Ulisses

Ulisses James Joyce




Resenhas - Ulisses


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@thereader2408 04/04/2022

A odisseia do homem comum
Em fevereiro de 1922 o livro mais controverso, complexo e polêmico da história da literatura foi publicado. James Joyce fez questão de publicar seu livro na mesma data de seu aniversário de 40 anos e a editora "Shakespeare and Company" de Sylvia Beach foi a única que se arriscou a publicá-lo. Na época o livro foi banido em vários países por abordar temas considerados "impublicáveis" e até hoje tem fama de livro "difícil". E é um livro muito difícil.

Ulysses vale a pena? O livro é um baita desafio, e como desafios literários me atraem criei o "Mr. Bloom project", é a segunda vez que leio o livro e pretendo ler outras vezes, meu objetivo é um dia ler na língua original, até lá vou lendo e relendo e aprendendo um pouco mais sobre o "mito do homem comum" criado por Joyce como uma paródia de "A odisseia" de Homero.

Apesar das dificuldades do livro (talvez Finnegans Wake seja mais difícil e os dois foram escritos por Joyce), este é uma obra prima da literatura mundial. A comoção é tanta que há um dia especial para comemorar o livro, o "Bloomsday", onde milhares de pessoas do mundo inteiro se vestem como os personagens do livro, recitam passagens e circulam pelas ruas de Dublin fazendo o mesmo percurso de Leopold Bloom.

Apesar da aparente simplicidade do tema, não temhá nada simples em Ulysses, cada capítulo apresenta um estilo diferente e é o que torna o livro complicado. Todas as 900 páginas vão falar de apenas um dia na vida de Mr. Bloom, conhecemos sua esposa infiel, Molly, e Stephen Dedalus, alter ego do escritor, que aparece como protagonista do livro "O retrato do artista quando jovem". Em um dia vemos Mr. Bloom em casa, indo às compras, a um enterro, indo a um pub, a um teatro, um bordel...

O enredo é claramente uma sátira ao Ulysses de Homero que passa mais de 20 anos tentando voltar para sua fiel esposa. Já Ulysses de Joyce vai passar 18 horas do dia 16 de junho de 1904 peregrinando em Dublin evitando voltar para sua esposa infiel. Bloom é um judeu irlandês, um heroi profundamente humano, assim como todos nós, e se o livro é chato, engraçado, inteligente, sarcástico, curioso e frustrante é porque a vida também é assim.

@thereader2408
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Michele 10/10/2021

Eu, tu, Bloom e Dedalus
Completou uma semana que terminei de ler "Ulysses". A obra-prima de James Joyce não sai da minha cabeça desde então. Não é um livro fácil, longe disso, é preciso ter paciência, um dicionário ao lado e uma janela do Google no outro para tentar compreender as ideias do autor.
Inspirado em "Odisseia" de Homero, o escritor narra as 24 horas da vida de Bloom e Dedalus, os protagonistas da história - tão diferentes, tão parecidos. Dividido em três partes, o livro conta com diversos personagens que completam e bagunçam a história. Amor, perdas, lutos, culpas, adultério e tantos outros assuntos estão em "Ulysses", o livro que traz dois irlandeses como principais, porém, no decorrer da leitura, o leitor percebe que "Ulysses" é também sobre ele.
Angustiante, raivoso e totalmente confuso - essas são as definições que faço da obra, porém, belíssimo, engraçado e tocante. Vale a pena separar um tempo para ler "Ulysses" e se deliciar no mundo de Bloom e Dedalus - que no final também é você, leitor.
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Adnildo 17/01/2015

"Este é o livro ao qual todos somos devedores, e do qual nenhum de nós pode escapar." T. S. Eliot
E es que depois de mês e meio dou por encerrada minha leitura de Ulisses. Digo isso com muita satisfação já que o final foi feliz. Depois desta experiência literária, não há mortos nem feridos, não há ressentimentos nem remorsos. Há somente leveza de espírito, sentimento de dever cumprido, e endorfina por todo o corpo, começando pelo cérebro e irradiando para as extremidades. Mas, deixando a poesia de lado, caminhar por Dublin do começo do século XX conduzido por Joyce sempre será um prazer.
Ulisses é comumente apresentado pela crítica como uma paródia da Odisseia de Homero, e é considerado pela mesma como um daqueles livros que amedronta o imaginário dos leitores, seja pelo número de páginas ou pela linguagem e estilo próprios. Mas confesso, que apesar de sua imprevisibilidade, me diverti muito lendo seus 18 capítulos, procurando as referências de localidades no mapa no apêndice do livro, tentando encontrar o ritmo adequado para cada trecho e procurando sempre uma ponte que o ligasse a Homero.
Escrita entre 1914 à 1921, Ulisses é simplesmente a trajetória de um dia, 16 de junho de 1904, de dois cidadãos dublinenses. Um, Stephen Dedalus, jovem de 22 anos, professor, é inteligente e sagaz. O outro, Leopold Bloom, um jovem senhor de 38 anos, publicitário, é gentil e cordial. Tudo acontece nesse único dia. A impressão que nos dá é que Joyce queria, quando na construção de sua obra, que os leitores, ao lerem Ulisses, sobrepusessem sua própria rotina com a dos seus heróis. Há o ritual do café da manhã; as observações mais rotineiras, como a de uma gatinha e seu ronronar ao se esfregar em uma cadeira; a ida ao banheiro; e a saída as ruas da cidade, além de eventos como enterro de um conhecido de Bloom e o nascimento de uma criança na maternidade.
E onde reside a dificuldade da obra? Esta obra Joyceana representa, antes de mais nada, uma ruptura com os modelos de escrita anteriores. Ele, como uma criança travessa e rebelde, não se rende aos modelos vigentes e cria novas formas, experimenta, traciona e comprime a língua escrita. Testa até o limite da plasticidade a linguagem. Cria personagens inesquecíveis e nos permite mergulhar em suas psiques, ainda que muitas vezes, quase que incompreensíveis. O monólogo interior é algo deslumbrante e assustador. Os pensamentos se cruzando, sem ordem; essa é a cabeça de um homem comum, meio maluca, quase ilógico. As inúmeras referências também complicam um pouco, já que você, muitas das vezes é obrigado a consultar o rodapé, atrapalhando desta forma a fluidez da leitura.
A comparação com o original grego, para uma primeira leitura, quase não tem fundamento. Ulisses é para mim é uma leitura única, e se eu não soubesse de que se trata de uma paródia, em nada atrapalharia a beleza da obra ou seu entendimento. Até porque, elas diferem em muitos pontos, e em certos capítulos chegam até a ser antagônicas. Temas como sexualidade e antissemitismo estão sempre retornando. Além da referencia persistente à Hamlet de Shakespeare dissolvida em toda a obra.
Por favor, não se intimidem com a chatice de Buck Mulligan no primeiro episódio; não se percam nos labirintos de mentes do décimo episódio; não desistam das loucuras do décimo quinto episódio; e guardem fôlego para o último episódio. No mais, boa sorte e boa leitura!!
Gláucia 20/01/2015minha estante
Sua resenha está excelente, apesar de instigante não me sinto preparada. E nem sei se estarei algum dia pois leitura pra mim é entretenimento, leio por prazer e diversão.


