spoiler visualizarLaís Guerra 14/07/2012
Inocência - Resenha
Inocência se passa nos sertões do Mato Grosso e nos conta a história de Cirino, um médico charlatão, que em sua jornada cruza caminho com Pereira, um sertanejo machista e ignorante, que logo o convida para o conforto de sua casa em troca de seus favores médicos para a sua filha Inocência. Os dois se apaixonam, porém Cirino oculta seus sentimentos ao mais novo amigo.
Pereira acaba acolhendo mais dois viajantes à sua humilde casa, o alemão Meyer e o seu companheiro, que viajavam pelo sertões em busca de borboletas, e que traz consigo uma carta de recomendação endereçada à Pereira, de seu irmão mais velho.
Logo, Pereira o acolhe como alguém da família, o apresentando a filha, que alheio aos costumes sertanejos passa a elogiá-la, gerando desconfianças da parte de Pereira, que passa a vigiá-lo de perto. Aproveitando a oportunidade, Cirino passa a se aproximar mais da garota, cada vez mais apaixonado, chegando a até a querer compartilhar o sofrimento de sua doença.
O amor os consumia a fogo lento, mas como podiam se amar abertamente, se a idéia era reprovada por seu pai?
Com a descoberta de uma nova espécime de borboleta, dada o nome de Papilio Innocentia, em homenagem a própria garota, Meyer decide partir e acaba dificultando os encontros noturnos entre o casal apaixonado, já que a atenção de Pereira seria voltada a Cirino. Em um último encontro, ela lhe pede que fale com seu padrinho para que por eles interceda.
Enquanto Cirino está fora, Manecão, o noivo de Inocência, retorna e ela demonstra toda sua repulsa sobre o casamento. Desonrado, ele sai a procura daquele que poderia ter enfeitiçado sua noiva, e descobre a verdade por um dos criados, o anão Tico, que ficava a espreita durante os encontros entre os amantes.
“Decididamente lhe agradava aquêle médico: curava do seu corpo enfermo e entendia-lhe com a alma. Raros homens que não seu pai e Manecão, além dos pretos velhos, tinha até então visto; mas a ela, tão ignorante das coisas e do mundo, parecia-lhe que ente algum nem de longe poderia ser comparado em elegância e beleza a esse que lhe ficava agora em frente. Depois, que cadeia misteriosa de simpatia a ia prendendo àquele estranho, simples viajante que via hoje, para, sem dúvida, nunca mais tornar vê-lo?”
Inocência é um romance de transição entre os movimentos Romântico e Naturalista, possuindo assim características de ambos movimentos. Foi um dos romances mais singelos e cativantes que já li, e que possui grande peso, já que contribuiu para que me apaixonasse, de fato, pela Literatura Brasileira.
Visconde de Taunay consegue nos cativar com sua minúcia de detalhes e a forma como explora o rico cenário do sertão do Mato Grosso, fazendo menção aos costumes e a linguagem regional, e a cada descrição de personalidades, desde a doce e pura Inocência até o atrapalhado alemão Meyer.
A obra retrata o amor inocente entre os dois jovens Cirino e Inocência, que muitas vezes é considerado impossível, já que não condiz a vontade do pai dela. Vemos também a formação de triângulos amorosos, dependendo do personagem referencial. Não considero uma obra clichê, mesmo que o tema seja o comum: amor impossível. Há diferenciais, mesmo que estes sejam os costumes sertanejos.
Um dos temas abordados que mais me chamou atenção, e me desagradou, foi a descrição machista da figura feminina como submissa, destinada a apenas cuidar da casa, dos filhos e de sua costura. Observamos diversas vezes, o próprio Pereira falando de sua filha. Mas não podemos esquecer de que se trata de uma oba do século XVIII.
Recomendo a obra por ter um excelente enredo, além de ser de fácil entendimento.