Purkotte 18/11/2012
Mais um vencedor
♫Agora fiquei doce, doce, doce, doce
passei e não estava de Ulisses aberto♫
Finalmente e infelizmente depois de mais de um mês dedicado a esta famigerada obra de James Joyce terminei a leitura do livro, me sinto bem por ter lido e triste por depois de tanto tempo juntos a história ter acabado.
Eu tenho a versão da Alfaguara traduzida pela Bernardina, diz ela no prefácio ter tentado fazer uma tradução mais fluída do texto, um bom trabalho ela deve ter feito afinal dedicada ao autor ela é, tanto que é pós-graduada ou doutorada em James Joyce, ou coisa que o valha, mas pretendo no futuro ler a tradução do Houaiss que tão criticada pelos leitores e tão bem aceita pela critica pelo que pude perceber, e quem sabe num futuro ainda mais distante encarar o original, assim vou saber o que perdi, se perdi e o que posso sair ganhando, mas posso afirmar que comecei com o pé direito, a leitura apesar de confusa em muitos momentos é até pratica e o tão temido fluxo de pensamento foi bem tranquilo, muito mais que o capítulo que me inseriu nesse estilo em o O Som e a Fúria de Faulkner.
O livro é muito temido pela grande quantidade de estilos literários que ele usa, e talvez a comparação imediata com a Odisséia de Homero só piore as coisas, pois normalmente as pessoas querem ver e compreeender aquilo que estão vendo, a sociedade não gosta de nada que seja muito diferente do usual, por isso vivemos como vivemos a tantos e tantos anos e sem a menor previsão de qualuqer mudança, talvez a última grande mudança tenha sido essa, a inserção do modernismo, comparando os estilos anteriores com esse dá para criar uma costura envolvente que nos une as artes de outras épocas, além dessa que já dura mais de 100 anos não me lembro de outra, mas não sou tão sabido e dedicado para afirmar algo assim.
O estilo dos estilos de Joyce naminha opinião visa o âmago, equivalente ao nada onde tudo acontece, essa liberdade não deve ser compreendida de imediato, apenas tolerada se for identificada, isso extrapola o habitual e cria um mundo tão livre e autosuficiente que podemos considerar a grande revolução, e isso não é algo que está sob o controle de ninguém, nem mesmo de Joyce, é a capacidade natural das palavras e de toda a estrutura natural da Terra, quando nós compreendermos a força disso nossa evolução como seres humanos pode extrapolar o infinito, mesmo sem sairmos do lugar.
Uma dica muito boa para digerir a obra é ler cerca de 10 páginas por vez, ou 5 nos capítulos com paragrafos mais extensos, eu como estava desempregado conseguia parar e retomar várias vezes ao dia, e dei uma acelerada no fim para não me comprometer com algo desse nível apartir de amanhã quando estarei mais atarefado, mas fica aí a dica, e outra dica é não ficar relendo o que não for compreendido, é melhor na minha opinião passar por cima e mais para frente a compreensão pode vir por si sem a necessidade de uma cansativa e desentusiasmante releitura. Uma coisa engraçada é que eu compreendi muito mais O Som e a Fúria lendo Ulisses, isso também pode acontecer com você, então tenha paciência, se dê o tempo que achar necessário se deseja embarcar nessa aventura.
Quanto a história, o livro é dividido em 18 capítulos, cada um sugerindo um tema e estilo diferente, os dois personagens principais são Stephen Dedalus e Leopold Bloom, tirando eles tem diversos outros que podem ou não reaparecer, então não é preciso se apegar a eles, apenas a situação imposta em cada capítulo, que apesar de tudo representar um único na vida de um homem a ligação do eventos não é segmentada própriamente, outro motivo de não se prender com tanta convicção as releturas imediatas, o que você não compreendeu num capítulo não vai necessariamente ser usado no próximo. Mas claro, quanto mais se absorver dos textos melhor.
A Odisséia de Homero que inspirou Joyce a escrever Ulisses traça as aventuras de Odisseu retornando para Ítaca, na saga original isso leva 10 anos para se concretizar, em Ulisses todos os acontecimentos na vida de Leopold Bloom se referem a apenas um único dia na vida de um homem, o que é muito interessante e outro aprendizado importante, o livro tem quase 1000 páginas, a história é puramente "intelectual" vou assim dizer, não foi descrita uma guerra em minúcias por exemplo, e ainda assim, superficialmente falando, é possível que haja tanto para se descrever de apenas um dia? sim, com certeza na vida de cada um de nós é possível acontecer muito mais que isso, mas mais uma vez o que nós fazemos? consideramos válidos apenas os grandes acontecimentos, nada mais importa, só que quando ocorre esse grande e esperado evento não estamos desenvolvidos o suficiente e acabamos não apreciando em sua plenitude, o que acaba gerando diversos conflitos pessoais e sociais ao longo do tempo. Joyce não está sendo exclusivo nessa descrição de apenas um dia perante acontecimentos banais do dia na vida de um homem, mas! mesmo com tanto a fazer e ser dito nós continuamos apenas considerando nossas vidas como um erro, uma falha existencial, um vazio incompreendido.
Então, eu ainda pretendo ler a Odisséia de Homero e reler outras versões de Ulisses como disse lá no início, é uma obra interessante, mais curiosa que divertida na minha opinião, me ajudou a perceber a literatura de outra forma e gostar dessa introspecção ainda mais, gostaria de ser mais detalhista na minha resenha mas amanhã tenho que trabalhar e estou muito entusiasmado para compartilhar minha experiência, então é isso aí, e se achar necessário farei adendos no meu comentário, até pelo fato que o livro acabou mas suas idéias permanecem em minha cabeça e vou digerir isso pelo resto da vida.
Esse livro me ajudou um pouco na última entrevista, um livro desse realmente parece para poucos, o que não acho o caso, mas... já que foi assim quem sabe eu consiga ir mais longe, conquistar uma gatinha falando que li Ulisses, ou, quando os baladeiros estiverem se vangloriando de ter pego 20 petecas no show eu digo - Eu li Ulisses - hahaha cada um tem o orgulho que pode esse é um dos meus.