Adnildo 26/01/2015minha estante
Obrigado pelo comentário, Gláucia. Existe o momento certo para cada livro.


Jardel 12/12/2018minha estante
Bela resenha amigo Adnildo!
Acabo de adquirir essa importante obra, logo iniciarei a leitura.
Forte abraço!




Daisy 02/01/2023

Esse é meu presente de natal: ter concluído Ulysses!
Eu já não gostava do Joyce quando eu disse sim! Isso é um fato, só tenho a dizer que nada mudou! KKK vivi um casamento tóxico KKK.
Todos que me acompanharam lendo esse livro sabem como sofri, como me irritava, e não é por causa das 1112 páginas, é por que Joyce é único em sua forma de compor, ele dá um nó no seu cérebro, muda sua forma de escrever 18 vezes durante o livro todo, é enfadonho ao relatar fatos corriqueiros, mas, tenho que tirar o chapéu, por que ele é um gênio! Só um gênio pra fazer leitores tentarem (alguns sem sucesso) durante 100 anos ler seu livro! Só um gênio pra fazer leitores durante 100 anos o amar e o odiar com tanta força, só sendo um gênio pra escrever 1112 páginas de 1 dia comum (16/06) da vida de um homem, que até parece comum ... Mas o Bloom não tem nada de comum... Através dele vemos nossa humanidade, tão frágil e tão forte de muitas formas, quebram-se muitos Tabus (estamos falando de um livro de 1922 senhores) conversa-se de tudo, e vc se pega chorando por não entender o que djanho esse homem tá falando kkk E ele estava falando da Odisseia, de Shakespeare, de divino masculino e feminino, de androginia, de pornografia, de criação, de racismo, de intolerância religiosa, e afinal, de tudo o mais que poderia um judeu que vive em uma Irlanda recém independente da Inglaterra poderia falar.
Eu tive de ler esse livro, apoiada por um guia (de outro curitibano, escritor, professor, mestre e doutor em linguística, Caetano Galindo) e por um grupo especial de amigas que fiz pouco antes da pandemia, e que não largo mais! (Esquece meninas, vão ter de me aturar pra sempre agora kkkk) sem esse suporte, já teria desistido no terceiro capítulo ?. E sim, esse livro foi um marco na minha carreira de leitora, e não indico a ninguém fazer igual, a não ser que vc tenha apreço por sofrimento ? por isso ele está aqui, marcando o meu Sim, e graças a Deus, o meu adeus. Mas um ciclo fechado em 2022. Daisy Bernacki 25/12/2022 - Curitiba - PR.
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Sílvia 31/12/2021

O livro mais difícil da minha vida
TERMINEI UHUUUUUUU. Sinto que mereço vários mimos literários por ter lido o livro mais difícil que já li na minha vida. Foi uma Odisseia com Iliada entremeada com Os Lusiadas e com toques amargos de Eneida. Foram quatro meses de leitura, sofrencia, dicionário e vontade de superar o desafio. Foi minha quarta tentativa de leitura e confesso que só consegui graças à tradução magnífica. A obra relata o dia de um homem em Dublin. O livro é dividido em várias partes, cada uma delas fazendo alusão a um trecho da Odisseia e a uma parte do corpo. Só lendo para entender. A parte de que mais gostei foi a última. Não sabia que o doido do Joyce tinha sido pioneiro no fluxo de consciência. E ele fez muito melhor do que a Virgínia Woolf na minha opinião. Essa parte relata os pensamentos da esposa do personagem principal que tem sua equivalência na fiel esposa de Odisseu, Penélope. Não é um livro gostoso de ler, é difícil, tem partes intragáveis, é cheio de neologismos. Fala tanto de sexo que foi proibido em muitos países. Não recomendo, salvo se for um desafio pessoal como foi comigo, mas se for em outra edição a pouca compreensão da obra se tornará nula. Aliás, Joyce nunca mais.
Raquel.Santos 21/01/2022minha estante
Joyce nunca mais foi bom. ?




