazer. Escalar essa montanha envolta em magia não é algo que se deve ter medo, muito menos algo que demande coragem. Para escalar a montanha basta apenas ser um filho enfermiço da vida, e isso é basicamente estar vivo. Enquanto vivos somos incuráveis. Uma coisa é certa: A recepção será muito branda, haverá um tocador de realejo a sua espera. Ele será um doidivanas, inegavelmente, mas ao menos é um de bom coração.

Terminei 'Der Zauberberg'. Nem sei se subi ou se estava devaneando. No final de quê que importa? É uma montanha mágica! Mesmo aqui em baixo posso afirmar que me encontrei em seu topo, vi diante de um mim a planície longínqua, reinei, girei e joguei fora a ampulheta. O protagonista dessa história, quem o sabe? Dizem que é um jovem loiro, paisano, aspirante a engenheiro, reinante, alvo pedagógico e, mais importante, filho enfermiço da vida! Talvez ele fosse um em meio a multidão que corre nas pradarias também... Quem o sabe?! O que de fato se fez notar é que a nossa "tabula rasa" foi sendo preenchida por conta de sua paciência e disposição para aprender. Pela frente, assim como Hans, encontraremos debates complexos envolvendo a dialética que move a história, vez por outra concordaremos com um lado da moeda, depois acharemos o outro razoável, depois perceberemos que na verdade estamos nos contradizendo, e assim repetiremos o movimento.
Não lembro se meu peculiar hábito de refletir sobre minhas mãos se intensificou com a leitura desse livro, mas agora, depois de concluir a primeira leitura, ele certamente ganhou um novo sentido. Um sentido paradoxal e interessante, eu diria. Foi comparando sua mão com a de outra enferma, e também a olhando através de um emissor de raio X e depois vendo seu contorno sobre o contraste do céu que pudemos vivenciar, a partir da percepção de Hans Castorp, o início da era dos extremos. No simples ato de fitar as mãos encontramos a paixão, a carne, os ossos, o túmulo, a vida, o céu, a abreviação, a vergonha, a neve, a lama, a terra, a humanidade, o tempo e, o mais iminente, o desembocar da mais estúpida das ações humanas, a guerra. Thomas Mann encontrou o melhor dos lugares para nosso herói explorar, afinal o que seria melhor do que refletir a narrativa sobre o cume da montanha para que assim todas as almas pudessem ver?

A verdade é que estive no topo dessa montanha nebulosa, encantadora e antiquíssima, mas, na verdade, ainda estou nela, e digo mais: sempre estarei. Meu plano era visitar, junto a Hans, o bom Joachim, e pra essa visita estipulei um mês ou dois talvez. Só que agora, ao fim da leitura, sei que minha estada no sanatório Berghof é vitalícia. Escalei a montanha, mas sinto que ela cresce cada vez que olho para as páginas do livro. Para contribuir com a numerologia da obra, de forma espontânea (sendo atrapalhada pela faculdade), acabei bizarramente por passar 7 meses a ler e reler as cenas ocorridas na montanha, mas sinto que no meio dessa contagem tiraram alguma peça do grande relógio do mundo, transformando 60 minutos em 60 anos, e 60 anos em 60 minutos.

Entre operationes spititualis, você vai de grandes tédios à grandes irritações, vivenciando o que os representantes de sua espécie estavam fazendo, mesmo que sejam as coisas mais medíocres possíveis, há mais de cem anos em cordilheiras distantes. Essa história, a história do nosso querido Hans, tem por um de seus objetos principais o tempo. Por que? Ora, o tempo é uma narrativa; ele é improvável ao mesmo tempo em que é provável. Ele 'é' sem nada 'ser'. O tempo é de certa forma como o mar; nunca, em momento algum, se está no mesmo lugar no mar agitado e, de igual modo, pode-se permanecer no mesmo local, como que por uma eternidade quando o vento se faz inexistente. A contradição entre a eternidade e a finitude está feita, e a monotonia e a excitação festiva do início do século 20 vêm junto, antecipando o que seria a era dos extremos. E, finalmente, mas não por fim, ao ler esse livro é preciso ter mente que a arte está em se aclimatar pelo "não-aclimatamento", afinal quem realmente se aclimata nessa existência, seja lá em baixo na planície, seja no topo de 7 nebulosas montanhas?!

