antuan_reloaded 18/02/2023
[8/10]
De todos os aspectos que compõem uma narrativa, acredito que a linguagem seja uma das mais desafiadoras de se construir. Digo isso, pois é a responsável por envolver e cativar todos os tipos de leitores.
Em "Água Funda", esse aspecto se sobressai, fazendo com que seja uma de suas maiores surpresas. Ruth Guimarães mimetiza de forma ímpar a essência da linguagem da região sul de Minas, onde viveu sua infância.
Em vários momentos, é como se o leitor estivesse sentado com anciãos que, misturando suas vozes, contam a história:
"A morte não é castigo, e Deus que poupou o Joca, à toa não foi. Alguma coisa ele tem para pagar [...]. Mas é melhor contar as coisas direito, sem pular para a frente, senão não se entende"
Nesse sentido, o narrador é outro aspecto fundamental para a riqueza dessa obra. Nota-se que a história é contada sob o ponto de vista de anônimos, uma espécie de voz coletiva.
No entanto, essa voz coletiva é formada por pessoas que viveram e conhecem aquela região e que somando um fato a outro vão compondo o imaginário polular dali:
"Onde mora? Mora no fundo da terra [...]. A gente enxerga um minuto só aquilo, avermelhado no ar. Depois some. Eu já vi. Vi com estes olhos que a terra há de comer, a Mãe de Ouro se mudando de Olhos D?Água."
Apesar desses pontos, senti que no final a escrita ficou meio perdida, assim como boa parte dos personagens. Consequentemente, as soluções dadas para cada um deles me pareceram um pouco previsíveis: todas trágicas.
De toda forma, isso não é capaz de tirar o brilhantismo de "Água Funda". Este é um romance para ser lido rápido e que, sem dúvida, tem o seu valor, seja para o imaginário popular, seja para a literatura brasileira.