Purkotte 18/11/2012

Mais um vencedor
♫Agora fiquei doce, doce, doce, doce
passei e não estava de Ulisses aberto♫


Finalmente e infelizmente depois de mais de um mês dedicado a esta famigerada obra de James Joyce terminei a leitura do livro, me sinto bem por ter lido e triste por depois de tanto tempo juntos a história ter acabado.

Eu tenho a versão da Alfaguara traduzida pela Bernardina, diz ela no prefácio ter tentado fazer uma tradução mais fluída do texto, um bom trabalho ela deve ter feito afinal dedicada ao autor ela é, tanto que é pós-graduada ou doutorada em James Joyce, ou coisa que o valha, mas pretendo no futuro ler a tradução do Houaiss que tão criticada pelos leitores e tão bem aceita pela critica pelo que pude perceber, e quem sabe num futuro ainda mais distante encarar o original, assim vou saber o que perdi, se perdi e o que posso sair ganhando, mas posso afirmar que comecei com o pé direito, a leitura apesar de confusa em muitos momentos é até pratica e o tão temido fluxo de pensamento foi bem tranquilo, muito mais que o capítulo que me inseriu nesse estilo em o O Som e a Fúria de Faulkner.



O livro é muito temido pela grande quantidade de estilos literários que ele usa, e talvez a comparação imediata com a Odisséia de Homero só piore as coisas, pois normalmente as pessoas querem ver e compreeender aquilo que estão vendo, a sociedade não gosta de nada que seja muito diferente do usual, por isso vivemos como vivemos a tantos e tantos anos e sem a menor previsão de qualuqer mudança, talvez a última grande mudança tenha sido essa, a inserção do modernismo, comparando os estilos anteriores com esse dá para criar uma costura envolvente que nos une as artes de outras épocas, além dessa que já dura mais de 100 anos não me lembro de outra, mas não sou tão sabido e dedicado para afirmar algo assim.

O estilo dos estilos de Joyce naminha opinião visa o âmago, equivalente ao nada onde tudo acontece, essa liberdade não deve ser compreendida de imediato, apenas tolerada se for identificada, isso extrapola o habitual e cria um mundo tão livre e autosuficiente que podemos considerar a grande revolução, e isso não é algo que está sob o controle de ninguém, nem mesmo de Joyce, é a capacidade natural das palavras e de toda a estrutura natural da Terra, quando nós compreendermos a força disso nossa evolução como seres humanos pode extrapolar o infinito, mesmo sem sairmos do lugar.

Uma dica muito boa para digerir a obra é ler cerca de 10 páginas por vez, ou 5 nos capítulos com paragrafos mais extensos, eu como estava desempregado conseguia parar e retomar várias vezes ao dia, e dei uma acelerada no fim para não me comprometer com algo desse nível apartir de amanhã quando estarei mais atarefado, mas fica aí a dica, e outra dica é não ficar relendo o que não for compreendido, é melhor na minha opinião passar por cima e mais para frente a compreensão pode vir por si sem a necessidade de uma cansativa e desentusiasmante releitura. Uma coisa engraçada é que eu compreendi muito mais O Som e a Fúria lendo Ulisses, isso também pode acontecer com você, então tenha paciência, se dê o tempo que achar necessário se deseja embarcar nessa aventura.

Quanto a história, o livro é dividido em 18 capítulos, cada um sugerindo um tema e estilo diferente, os dois personagens principais são Stephen Dedalus e Leopold Bloom, tirando eles tem diversos outros que podem ou não reaparecer, então não é preciso se apegar a eles, apenas a situação imposta em cada capítulo, que apesar de tudo representar um único na vida de um homem a ligação do eventos não é segmentada própriamente, outro motivo de não se prender com tanta convicção as releturas imediatas, o que você não compreendeu num capítulo não vai necessariamente ser usado no próximo. Mas claro, quanto mais se absorver dos textos melhor.

A Odisséia de Homero que inspirou Joyce a escrever Ulisses traça as aventuras de Odisseu retornando para Ítaca, na saga original isso leva 10 anos para se concretizar, em Ulisses todos os acontecimentos na vida de Leopold Bloom se referem a apenas um único dia na vida de um homem, o que é muito interessante e outro aprendizado importante, o livro tem quase 1000 páginas, a história é puramente "intelectual" vou assim dizer, não foi descrita uma guerra em minúcias por exemplo, e ainda assim, superficialmente falando, é possível que haja tanto para se descrever de apenas um dia? sim, com certeza na vida de cada um de nós é possível acontecer muito mais que isso, mas mais uma vez o que nós fazemos? consideramos válidos apenas os grandes acontecimentos, nada mais importa, só que quando ocorre esse grande e esperado evento não estamos desenvolvidos o suficiente e acabamos não apreciando em sua plenitude, o que acaba gerando diversos conflitos pessoais e sociais ao longo do tempo. Joyce não está sendo exclusivo nessa descrição de apenas um dia perante acontecimentos banais do dia na vida de um homem, mas! mesmo com tanto a fazer e ser dito nós continuamos apenas considerando nossas vidas como um erro, uma falha existencial, um vazio incompreendido.

