Tamirez | @resenhandosonhos 29/08/2018O Diário Secreto de Laura PalmerEsse é um livro perturbador em vários aspectos e vou tentar passar pra vocês todas as minhas sensações na hora da leitura. Primeiro foi interessante e infantil ver Laura ganhando seu diário e começando a compartilhar seus pensamentos. Depois, vimos ela ter seu primeiro período menstrual e as dúvidas sobre o que aquilo representava pra ela enquanto menina. Logo após, as curiosidades sobre o corpo e sexualidade, coisas que ela desconhecia ou não pensava sobre.
Até aqui eu estava me identificando bastante com a personagem e pensando que aquilo é provavelmente o que todas nós, jovens adolescentes passamos: um período de dúvidas que se empilham em nossa mente. Mas ai algo em Laura mudou, foi quase como se um gatilho tivesse sido ativado. De uma entrada para outra ela muda completamente e descobrimos que ela é atormentada por algo muito maior do que a menina da primeira confidência revelou.
“Às vezes, quando estou sonhando, sinto-me presa em uma armadilha e com muito medo. Mas agora quando olho para o que acabei de escrever, já não sinto tanto medo. Talvez eu escreva todos os meus sonhos de agora em diante para não ter mais medo deles.”
A princípio pensei que o abuso era real e que aquele que a visitava a noite era alguém de verdade, que se aproveitava da ingenuidade da criança para se mascarar como sonho. Porém, ele toma espaço no diário e Laura escreve como se fosse ele, mostrando um viés de caos psicológico que não tinha se apresentado antes. Bob a atormenta e faz coisas com ela, coisas essas que ela parte em busca de conhecer na vida real e verdadeiramente vivenciar.
A partir daí a vida dela entra num rumo completamente diferente. Ela se afasta da melhor amiga e começa a ter experiências com drogas, sexo, orgias, abuso e até prostituição. A Laura Palmer que começa o diário desapareceu e o que temos agora é somente a confusão que essa garota se transformou.
“Esses dias tenho pensando na Morte como uma companheira que desejo encontrar.”
Algo que me chamou muito a atenção é que por ela ser criada em uma cidade pequena e dentro de uma família convencional, por vários momentos vemos ela se auto analisando e vendo o quão ruim está sua vida. Ela se sente suja, má. Ela não quer ser uma “menina má”, voltando quase a ter comportamentos infantis quando entra nesse mérito. Parece que Laura tem várias personalidades e ela não tem mais controle sobre qual delas está em comando.
A partir de um certo momento vemos que não há mais volta, ela se perdeu. E nos últimos relatos, poucas semanas e dias antes de sua morte, ela está desesperada. Alguém violou seu diário, páginas foram arrancadas, sentenças ficam sem ser terminadas. Mas será que foi alguém estranho ou foi a própria Laura que agora não se lembra mais do que fez pois não estava em controle? E então, um dia, ela faz sua última confissão e é encontrada morta. Não sabemos o que aconteceu com ela ou quem a matou, e se não tivéssemos o conhecimento da série, nem saberíamos que ela tinha morrido. O fim é abrupto e inesperado, bem como a vida de quem escreveu aquele diário.
“Não há cocaína. Ela desapareceu. Odeio o modo como me sinto… como se estivesse num vácuo, meu corpo tem sido violado, meus pensamento, meus sonhos, a imagem que tenho de minha mãe e de meu pai são agora de figuras terríveis e deprimentes, as quais não consigo deixar de ver… Ah, se ela soubesse das coisas que têm acontecido.”
A leitura foi um mar de sentimentos, da identificação ao espanto. Eu iniciei essa leitura sem muitas expectativas, apenas acreditando que iria gostar porque sempre me dou bem com tramas que trazem diários ou cartas, mas não imaginei que iria ficar tão abalada com a leitura. As páginas voaram e como são separadas pelos dias que ela escreve, flui super bem por serem capítulos curtos e com bom espaçamento entre eles.
Um curiosidade interessante é que ele se tornou leitura de várias escolas americanas, apesar de ser bastante pesado, pra exemplificar essas questões de adolescência para os jovens, o que fez muitos acreditarem que Laura Palmer fosse uma jovem real. Mas não, ela é uma personagem ficcional e teve o diário escrito e publicado depois do sucesso da série como um complemento para os fãs ou para os curiosos, que assim como eu, encaram a história sem ter assistido nenhum episódio.
Não sei o que esperar da terceira temporada ou de como ela se vinculará com a história principal, mas com toda certeza vou conferir quando estrear pra descobrir mais sobre Laura Palmer e o que realmente aconteceu com ela.
site:
http://resenhandosonhos.com/o-diario-secreto-de-laura-palmer/