Barba ensopada de sangue

Barba ensopada de sangue Daniel Galera




Resenhas - Barba ensopada de sangue


201 encontrados | exibindo 76 a 91
6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 |


And 05/03/2014

Muito Bom
Apesar de não ser uma história dinâmica, ela te prende do começo ao fim. Acompanhar a trajetória deste rapaz em sua nova vida em Garopaba é bem interessante, os amigos que faz e a vida que começa a tomar uma nova forma é algo que da gosto de ler.
comentários(0)comente



Wilson 22/03/2013

Grande candidato a clássico!!!
Impossível não se apegar aos personagens do “Barba Ensopada de Sangue”, Daniel Galera constrói com facilidade uma narrativa envolvente com diálogos concretos e introspectivos dando completa autonomia aos personagens. Transcende a barreira existente entre a ficção e a realidade, em determinado momento a impressão que se tem é de estar lendo uma biografia. Um romance que beira o suspense envolvendo todos os moradores da pequena cidade litorânea de Garopaba, suas historias e tradições. O dia-a-dia de um professor de educação física, a morte de seu avô sem um apuramento lógico dos fatos pelas autoridades locais ocorridas em sessenta e sete, fazem com que ele comece a remontar os fatos como um quebra-cabeça, ao mesmo tempo tem que lidar com suicídio recente do pai, a cadela “Beta” deixada por ele, e seus relacionamentos efêmeros, mas intensos. Uma historia de tradição, dividas a serem pagas e promessas cumpridas. Parabéns a editora Companhia das Letras pelo excelente trabalho, e por sempre manter o compromisso com uma literatura de qualidade.
comentários(0)comente



miguel 07/04/2015

Realista e bem escrito
É um livro difícil de resenhar, porque aparentemente não há uma boa história sobre a qual opinar. Mas então, como pode ser tão bom?

Em Christine, Stephen King conta uma história sobre adolescentes e um carro assassino. Nada poderia ser mais desinteressante, se não fosse bem escrito. ( Sim, sei que isso é polêmico, mas não ligo. O livro é bom e vendeu aos montes ).

Trópico de Câncer, de Henry Miller, é um texto ácido sobre muitas coisas banais, e algumas vezes sobre coisa alguma. Sobre nada ou sobre elucubrações. Mas é excepcionalmente bem escrito.

Não é que Barba ensopada de Sangue não tenha uma boa história. Tem até mais que uma. Acontece que o encanto não é óbvio e não está explícito no enredo. É o conjunto das dificuldades que o autor despeja sobre o protagonista, que sofre de um distúrbio cognitivo raro, de quem o leitor não descobre o nome, professor de educação física e atleta, desprovido de ambições, envolvido em relacionamentos mornos, passando um período particularmente triste da vida, cercado de desafetos e antipatizantes, afastando-se intencionalmente de amigos e familiares e investigando a misteriosa morte de seu avô. Tudo descrito com simplicidade, força, economia e realismo, quase como se não fosse ficção. É possível acreditar em tudo aquilo.

Eu acreditei.

site: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12453
comentários(0)comente



MVGiga 16/04/2014

O homem comum e incomum
Um cara vivendo em uma cidade comum, em um emprego comum com um defeito físico incomum.

Somos apresentados á um homem sem nome, cuja deficiência de nascimento é a incapacidade de reconhecer e memorizar rostos. Na companhia de sua cadela, esse homem com necessidades especiais tem como objetivo desvendar mistérios do passado de seu avô (que foi brutalmente assassinado, porém não há indicio do seu corpo e a policia local não sabe/não deseja saber dos detalhes), além de afastar os fantasmas da sua própria vida.

Este livro teve um profundo significado para mim, pois assim como o livro de Gabriel Garcia Marquez / Cem Anos de Solidão, me fez pensar sobre a busca do conhecimento e resgate de minhas raízes e valores familiares. O desfecho desse livro foi uma das melhores e mais tensas que li em toda minha vida.
comentários(0)comente



Bia 17/07/2014

Primeiramente, vale ressaltar que o título do livro pode causar impressões equivocadas, porque pode levar alguém (assim como eu) a pensar que se trata de uma estória violenta, mas não é bem assim. Só se descobre o porquê do título no fim do livro e não há muito como contextualizá-lo com a estória (sim, isso é quase um "morra de curiosidade"). Particularmente, não gostei do motivo do título, me pareceu meio aleatório, mas que não acho que isso tem qualquer importância...não deve ser nada fácil arranjar um título pra um livro.
O livro conta a estória de um esportista que decide se mudar para a praia de Garopaba, pequeno município de Santa Catarina, entre outros motivos, para investigar sobre o caso mal resolvido do assassinato do próprio avô, que aconteceu nessa mesma cidade na década de 60 e que mais se assemelha a uma série de lendas ou invenções do povo, não havendo fatos concretos a respeito dessa morte. Após a sua mudança, o professor de educação física passa a reconstruir sua vida na cidadezinha, conhecendo novos amores, novos amigos e também inimigos. Quase todos pessoas bem interessantes.
A estória é bem moderna, acontece por volta de 2008. A escrita é direta, sem rodeios e sem pudores e é bem caracteristica com relação à fala da região. Tem bons personagens, com boas construções de personalidade, certamente bem melhores do que a maioria popular internacional que domina o mercado. O personagem principal, cujo nome ninguém sabe, é bem cativante, ele é uma pessoa simples que aceita a todos como são, sem julgar ninguém. Ele ajuda a qualquer um sem pedir nada em troca e mesmo assim, não é um personagem "bom moço" convencional, o que o torna mais original e mais interessante.
Esse livro me surpreendeu bastante por possuir uma profundidade cultural sobre assuntos diversos (que, pelo menos por mim, não era esperada) que achei bastante enriquecedora. Além disso, ele leva a uma familiarização com a pequena cidade, mostra os seus problemas e suas vantagens, mostra como as pessoas vivem e adquirem suas rendas e mostra também o fato bem interessante de como as pessoas podem ser supersticiosas (gostei muito disso)...
Por fim, eu recomendo esse livro, achei uma leitura agradável e divertida. E eu queria dar um conselho pra quem ainda não leu: assim que acabarem de ler o livro todo, releiam o texto em itálico que tem antes da parte um do livro (prólogo)!

http://universonaestante.blogspot.com.br
comentários(0)comente

Kelly 13/12/2013minha estante
To lendo e adorando. Achei a resenha muito boa.