Então, eu ainda pretendo ler a Odisséia de Homero e reler outras versões de Ulisses como disse lá no início, é uma obra interessante, mais curiosa que divertida na minha opinião, me ajudou a perceber a literatura de outra forma e gostar dessa introspecção ainda mais, gostaria de ser mais detalhista na minha resenha mas amanhã tenho que trabalhar e estou muito entusiasmado para compartilhar minha experiência, então é isso aí, e se achar necessário farei adendos no meu comentário, até pelo fato que o livro acabou mas suas idéias permanecem em minha cabeça e vou digerir isso pelo resto da vida.

Esse livro me ajudou um pouco na última entrevista, um livro desse realmente parece para poucos, o que não acho o caso, mas... já que foi assim quem sabe eu consiga ir mais longe, conquistar uma gatinha falando que li Ulisses, ou, quando os baladeiros estiverem se vangloriando de ter pego 20 petecas no show eu digo - Eu li Ulisses - hahaha cada um tem o orgulho que pode esse é um dos meus.
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Marlon.Machado 13/02/2018

18 trechos do Ulysses de James Joyce
Esse merece um top de 5 segundos: toooooooooooOOOoooOOOooOOOooooOOoooOOOp.

Finalmente terminei de ler esse tijolo que tem mais de 1100 páginas! “Ulysses” e também o guia de leitura escrito pelo tradutor (“Sim, eu digo sim”, por Caetano Galindo, recomendadíssimo) que tem umas 360. Foi uma verdadeira odisseia mas…

Valeu à pena?
SIM.

Mudou minha vida?
Com certeza.

É o melhor livro que já li?
Provavelmente.

Recomendaria a todo mundo?
Nunca. Só a quem tiver mesmo muito interesse e sentir que se identifica de verdade.

A seguir trechos dos 18 episódios, a quem possa interessar.

Parte I — Telemaquia

EP. 1 TELÊMACO (pág. 111)
“Secreta e velha, entrara vinda de um mundo matinal, quem sabe uma mensageira. Louvava a virtude do leite, vertendo. Agachada ao lado de uma vaca paciente na aurora do campo opulento, uma bruxa em seu cogumelo, velozes os dedos enrugados nas tetas que espirravam. Mugiam em volta dela, sua conhecida, gado sedosorvalhado. Seda da grei e pobre velhinha, nomes que ganhara nos tempos antigos. Uma velhusca errante, forma rebaixada de um imortal servindo seu conquistador e seu alegre traidor, ambos adúlteros seus, ela, núncio da manhã secreta.”

EP. 2 NESTOR (pág. 138)
“— Os caminhos do Criador não são os nossos, o senhor Deasy disse. Toda a história humana se conduz a um único fim grandioso, a manifestação de Deus.
Stephen esticou o polegar para a janela, dizendo:
— Isso é Deus.
Urra! Ei! Vhrrvhi!
— O quê? o senhor Deasy perguntou.
— Um grito na rua, Stephen respondeu, dando de ombros.”

EP. 3 PROTEU (pág. 148)
“Seus pés marcharam em súbito ritmo orgulhoso sobre os sulcos de areia, seguindo pelos pedregulhos da parede sul. Encarava-os orgulhoso, crânios pétreos e gigantes empilhados. Luz ouro sobre o mar, sobre areia, sobre pedras. O sol está lá, as árvores esguias, as casas limão.
Paris cruamente despertando, crua a luz do sol em suas ruas limão. […]”

Parte II — Odisseia

EP. 4 CALIPSO (pág. 164)
“O senhor Bloom observava curioso, carinhoso, a maleável forma preta. Limpo de se ver: o brilho da pelagem luzidia, o tufo branco embaixo do rabo, os olhos verdes lampejantes. Ele se curvou até ela, de mãos nos joelhos.
— Leite pra gatinha, ele disse.
— Mrqnhao! a gata gritou.”

EP. 5 LOTÓFAGOS (pág. 185)
“Onde é que estava o sujeito que eu vi naquela foto em algum lugar por aí? Ah é, no mar morto, boiando de costas, lendo um livro com um guardassol aberto. Você não consegue afundar nem que tente: de tão grossa de sal. Porque o peso da água, não, o peso do corpo na água é igual ao peso da. Ou será que é o volume que é igual ao peso? É uma lei mais ou menos assim.”

EP. 6 HADES (pág. 242)
“O senhor Bloom passava sem ser visto em seu bosque por anjos entristecidos, cruzes, pilares partidos, mausoléus de família, esperanças pétreas rezando com olhos voltados ao alto, as mãos e os corações da velha Irlanda.”

EP. 7 ÉOLO (pag. 253)
“Sllt. O cilindro inferior da primeira das máquinas projetou sua bandeja com sllt a primeira fornada de mãos de jornais dobradas. Sllt. Quase humano o jeito que ela fica slltando pra chamar atenção. Fazendo o melhor que pode pra falar. Aquela porta também estava slltando quando rangia, pedindo pra ser fechada. Tudo fala à sua maneira. Sllta.”

EP. 8 LESTRIGÕES (pág. 293)
“Se você entupir um peru, digamos, com castanhas ele vai ficar com o gosto delas. Coma porca e vire porco. Mas e aí como é que pode ser que peixe de água salgada não é salgado? Como é que pode?”

EP. 9 CILA E CARÍBDIS (pág. 340)
“As pessoas não sabem o quanto as canções de amor são perigosas […] Os movimentos que operam as revoluções no mundo nascem dos sonhos e das visões no coração de um camponês nas encostas de um morro.”