?É como se algum espírito brincalhão tivesse disposto o mundo de tal forma que ao princípio do inverno começasse em realidade a primavera, e ao início do verão, o outono... Você tem a impressão de que lhe pregam uma peça, de que o fazem andar à roda, mostrando-lhe a perspectiva de um ponto onde se dará meia-volta. Falar em voltas quando se anda num círculo! Ora, o círculo consta de um sem-número de pontos em que se muda de direção. As voltas não podem ser medidas. Não há rumo que persista, e a eternidade não é uma linha reta, mas um carrosel?. Pg. 429
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Carla Porto 29/05/2015

é tudo!
é doido, é tedioso, é incrível, é mágico, surpreende, é chato, é inteligente, é longo, é foda!
é lindo!
Nanci 29/05/2015minha estante
Quero reler.




djoni moraes 14/09/2020

Retornando à planície, sem poder ser o mesmo.
O que dizer de um livro que, facilmente, se tornou o meu livro favorito de todos os tempos (até agora)?
E é com maestria que Thomas Mann nos convida (sim, diretamente a nós, leitores), a acompanhar a travessia do Hans Castorp, o nosso "herói", durante sua estadia no sanatório de Berghof. No começo, o prólogo escrito por Mann mostra a sua intenção, pedindo, desde o começo, para nos desligarmos do tempo. Sou teimoso o suficiente para ignorar o pedido de Mann, mas, afinal, tive que obedecer, porque assim como Hans Castorp, nós somos encantados e perdemos a noção do tempo para acompanhar as digressões filosóficas interessantíssimas entre Settembrini e Naphta, com a participação casual de algum outro interlocutor.

A leitura deste livro consiste num desafio e tanto, praticamente uma escalada, pois muitas vezes os temas tratados requerem do leitor uma bagagem cultural e histórica bastante profundas (mas nada que uma pesquisa no Google não ajude nos momentos mais difíceis). Às vezes a linguagem é difícil, entremeada de expressões latinas ou em outras línguas (devidamente traduzidas). Mesmo sendo desafiante, a leitura é um deleite, pois Mann é um exímio narrador.

Sobre o romance [uma síntese que com certeza não faz justiça ao livro]: trata-se de um romance de formação em que acompanhamos a trajetória de Hans Castorp, um engenheiro de 23 anos que vai visitar o primo que reside num sanatório no topo dos Alpes Suíços (naquela época, se acreditava que o tratamento para a tuberculose consistia em repouso contínuo e lugares altos com ar rarefeito). Durante as quase 900 páginas que contam esta história, discutimos e aprendemos sobre política, arte, filosofia, a morte e a subjetividade do tempo, num contexto em que a política europeia está borbulhando. Neste microcosmo, vários aspectos da Europa pré-primeira guerra estão representados de forma didática, concisa e certeira.

Edição impecável da @companhiadasletras | 10/10
Douglas 30/09/2020minha estante
Adorei a resenha




Daniel 18/09/2022

Não é bravata.
Eu achava que era bravateiro o indivíduo que com muito brio enchia a boca pra ostentar a leitura desse livro. Me enganei feio. Ele é sensacional. Daqueles que não esquecemos os personagens ou os conflitos. Tenho que ser honesto e assumir que tive de insistir na leitura, pois lá pelas tantas "aquela uma" também me partiu o coração; mas a superação valeu a pena e terminei esse primor de livro.
E ainda teve um bônus: finalmente perdi o medo de calhamaços!
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