Jardim de histórias 28/02/2023
Um livro de percepções, desconstrução e reconstrução!
Estar vivo talvez seja isto: espreitar os instantes que morrem.
Quando os pássaros que escolhem não ter asas resolvem se atirar no abismo. Quando a verdadeira filosofia do ato de viver, se projeta sem pontificações, nos inspirando a um olhar profundo para nosso interior. O que parece uma introdução Kantiana, é, na verdade, essa obra sensível em meio a robustez do tema, cuja tem como aspecto o existencialismo. O quão grandioso é um diálogo mental em meio a introspecção resultante em reflexos de uma vida que percebemos inexistente. Por um lado, você tem uma narrativa por um olhar maduro, que optou pelo véu da invisibilidade, camuflando-se com estereótipos, tanto com a conformidade proveniente da zona de conforto, quanto a sensação gerada pela armadura que proporciona o devido bloqueio, tornando-a inacessível as percepções. Por outro lado, a narrativa de uma jovem repleta de ideias e sensações, capazes de fazer se perder nela mesma e ao se encontrar perceber a incompatibilidade de um mundo ilusório. Durante esse ensaio de percepções, a narradora Renée a Concierge que vive sua quarentena moral, nos abastece saborosamente com o seu discurso crítico, porém, consciente, sobre os efeitos, não às causas e sim efeitos, dos choques culturais e os abismos sociais, com uma crítica muito autêntica sobre os aspectos da burguesia em relação ao povo. Devido ao estado de inflamabilidade potencializado pela cláusula ideológica e a introspecção, o teor de suas críticas, despidas da ira, são um bálsamo intelectualizado da consciência analítica. Agora, por outro lado, também referir-se a aristocracia, e diga de passagem, nunca li uma crítica a hipocrisia da aristocracia tão sagaz, quanto a da jovem Paloma Josse, a segunda narradora. Um olhar profundo, que em tese, não deveria ter essa imersão, devido ao que entendemos de maturidade em desenvolvimento, porém, mesmo através deste olhar jovial e sensível, carrega a visceralidade do julgo, que a todo momento faz críticas mentais sobre aspectos cotidianos e sociais, tomando como exemplo o quão banal e superficial é o comportamento de sua família aristocrata e de alguns vizinhos. Essas duas narrativas, precisavam de um catalisador, ou seja, um ponto de apoio, que trouxesse um equilíbrio para a história, que olhasse para essas duas narradoras e enxergasse além, sem um olhar para si mesmo no outro. Esse ponto de apoio é o personagem, chamado Kakuro Ozu! O maravilhoso Sr. OZU. Um senhor metódico, simpático e muito humano, que se conectou perfeitamente no contexto. Primeiro, é importante contextualizar a história. Tudo, embora gire em torno do edifício nobre onde residem, trazendo às impressões de uma "escatologia "moral e social visto metaforicamente dos aspectos construídos de ideias que os narradores, também moradores deste local, criam dos vizinhos, mas que, filosoficamente, tem muito de nossas próprias impressões. O livro, nos apresenta várias impressões interessantes e subjetivas, é importante salientar isso, pois, nem todos terão a mesma percepção. O que eu posso dizer e digo, que a forma filosófica que Muriel Barbery utilizou para contar essa história, sob olhar em meio aos conflitos individuais, foi simplesmente estupenda. Um livro para ler, reler, estudá-lo e principalmente deliciar-se. Como ponto de melhoria, sugiro uma revisão na tradução. Existem algumas palavras ou termos, embora não atrapalhe muito na condução da história, mas estão diferentes do francês, como se fosse feita uma tradução literalmente sem olhar para o contexto ou outro significado. Lembrando que são bem pequenos problemas, não comprometendo a história fascinante.