EP. 10 ROCHEDOS ERRANTES (pág. 386)
“O padre Conmee pensou nas almas dos negros e pardos e amarelos e em seu sermão sobre São Pedro Claver, S. J., e a missão africana e na propagação da fé e nos milhões de almas negras e pardas e amarelas que não tinham recebido o batismo da água quando seu último momento chegou como um ladrão no meio da noite. […] Eram milhões de almas humanas criadas por Deus a Sua semelhança a quem a fé não tinha (D. V.) sido trazida. Mas eram almas de Deus criadas por Deus. Ao padre Conmee parecia uma pena que devessem ser todas perdidas, um desperdício, se é que se pode falar assim.”

EP. 11 SEREIAS (pág. 464)
“A orelha dela é uma concha também, o lóbulo surgindo ali. Esteve na praia. Meninas da praia. Bronzeada em pele viva. Devia ter posto um creme primeiro pra ficar dourada. Torrada com manteiga. […] Enfebrada em volta da boca. Sua cabeça toda. Cabelo trançado por cima: concha com algas. Por que elas escondem a orelha com o cabelo de algas? E as turcas a boca, por quê?”

Curiosidade sobre o episódio (fonte: Wikipédia) — Quando James Joyce o enviou da Suiça, onde vivia, para a Inglaterra, para a primeira edição do romance, decorrendo a I Guerra Mundial, o episódio foi retido por suspeitas de encobrir alguma mensagem secreta, contando-se que foi entregue a dois escritores famosos que nele não viram mais do que uma excentricidade literária bastante invulgar.

EP. 12 CICLOPE (pág. 534)
“O amor ama amar o amor. A enfermeira ama o novo farmacêutico. O guarda 14A ama Mary Kelly. Gerty McDowell ama o menino que tem uma bicicleta. M. B. ama um belo cavalheiro. Li Chi Han amô bê ji nho Cha Pu Chow. Jumbo, o elefante, ama Alice, a elefanta. O velho senhor Verschoyle da corneta acústica ama a velha senhora Verschoyle do olho zarolho. O homem da capa mackintosh marrom ama uma mulher que está morta. Sua Majestade o Rei ama Sua Majestade a Rainha. A senhora Norman W. Tupper ama o policial Taylor. Você ama uma certa pessoa. E essa pessoa ama aquela outra pessoa porque todo mundo ama alguém mas Deus ama todo mundo.”

EP. 13 NAUSÍCAA (pág. 557)
“Estava usando o conjuntinho azul para dar sorte, com uma esperança que quase se sabia vã, sua própria cor e a cor da sorte para noivas também para usarem um pouquinho de azul em algum lugar porque o verde que usara na semana passada lhe trouxera mágoa porque o pai dele o chamou para dentro para estudar para a bolsa do propedêutico e porque ela achava que talvez ele pudesse estar na rua porque quando ela estava se vestindo pela manhã ela quase vestiu o conjuntinho usado pelo avesso e isso dava sorte e era para encontros amorosos se você veste essas peças de roupa pelo avesso desde que não fosse sextafeira.”

EP. 14 GADO AO SOL (pág. 643)
“Qual a idade da alma do homem? Como tem ela a virtude do camaleão de mudar sua tez a cada nova aproximação, de ser alegre com os contentes e prantear com os deprimidos, assim também é sua idade mutável como seu humor. Não mais é Leopoldo, sentado ali, ruminando, mascando o remoalho da reminiscência, aquele sóbrio agente publicitário e proprietário de pequena soma em títulos da dívida pública. Ele é o jovem Leopoldo, como que em um arranjo retrospectivo, um espelho dentro de outro espelho (opa, abracadabra!), ele contempla a si próprio.”

EP. 15 CIRCE (pág. 738)
“Bloom a abraça com força e dá à luz oito filhos amarelos e brancos. Eles surgem em uma escadaria atapetada de vermelho e enfeitada com plantas caras. São todos bonitos, com valiosos rostos metálicos, bemproporcionados, vestidos respeitavelmente e com bonsmodos, falam cinco línguas modernas com fluência e se interessam por diversas artes e ciências. Cada um tem seu nome impresso em letras legíveis no peito da camisa: Nasadoro, Goldfinger, Chrysostomos, Maindorée, Silversmile, Silberselber, Vifargent, Panargyros. São imediatamente nomeados para cargos públicos de confiança em vários países como gerentes de bancos, tráfego em ferrovias, presidentes de companhias de risco limitado, vicepresidentes de redes de hotelaria.”

Parte III — Nostos

EP. 16 EUMEU (pág. 932)
“As pessoas suportavam ser mordidas por um lobo mas o que realmente as irritava era uma mordida de ovelha.”

EP. 17 ÍTACA (pág. 950)
“O que na água Bloom, aguamante, extrator de água, aguatransportante, retornando ao fogão, admirava?
Sua universalidade: sua equanimidade democrática e constância a sua natureza ao buscar seu próprio nível: sua vastidão no oceano da projeção de Mercator: sua profundidade insondada na fossa de Java no Pacífico que excede 8000 léguas: a inquietude de suas ondas e partículas de superfície que visitam alternadamente todos os pontos de seu litoral […] suas fauna e flora submarinas (anacústicas, fotófobas), numericamente, se não literalmente, os habitantes do globo: sua ubiquidade por constituir 90% do corpo humano: a nocividade de seus eflúvios em alagadiços salobros, pântanos pestilentos, água de flores fenecida, poças estagnadas à lua minguante.”

