umbookaholic 15/06/2023Meu deus, que jornada. essa foi uma das experiências mais intensas que eu já li na minha vida... esse livro tocou em diversos pontos do meu peito q eu nem sabia que existiam. vou tentar compartilhar um pouco do q eu senti com vcs (e explicar o motivo pelo qual ele não levou 5 estrelas). não,
não tem spoiler. eu só quero pôr as coisas pra fora.
nessa história a gente vai conhecer uma família mt comum: a família desfuncional. pq? bom, a balança dificilmente tá equilibrada e aqui não vai ser diferente. ela pesa mais pra um lado. a gente vai conhecer a história dessa mulher que morreu em vida. que foi esquecida. que foi magoada. invisibilizada. morta. apagada. esse é um livro sobre fantasma de gente viva.
eu, como filho, tive a oportunidade de refletir sobre diversas coisas ao longo dessa leitura. a primeira delas (e a mais incômoda) diz respeito ao quanto nós desumanizamos nossos pais. sobre o quanto é fácil esquecer que nossa mãe não nasceu Mãe. que nosso pai um dia não soube andar, escrever ou falar. que as pessoas que nós criaram e nos ensinaram o básico sobre a vida um dia precisaram ser ensinados também. encarar essa realidade e ter sido forçado a pensar a quantas anda o *meu* relacionamento com a *minha* mãe foi assustador. hoje em dia não moro mais com ela, mas a vontade é d brotar na casa dela e fazer um cafezinho e um pão de queijo pra ela, pra que ela saiba que sempre foi e sempre será amada demais.
"Aquela mãe ficou na sua cabeça. Ela a fez pensar: até Mamãe... Você não sabia por que levou tanto tempo para perceber algo tão óbvio. Para você, Mamãe era sempre Mamãe. Jamais lhe ocorrera que ela tivesse um dia dado seus primeiros passos ou que uma vez tivesse tido 3, 12 ou 20 anos de idade. Mamãe era Mamãe. Já tinha nascido Mamãe. Até vê-la correndo daquele jeito na direção de seu tio, você ainda não tinha compreendido que ela era um ser humano que nutria exatamente o mesmo sentimento que você experimentava em relação aos seus próprios irmãos, e essa percepção levou à compreensão de que ela também tivera uma infância."
fico até nervoso escrevendo isso aqui e nem sei se essa "resenha" vai fazer sentido, pq tô só deixando as palavras jorrarem através de mim.
essa coisa toda "nossos pais também são filhos" foi o que mais me pegou. nada nesse livro é novo ou, sei lá, uma grande reflexão sobre a vida, mas às veze só óbvio também precisa ser dito. várias coisas que eu 'tava começando a analisar foram ifnalmente verbalizadas aqui e chegaram com o peso de mil flechas no meu coração. o quanto essa mulher se doa pra essas pessoas que, no fim, não se importam tanto com ela é de quebrar o coração de qualquer um.
"Descanse um instante. Não fique triste por minha causa. Fui feliz durante tantos dias de minha vida porque tive você."
ainda sobre essa ~desumanização de nossos pais, outra coisa que me pegou de jeito foi a mãe comentando sobre a cozinha. é normal pensar na nossa mãe e lembrar de alguma comida que a gente gosta. no bolo que ela prepara, no strogonoff ou no empadão que só ela faz. mas será que ela gosta de cozinhar? talvez ela só goste de ver vc comendo algo que
você gosta...
"— Mamãe, a senhora gostava de ficar na cozinha?
Quando você fez essa pergunta certa vez, sua mãe não compreendeu o que você estava dizendo.
– A senhora gostava de ficar na cozinha? Gostava de cozinhar?
Mamãe olhou para você.
– Não gosto nem desgosto da cozinha. Eu cozinhava porque precisava. Precisava ficar na cozinha para que todos vocês pudessem comer e ir à escola. Como é possível alguém fazer só o que gosta? Há coisas que a gente precisa fazer quer goste, quer não. - Sua mãe olhava para você com uma expressão que dizia: “Que tipo de pergunta é essa?" E resmungou: — Se fizer apenas o que gosta, quem vai fazer o que você não gosta?"
esse livro bateu tanto em mim, eu pude pensar em tanta coisa que chega é difícil comentar. vontade de abraçar a minha mãe e meu pai e mostrar que eu os amo e que eles são mt mais que amados. sério, inexplicável.
mas, ok, pq eu tirei uma estrela? a única dificuldade que eu tive com esse livro tá relacionada à narração, que é em terceira pessoa. entendo super essa decisão e o quanto isso contribui pra narrativa dela e facilita a passagem de sentimentos, mas ela, ao meu ver, não foi mt feliz nessa decisão. em diversos momentos, achei td mt confuso, sem saber quem/sobre quem tava falando.
no geral, um livro incrível que você precisa ler. passem por essa experiência em algum momento, por favor.