Livros da Julie 28/03/2020Um livro arrebatador!-----
O livro é composto dos seguintes textos, escritos entre 1905 e 1941:
- Profissões para mulheres
- A nota feminina na literatura
- Mulheres romancistas
- A posição intelectual das mulheres
- Duas mulheres
- Memórias de uma União das Trabalhadoras
- Ellen Terry
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"Minha profissão é a literatura; e é a profissão que, tirando o palco, menos experiência oferece às mulheres"
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"Escrever era uma atividade respeitável e inofensiva. O riscar da caneta não perturbava a paz do lar. Não se retirava nada do orçamento familiar."
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"(...) foi por causa do preço baixo do papel que as mulheres deram certo como escritoras, antes de dar certo nas outras profissões."
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"(...) creio que é uma experiência muito comum entre as mulheres que escrevem - ficam bloqueadas pelo extremo convencionalismo do outro sexo."
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"(...) uma mulher (....) ainda tem muitos fantasmas a combater, muitos preconceitos a vencer."
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"E não será uma mulher o crítico adequado das mulheres?"
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"Teriam finalmente decidido a escrever porque desejavam retificar a opinião corrente sobre o sexo feminino, expressa em tantos volumes e por tantos séculos por autores do sexo masculino?"
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"(...) o público vai julgar se os padrões de pureza moral apresentados na obra correspondem aos que ele tem direito de esperar do nosso sexo."
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"A tentativa de acalmar ou, mais naturalmente, de ofender a opinião pública é um desperdício de energia e um pecado contra a arte."
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"(...) qualquer ênfase deliberada, seja por orgulho ou por vergonha, no sexo de um escritor é, além de irritante, supérflua."
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"Pois a degradação de ser escravo só se equipara à degradação de ser senhor."
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"(...) quase impossível convencer o mundo de que uma bela mulher obteve suas honras de maneira justa."
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"(...) uma jovem culta ou mesmo talentosa é o monstro mais intolerável de toda a criação."
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"E está certo gastar o dinheiro em chapéus e conduções em vez de livros instrutivos?"
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"Naturalmente a leitura levou à argumentação."
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"(...) o bem mais precioso que existe - uma sala onde podiam sentar e pensar, longe das panelas fervendo e das crianças chorando"
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Este foi o primeiro livro do projeto #Virginiando2020, promovido pela @naneandherbooks, e o primeiro que leio da autora. São resenhas literárias, discursos e ensaios que nos mostram a visão feminista de Virginia, sua forma de pensar não convencional e a perspicácia com que analisa o rumo da literatura, a situação da mulher e diferentes histórias de vida. São textos curtos, alguns irônicos, outros pungentes, que ensejam longas reflexões. Guardadas as devidas proporções, as observações feitas pela autora ainda podem ser aplicadas aos nossos tempos.
Inicialmente, Virginia fala sobre suas experiências profissionais e a facilidade de se dedicar à escrita e ter retorno financeiro, mas teve que se livrar dos pensamentos e do comportamento normalmente exigido de uma mulher à época para poder ter liberdade de expressão e opinião em suas resenhas e obras.
Ela ressalta a necessidade de se estudar não apenas a literatura, mas também a história social e a repressão doméstica e moral das mulheres para falar sobre as romancistas. Ela aborda o desestímulo familiar e as restrições educacionais, econômicas e profissionais impostas às mulheres. Desde muito, a mulher é exigida em tempo e energia como procriadora e mãe e o potencial feminino para atingir os mais altos níveis é limitado pela falta de acesso completo à educação e pela falta de liberdade e autonomia para dedicação ao aprimoramento de suas capacidades.
Ao longo do livro, Virginia contesta opiniões como "a mulher romancista está acabando com o romance como forma de arte", "as mulheres são intelectualmente inferiores aos homens, principalmente em capacidade criativa", "só há grandes poetas, romancistas, pintores, escultores, músicos, filósofos e cientistas homens" e "o menor intelecto cria um desejo instintivo de submissão". Citando renomadas autoras e personalidades femininas, a autora pontua que a tentativa de definição e conceituação da romancista é limitante e não deixa de ser uma forma de enquadramento. As obras de homens e mulheres diferem nas experiências e na descrição dos personagens, o que é um incentivo para que ambos os sexos sejam autores, pois isso enriquece o mundo literário e amplia os pontos de vista.
Virginia aproveita para enaltecer a determinação e o propósito das mulheres envolvidas na política e a importância dos temas e leis que eram debatidos (salário, impostos, jornada de trabalho, direito de voto, educação, divórcio). Ela afirma seu distanciamento dessas questões, por levar uma vida privilegiada, sem as agruras de uma mulher trabalhadora. Apesar disso, entende que 'operárias' e 'damas' são dois lados de uma mesma moeda, indissociáveis, não sendo cabível o preconceito ou o desprezo de um lado ou outro, mas sim a troca de experiências, a amizade.
Uma maior empatia com a classe trabalhadora só ocorre após a leitura de relatos de algumas de suas representantes, quando passa a ter maior noção da dura realidade de quem começa a trabalhar ainda na infância. Com senso de responsabilidade social, Virginia reporta a crueza e a beleza desses relatos, sabendo que trará ao conhecimento comum histórias de uma classe que não é a mesma de seus leitores. Ao mesmo tempo, se questiona sobre escolhas: devemos determinar nosso caminho ou seguir nossa natureza? É necessário que a mulher faça uma escolha ou ela pode ser uma, duas, toda e qualquer coisa, a qualquer tempo?
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