EP. 18 PENÉLOPE (pág. 1062)
“[…] Senhor eu preciso me esticar queria que ele estivesse aqui ou alguém pra eu me soltar junto e gozar de novo daquele jeito eu estou me sentindo inteira pegando fogo por dentro ou se eu conseguisse sonhar com quando ele me fez gozar a segunda vez me cutucando por trás com o dedo eu gozei por uns 5 minutos com as pernas em volta dele eu tive que abraçar ele depois ah Senhor eu queria gritar tudo quanto é coisa caralho ou merda ou qualquer coisa mesmo só pra não ficar feia ou aquelas rugas da tensão vai saber como é que ele ia encarar uma coisa dessa tem que ir aos pouquinhos com os homens eles não são tudo que nem ele graças a Deus […]”

Curiosidade sobre o episódio (fonte: Wikipédia) — Neste episódio, o do monólogo de Marion Bloom, Joyce atingiu o auge da sua arte extraordinária. Arnold Bennett, em the Outlook, referiu que nunca lera nada que o superasse e duvidava que jamais se voltasse a escrever algo que o igualasse. Segundo Palma-Ferreira, que citou o anterior, este monólogo é uma obra-prima da ficção moderna e um marco inultrapassável na história da narrativa em prosa.

site: https://perchenonparli.wordpress.com
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Luísa Coquemala 02/06/2017

Sejamos francos: o caminho até Ulysses não é simples. Enquanto eu lia o livro, apreciando toda aquela acrobacia estilística, eu me sentia grata por ter certa carga de leitura (e paciência!) para conseguir atravessar tanta informação.

E não é só o caminho até o Ulysses que não é algo imediato. O caminho no Ulysses também pode se mostrar árduo. Talvez seja um daqueles tipos de percurso no qual a gente aprecia toda grandeza no fim, recapitulando o que conseguimos absorver.

Mas eu não quero ser enfadonha. Não vou ficar aqui tecendo loas ao estilo e à complexidade da escrita de Joyce. Isso eu deixo pra algo mais acadêmicos ou para os que querem colocar o livro no pedestal da impossibilidade. Até porque, acima de qualquer coisa, o Ulysses é um livro que, à sua maneira, consegue mexer com as dores e os sentimentos mais comuns. Por baixo de tudo, lá estamos nós. O livro nos lê.

Agora, para vocês terem um vislumbre. Bloom é o grande protagonista do livro. Ao longo do dia 16 de junho de 1904 (e um pedaço da madrugada do 17), acompanhamos as perambulações de Bloom por Dublin. Entramos na cabeça dele, conhecemos seus pensamentos, criamos até um certo afeto por ele (e, claro, ficamos cientes do que as más línguas dizem).

Bloom não quer voltar pra casa. Ele acorda, faz café, vai ao banheiro fazer suas necessidades, encontra alguns conhecidos no enterro do falecido Paddy Dignam, passa no trabalho e, por fim, resolve que não vai voltar tão cedo. Isso tudo porque às 16 horas daquele dia sua mulher, Molly, terá uma visita no mínimo suspeita. Sim: Bloom é o famoso "corno manso". Eu, um pouco romanticamente, tendo a ver uma certa resiliência aí.

Mas a questão é que o casamento de Bloom e Molly está aos frangalhos. Acomodaram. Não transam. E antes fosse só isso! Mas tem mais: Bloom já perdeu um filho, seu pai se suicidou, sua filha está prestes a perder a virgindade e Bloom, no fundo, sabe que fracassou. Ao lado de Bloom, também temos Stephen, jovem que acabou de perder a mãe, testemunha da bebedeira do pai e do abandono dos irmãos.

Nem tudo são flores em Ulysses. E eu diria que, essencialmente, o Ulysses é um livro sobre a dor. Há muitos outros personagens, muitos outros problemas. O monólogo final de Molly, deitada em sua cama, no silêncio da noite, é o contraponto perfeito, um desfecho de tirar o fôlego e marejar os olhos.

E isso ainda não é tudo.

Ulysses não é só mais um livro sobre o sofrimento e as dificuldades da vida moderna. No meio de tanta dor há o cômico, o baixo-corporal, breves momentos de extrema beleza. É preciso ter olhos para ver essas nuanças.

Eis o motivo pelo qual a história do Ulysses é incrível: é uma história essencialmente humana. Foi isso o que pensei ao terminar o livro e me deixou embasbacada. Ulysses dói porque as dores dele são, de certo maneira, as nossas próprias. Não estamos em um mundo de grandes feitos, de guerras e valentia heroica. Pelo contrário: estamos falando de casamentos falidos (muitas vezes sustentados pelas aparências), de família destruídas pela bebida, de filhos que não se dão bem com os pais, de mulheres reprimidas ou tratadas como objeto, de insegurança, do peso do mundo sobre o ombro de simples mortais (e talvez aguentá-lo seja o verdadeiro heroísmo).

A viagem de Bloom, então, é também um pouco das nossas. É o olhar para os nossos defeitos e a atenção aos problemas tão comuns que fazem do Ulysses um livro tocante. Porque, no fim das contas, a vida gira mesmo em torno disso: lágrimas, reflexões, perambulações, traumas. Ou então, como no fim, a lembrança reconfortante dos momentos de verdadeira ternura.

