Barbara M Giolo 20/09/2021Um parto teria sido mais fácil que terminar esse livro. Leitura exaustiva, não tem uma palavra melhor para transmitir o parto que foi terminar esse livro. São vários os possíveis fatores que fazem dele desinteressante. O primeiro e que foi o maior obstáculo é a linguagem utilizada na tradução, ele foi primeiramente publicado como 3 crônicas separadas na década de 50 o que justifica as frases e palavras difíceis, no entanto não vejo motivo plausível para o tradutor não atualizar e adequar o texto a atualidade. Ao meu ver isso apenas desestimula novos leitores e o torna inacessível a muitos outros. Como cada crônica se passa em uma linha temporal notamos que a última, "Fiat Voluntas Tua", tem leitura e frases bem mais simples, poderia ser que as linguagens foram mantidas para levar a uma imersão temporal mais bacana mas, infelizmente isso não aconteceu, tudo ficou apenas bem mais chato e muuuuito exaustivo.
Tudo foi tão cansativo e complicado que eu acho que só terminei a leitura pois ela era a escolhida em um clube mensal que eu participo. A capa e a edição são bem bonitas, junte isso a sinopse e o livro promete ser uma distopia daquelas, mas não é. O desenrolar da trama é extremamente lento e desinteressante, se você quer ação ou aventura já desista agora, as batalhas são totalmente filosóficas e abstratas. O gênero que mais poderia se aproximar do desenvolvimento é o mistério que inclusive ronda todas as três crônicas para no final nada ser concluído nesse sentido hahahah chega ser frustrante. Também não consegui tirar nenhuma mensagem em comum que perpasse profundamente todos os textos, nem identificar um personagem ou missão principal. Acho que se eu tivesse que escolher o protagonista de tudo seria a informação, mas isso também não fica claro.
Levando em conta a data da publicação, podemos dizer que o autor Walter foi um homem a frente de seu tempo, tecendo muitas críticas bastante atuais e contundentes. Gostaria de saber qual era sua relação com a religião e por que foi feita a escolha de uma instituição religiosa para a manutenção de todas as descobertas humanas, foi uma opção muito curiosa e que não deixou clara a possível motivação para tal. Algo muito interessante é que a igreja além de detentora dos saberes controlava o uso das informações dentro dos parâmetros moralistas do meio clérigo, e apesar de todos os seus esforços nesse sentido ela foi incapaz de deter a humanidade, que acabou usando por uma segunda vez sua inteligência para a própria ruína e destruição planetária. Para mim aqui está a maior crítica e reflexão de todos os textos e que originou as 2,5 estrelas. Vivemos no Brasil um momento de crise e divisão de ideias onde parte das massas se move em nome de um bem e uma fé que nem sempre tem as melhores intenções, apesar de todos os avisos, estudos e alertas a noção de bem e mal está deturpada de acordo com os interesses de cada um, e mais, temos uma rivalização entre religioso e a ciência.
Como uma das poucas ideias que ficam claras do livro, o mundo é cíclico, o ser humano é cíclico e também somos altamente adaptáveis, tendemos a cometer os mesmos erros do passado de novo e de novo apesar das novas descobertas e das palavras de quem se lembra e faz a manutenção da “Memorabilia”, seja quem for. Por fim, fiz bom proveito da leitura mas acredito que nunca mais vou reler, também não é nada que eu vou indicar para alguém, existem outros títulos mais atuais nessa mesma linha de pensamento, muito mais interessantes e com mais embasamento histórico. A proposta é boa, a abordagem é diferente e única, deve ter sido o supra sumo na sua época mas é uma obra obsoleta, vale a pena somente para os adoradores de ficção que queiram conhecer as origens mais antigas do gênero.