Andre.Pithon 21/09/2023
Bingo de Fantasia Especulativa
4.4: Robôs
Sempre ouvi falar de Asimov, obviamente, mas é algo que eu sempre passei longe por ter certeza de que definitivamente não seria pro meu gosto, que sempre me vejo descontente com ficção científica mais clássica, muito mais adepto do estilo mais rápido e direto do contemporâneo. Imaginava um livro lento em que nada acontecia, discussão filosófica de "Ain sou um robô não posso bater nas pessoas", tédio. Mas, preso na encruzilhada entre Asimov e ler mais do detestável Murderbot de Martha Wells, e seguindo a recomendação de algum amigo que entende mais do panorama que eu (mesmo que normalmente recomende fora do meu gosto), dei uma chance.
E é bom.
Não só bom, é meio que excelente? O ritmo é gostoso, o livro consegue se mover rápido, o tom noir investigativo era completamente inesperado para mim, e mesclado com as especificidades de uma sociedade de futuro próximo começando a envolver robôs em seu dia a dia, consegue mesclar o toque filosófico esperado com um mistério simples mas intrigante, que te mantém curioso durante todo o decorrer da obra. Não parece uma obra de 1950, muito comparável em qualidade com o ganhador do Hugo A Memory Called Empire que eu recentemente li, claro que sem as sensibilidades de hoje, mas tão bom quanto em worldbuilding, plot e ritmo. (Talvez até melhor em ritmo? Os capítulos curtos passam rápido sempre trazendo acontecimentos novos, e Asimov não parece nunca desacelerar, mesmo durante as intensas gritarias sobre tecnicidades robóticas)
Há um forte tema do lugar do homem, da hiper-civilização contra o, como eles chamam, medievalismo, a busca pelo passado e pelo tradicional, da substituição de homem por máquina, tensões políticas interplanetárias, e o livro entrelaça tudo muito bem com o mistério do assassinato de um diplomata dos planetas externos. Acompanha-se Bailey, um detetive policial de ranque meio questionável, e um imposto a ele parceiro robô, caindo na batida mas funcional dinâmica de buddy-cop, que talvez não fosse tão genérica em 1950, mas funciona perfeitamente. A relação de ambos tem o desenvolvimento esperado, mas gosto da conclusão e da forma como todas as pessoas são movidas.
E tenho de fazer o elogio de sempre, que o livro termina? Uma história fechada, que conta o que se propõe, e sei que continua por mais três livros, mas a narrativa termina satisfatoriamente.
Li muito pouco esse mês, estranhamente menos produtivo durante as férias, mas matar esse livro em uns três dias aumentou em muito a qualidade literário desse Setembro em que o foco definitivamente não está na literatura.