E quando terminamos Ulysses, a única certeza é de que o dia 17 acontecerá (apesar de não sabermos exatamente o que acontecerá). Mas a vida continua, os problemas e as dúvidas estarão por lá. Os nossos problemas também continuam por aqui - e, como no livro, continuamos vivendo apesar dos percalços e dizendo para a vida um sim como o de Molly. E eis o tema digno de narração: porque olhar para nossas questões com mais atenção é o que faz com que entendamos melhor a odisseia que é nossa própria existência.
Lucas 02/06/2017minha estante
Bela resenha. Parabéns!


Juliana 03/06/2017minha estante
Amei a resenha!


Sílvia 07/06/2017minha estante
Você me deu forças para continuar a leitura. Estava com uma tradução horrível. Comentei com uma colega de trabalho que me indicou outra versão. Está é mais tragável por assim dizer é mesmo assim está difícil


Luísa Coquemala 07/06/2017minha estante
Oi, Sílvia. Obrigada pelo seu comentário. Eu também gosto mais da tradução do Galindo! Sabe o que eu acho que pode te ajudar? O Galindo também escreveu um livro chamado "Sim, eu digo sim" - é uma espécie de comentário dele sobre o Ulysses, e é dividido pelos capítulos. Me ajudou muito! Eu lia um capítulo do Ulysses, o correspondente no Galindo, e aí voltava para o Ulysses. Eu recomendo. Espero ter ajudado!


Lau B. 16/07/2017minha estante
Muito boa sua resenha. Acessível, verdadeira e bem escrita. Seu texto conversou bastante comigo e com minha experiência de leitura. Realmente me fez sentir numa conversa, ideias fluindo, felicidade de ter com quem falar do livro!


Sílvia 16/07/2017minha estante
Ajudou sim, Luísa. Vou procurar


Lucas 08/09/2017minha estante
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Mirzão 06/03/2019minha estante
Adorei sua resenha, parabéns!




Marcel Koury 26/09/2015

Na obra, o escritor irlandês nos apresenta Leopold Bloom, um agente publicitário a quem acompanhamos ao longo dos afazeres do dia 16 de junho de 1904. Ele acorda cedo para seu desjejum, servindo sua esposa na cama; depois vai ao cemitério para o funeral de um amigo, e antes do meio-dia, visita a redação de um jornal para editar um anúncio — ainda terá pela frente uma tarde de percalços e uma noite de descobertas.

Pelas movimentadas ruas de Dublin, seguimos em sua companhia e lá encontramos outros peculiares personagens, entre eles, Stephen Dedalus, o prodigioso escritor que Joyce criara em "Um Retrato do Artista Quando Jovem" (1916), seu alter ego — ele reaparece como um flâneur que, tendo recebido seu ordenado naquela manhã, está à vontade para passear pelas mesmas ruas de Bloom.

Dedalus esgrime suas idéias em alentados debates intelectuais sobre a História da Arte, Literatura e poesia; ele também tem opiniões formadas sobre a história da Irlanda, seus heróis nacionais e sua subserviência aos ingleses, enquanto Bloom, homem simples, ora distrai-se pelas mulheres que cruzam seu caminho, ora deixa-se levar pelas incertezas quanto à fidelidade de sua esposa.

A tensão entre os dois — distintíssimas personalidades — leva a obra adiante. Bloom admira o reconhecido jovem (parece até mesmo enxergá-lo com a simpatia de quem está com um filho); já Dedalus partilha da opinião geral sobre o agente publicitário: a de que ele não é mais do que "um homem tosco e desalinhado".

Para trazer à vida seus personagens, Joyce vai ao topo estilístico: ele gira a densa narrativa em torno dos fluxos de consciência de cada personagem, "interiorizando" as ações, trazendo ao primeiro plano narrativo os pensamentos, desejos e anseios de cada um, dando voz díspar a cada qual. Nesse processo, iniciado em "Um Retrato do Artista Quando Jovem" — que bruscamente deixa para trás o vetusto estilo literário do Século XIX, com sua gama de personagens, pontuados diálogos e românticas descrições de paisagens —, o autor reinventa palavras e amalgama tantas outras, privilegiando a sonoridade, o estranhamento e as imagens poéticas.

Joyce tem Bloom em altíssima conta: ele é seu herói épico — entretanto, ao contrário da "Odisséia" homérica, "Ulysses" nos mostra a jornada/mitologia do homem comum.

_____

Em tempo:

Há outros dois magistrais romances que "utilizam" o prógono estilo narrativo de James Joyce em "Ulysses": "Mrs. Dalloway" (1925), de Virginia Woolf, e "Contraponto" (1928), de Aldous Huxley.
Gustavo 11/11/2015minha estante
Lendo isso aqui me deu vontade de ler! :)




Bbortolotti 28/07/2020

Mais um feliz leitor a ter escalado o Everest da literatura
Sim, Ulysses é um grande desafio de leitura para quem está acostumado com romances mais convencionais, linguagem mais simples, personagens nem tão complexos. E mesmo comparado com grandes livros da literatura ocidental, Ulysses é difícil. Contudo, deixem essa fama de leitura impossível de lado. Impossível pra mim é eu, como leigo, ler os livros do Kant ou do Heidegger, isso sim. Mas Ulysses? É um romance, uma história e com uma trama relativamente simples: personagens circulando, interagindo, conversando, bebendo, transando, refletindo durante 18 horas na cidade de Dublin. É simples assim. A riqueza e a beleza do livro estão, no entanto, na linguagem revolucionária de Joyce. Justamente o ponto mais difícil do livro é também o mais fascinante. Se você está acostumado com diálogos, narrações em primeira ou terceira pessoa ou mesmo o famoso discurso indireto livre, prepare-se para uma experiência de leitura radical. Por vezes você vai se sentir num bar em Dublin com um pint de Guiness e várias vozes falando ao mesmo tempo, outras vezes você vai se perder em monólogos profundos e dissonantes, como o famoso capítulo de Molly Bloom, ou mesmo um flâneur caminhando e observando cotidianas ocorrendo simultaneamente pelas ruas de Dublin.

