eduarda 15/01/2023
?Só o depois de amanhã me pertence. Alguns nascem póstumos.?
No geral, gostei bastante das reflexões do livro. Por ser o último livro do autor, acho que compreenderia ainda melhor o texto se já estivesse familiarizada com os conceitos e ideias das obras anteriores, principalmente ?Assim Falou Zaratustra? que ele acaba citando bastante, mas nada que tenha dificultado a compreensão.
Nietzsche começa falando sobre a compaixão (prática cristã fundamental), a considerando o pior dos vícios, pois tem efeito depressivo e torna o sofrimento contagioso entre os fracos e fortes de espírito. Para ele, a prática deixa de cultivar o homem de mais alto valor, mais digno de vida ? super homem ? para cultivar o animal doente homem, o cristão. Dentro disso, aborda que os valores do cristianismo são valores modernos da decadência, já que corrompem o homem através da perda de seus instintos ao preferir o que lhes é prejudicial. Em outro ponto, Nietzsche critica também os representantes da religião, focando principalmente na figura do sacerdote para afirmar que ele é um representante do nada e do que é falso, e que por isso, o que prega poderia ser usado como um critério para determinar a verdade. Fora a crítica aos adeptos do cristianismo, também discorre sobre como os conceitos de mundo verdadeiro e moral como essência do mundo são erros, determinando que a virtude precisa ser uma invenção pessoal e não um conceito geral e abstrato que todos têm de possuir. O autor também trabalha as causas da religião, com ela como um meio de definir a quem atribuir gratidão e como um meio de se desviar de uma realidade malograda. Com isso, ele também trabalha um pouco mais a origem do cristão e mostra como a figura de Deus muda à semelhança da mudança na mentalidade dos homens. Para ilustrar um pouco de todas essas ideias, Nietzsche compara o cristianismo com o budismo, ?preferindo? o segundo na medida em que também promove a decadência, porém com valores e práticas muito mais realistas e positivas do que a religião cristã ao lutar contra o sofrimento e não contra o pecado, ao inexistir conceitos morais (bem e mal) e por possuir uma maior sensibilidade e espiritualização ao não promover coação. Ao longo do livro, o filósofo evidencia os atos de Jesus e opta por chamá-lo de ?anarquista sagrado? por conta do que entende como uma doutrina de redenção dentro da história de surgimento do cristianismo. Essa ?doutrina de redenção? seria o resultado da morte de Jesus na cruz, momento que foi erroneamente interpretado pelo povo. Uma das ideias principais do cristianismo era a superioridade em relação a qualquer sentimento de ressentimento e a falta de combate em agir negativamente. Justamente por isso, a morte de Jesus teria sido um meio de ?demonstrar? sua doutrina. Porém, os discípulos a entenderam como Jesus em revolta com a ordem, e nisso, cultivaram o sentimento de vingança, completamente contrário ao evangelho. Entenderam como ?reino de Deus? o ato final, e não uma realidade que poderia ser conquistada (75). Com essa interpretação, Nietzsche afirma que Jesus foi o último cristão. Com essa criação da importância verdadeira das coisas na pós-morte, o resultado é acabar com o sentido da vida mortal.
Outros tópicos:
- Deus vs Ciência
- Comparação Evangelho com Código de Manu
- Tentativa da Renascença contra o Cristianismo