Daniel 10/09/2018
Entre bibliotecas e labirintos
Publicado originalmente em 1946, a coletânea Ficções reúne alguns dos principais contos de Borges, que o consagraram como um dos maiores e mais originais escritores da literatura latino-americana e mundial.
Unindo o fantástico ao filosófico, Borges cria narrativas labirínticas, profundas e complexas, que se dispõem a dor um nó na cabeça do leitor e fazê-lo refletir acerca das questões mais profundas.
No primeiro conto, intitulado "Tlon Uqbar Orbis Tertius", a trama gira em torno de uma misteriosa enciclopédia escrita por uma sociefade secreta, onde um "planeta alternativo" intitulado Tlon é descrito em todas as suas minúcias, desde os costumes dos povos, passando pelas línguas e caracterieticas físicas do lugar; com a descoberta dessa enciclopédia, o mundo fictício passa a fundir-se com o mundo real, suplantando-o. Em "As Ruínas Circulares", um dos contos mais filosóficos do livro, com profunda carga existencial, um homem encontra um antigo templo abandonado, onde adormece e tenta "sonhar" um outro ser humano, começando pelo coração e passando aos outros órgãos, e por fim procura trazer o seu sonho para o mundo real, o que o leva a uma descoberta chocante. Já no conto "A Biblioteca de Babel", um dos mais famosos do autor, o universo, com todas as suas possibilidades e combinações, é formado por uma biblioteca infinita, misteriosa e labirintica, onde os seres humanos são os bibliotecários. Outros contos de destaque são "Pierre Menard, autor do Quixote", "Funes, o memorioso" e "O Jardim das Veredas que se Bifurcam"
No geral, os contos apresentam características que vão além do moderno e se aproximam do pós-moderno, com elipses, jogos de linguagem, mistura de gêneros, metalinguagem e metaficação, demonstrando a habilidade ímpar de Borges para compor cenários e personagens fantásticos, surpreendentes e reflexivos.
Uma obra-prima da literatura universal.