Dito isso, posso falar das minhas maiores dificuldades nesse tortuoso e prazeroso trajeto de Ulysses.
A primeira é a própria linguagem. Como Joyce a todo momento brinca com estilos, joga, experimenta, por vezes a leitura exige muito. Você está acostumado com uma forma de narrar e ele muda, muda de novo e de novo e de novo. Isso, para quem não está acostumado com romances modernistas ou obras mais vanguardistas, pode virar um grande empecilho para seguir no livro. Mas não se deixe abater, essa experiência mais blasé em alguns momentos da leitura é também algo que faz parte da própria simulação da experiência fragmentária da modernidade. Você vai se perder e se achar em vários momentos na Dublin de Joyce.

A segunda dificuldade e a mais árida pra mim foi a enorme quantidade de referências. Tenho certeza que há muitas coisas em Ulysses que só um irlandês que conheça a história do país vai conseguir pescar. Há também várias referências de livros, autores , e experimentações comlcom vários gêneros literários. Por fim, há várias citações, poemas e frases em outros idiomas. O Google pode ajudar, mas não se preocupe porque provavelmente você vai passar longe de entender todas as referências.

Há alguns outros desafios como o fato do livro ser longo, às vezes parecer monótono, mas não se engane, isso é algo bem tranquilo de superar. Insista.

Posso dizer com toda sinceridade que esse livro merece ser relido por mim. Parece ser um livro inesgotável e que sempre vai trazer várias novas percepções. Quem sabe posso relê-lo talvez num Bloomsday?
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Valério 27/01/2014

Profundo e com altos e baixos
Ulysses é seguramente o livro mais difícil que já li. A narrativa inteira transcorre em algumas horas. O fluxo de pensamento é adotado de forma livre e que até confunde. É verdadeiramente uma grande obra. Mas fica cansativo. Mesmo tendo lido tradução de Houaiss, dá pra ver que grande parte do tesouro do livro está em criações linguísticas intraduzíveis. Seguramente a versão na língua original é muito mais interessante.
A narrativa alterna altos e baixos, com passagens onde gostei bastante da leitura. Já por vezes, é entendiante.

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Victor almeida catende 09/09/2023

Mergulho nas águas da vida.
Ulysses, Ulysses, Ulysses. Que pancada literária que tu és. És um livro para nos perdermos na complexidade da vida. E entendermos que nem tudo que vivemos precisa ser entendido.
Muito do que li eu não poderia explicar, mas de alguma forma me tocou, com seu estranhamento, suas minúcias. Bloom com sua crise interna, que todos nós temos, desde o mais pleno ao mais perdido homem. Enfim, poderia resumir o livro com apenas um trecho que veio da mente da Molly Bloom ou seria do James Joyce?

?A vida sempre é alguma coisa pra pensar a cada minuto e ver tudo em volta como um mundo novo?
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cibelefrahm 25/12/2022

Ulisses é um livro que não é pra ser lido como uma história normal. Se for, a gente acaba achando simplesmente chato e/ou ruim, porque não segue um processo narrativo usual, algo que estamos acostumados. É um livro de experimentações de forma e linguagem, principalmente da metade pra frente.
Por esse motivo não gostei muito, porque complica demais, por vezes beirando o incompreensível e tornando a leitura densa. Só que é por esse mesmo motivo que também gostei dele, principalmente porque tive minha leitura mediada através de outros profissionais das letras. Muito do sentido de Ulisses foi trazido à tona por causa disso, apesar de que não podemos ler esperando tirar sentido de tudo.
O caso é que perceber quais são as experimentações faz com que se veja/leia a história sob outro prisma, tornando possível entender o caráter da suposta genialidade de James Joyce. Além disso, as três principais personagens são maravilhosamente humanas e bastante progressivas dentro do contexto em que vivem.
Para quem conhece Dublin, isso deve ser um ponto positivo extra, já que vai tornar possível reconhecer onde eles estão e para onde vão geograficamente - já que é justamente essa a premissa do livro, a odisseia pela qual passam durante aquele 16 para 17 de junho. Já esse espaço para mim não teve tanto impacto, porque li como uma ambientação somente, sem ter a visão do todo, numa primeira leitura.
Destaque para os episódios 10, 17 e 18.
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Felipe Augusto 30/12/2020

Maravilhoso!!!
Acabando de ler esse clássico da literatura mundial.
Foi uma leitura muito difícil em um ano muito difícil, mas como foi bom conseguir terminar esse livro ainda este ano, tive muitas dificuldades e ler esse livro nem tanto pela quantidade de páginas que são 1112 pág mas pela complexidade foram 339 dias!!!! Mas é maravilhoso o livro não entendi muito do livro com certeza, terei que ler ele novamente mas é sensacional.
Teve momentos que pensei em abandonar a leitura ia ler outros livros mas depois voltava a ler novamente ele.
Fico feliz fechar minhas leituras este ano com essa épica história do James Joyce.
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Ramalho 16/06/2021

Só leiam. Hilário!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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