Bia 24/12/2013minha estante
Obrigada, Kelly!




Sebo Por Todo C 08/08/2014

BARBA ENSOPADA com pouco sangue
Barba ensopada de sangue, Daniel Galera
Companhia das Letras, 2012, São Paulo, 424 páginas

Difícil esquecer de como o primeiro capítulo é bom. A consersa entre pai e filho se dá sem travessões, no ritmo coronário de quem recebe a notícia que o pai pretende se matar.

Ao filho sem nome até a última das 424 páginas fica a incumbência de sacrificar Beta, a cachorra-companheira do pai e, depois, do filho que não conseguiu manter a promessa de sacrifício.

Nadador excepcional, competidor de provas de Iroman, após o suicídio do pai o filho muda-se para a cidade litorânea de Garopaba, local que mantém em segredo a morte do avô Gaudério, assassinado em circunstâncias pouco claras.

Arruma emprego como professor de natação e dribla a dificuldade neurológica em guardar rostos, faz alguns poucos amigos, anmora, recebe visitas, nada para o fundo mesmo embalado pelo medo do mar. Nessa caminhada é sempre acompanhado por Beta, a cachorra sobrevivente à promessa de sacrifício, a um atropelamento que a deixa desenganada aos olhos de todos até ganhar a crença de que é imortal.
A sucessão de fatos cotidianos é narrado sem sobressaltos ficando ao leitor a responsabilidade de sempre achar que “algo” irá acontecer, que trará às páginas a promessa de ação violenta adiantada pelo título do livro.

Mas a vida do professor de natação continua entre aulas, namoros, sucessões de pequenos fatos como a vida de qualquer um. Lembra cena de reality show em que o personagem não sab que está sendo vigiado por câmeras que registram o mais comum dos dias e da vida.
Daniel Galera tem o dom para criar diálogos. Isso ele tem. Deixa o fio condutor estendido entre a tensão do que poderá acontecer e as descrições minuciosas não de coisas ou paisagens, mas dos conflitos de família, nos fatos da vida.

Se o primeiro capítulo é bom, o último não fica atrás. Deixando para esse final toda a tensão dos fatos que o leitor, de antemão, já sabe ao ler a primeira página do livro.

Não sou fã de tanto bla-bla-bla que unem o primeiro ao último capítulo, mas é uma leitura que vale a pena, da primeira à última página.

Trecho predileto, p. 18/19
“O pai diz que ele e o avô não eram semelhantes apenas no sorriso, mas em numerosos aspectos físicos e de comportamento. Que o vô tinha esse mesmo nariz, mais estreito que o dele próprio. O rosto meio largo, os olhos meio afundados no crânio. A mesma cor de pele. Que aquele sanguezinho indígena do avô tinha pulado o filho e caído no neto. Esse teu porte atlético, diz o pai, pode ter certeza que vem do teu vô.
[...]
Teu vô tinha pavio curto. Ô velho desaforado. Era famoso por puxar faca por qualquer coisa. O homem ia ao baile e brigava. E até hoje não entendo como ele arranjava briga, porque bebia pouco, não fumava, não jogava e não se metia com mulher. A tua vó quase sempre saía junto com ele, e é engraçado, ela parecia não se importar com esse lado violento dele. Ela gostava de ouvir ele tocar. Ele era um violeiro e tanto. Uma vez tua vó me disse que ele era daquele jeito porque tinha alma de artista mas tinha escolhido a vida errada. Que ele devia ter percorrido o mundo tocando música e botando pra fora os sentimentos filosóficos dele – foi essa a expressão que ela usou, lembro claramente – em vez de ter começado a trabalhar na terra e se casado com ela, mas que ele desperdiçou esse caminho quando era muito jovem e depois ficou tarde porque ele era um homem de princípios muito rígidos e voltar atrás seria uma agressão a esses princípios.”
Conheça os livros do acervo http://PorTodoCantoLivros.blogspot.com e http://CenaDoCrimeLivros.blogspot.com
Para compra de livros e pagamento por cartão de crédito, pesquise no acervo completo em http://www.portodocantolivros.estantevirtual.com.br
e, ainda, o http://www.portodocantolivros.livronauta.com.br


site: http://PorTodoCantoLivros.blogspot.com e http://CenaDoCrimeLivros.blogspot.com
comentários(0)comente



Paula 15/03/2013

Barba ensopada de sangue, do jovem escritor Daniel Galera, possui um protagonista sem nome e sem rosto que decide desvendar o mistério que cerca a morte/desaparecimento do avô, ocorrida em Garopaba, litoral de Santa Catarina, no mesmo momento em que vive uma relação conturbada com outros membros da família.

As mais de 400 páginas podem assustar o leitor, mas a leitura é bem ágil e envolvente, mesmo havendo passagens muito descritivas. Talvez intencionais pelo fato do protagonista sofrer de uma doença neurológica rara, que não permite memorizar os rostos das pessoas nem o seu próprio rosto. Com isso, desenvolveu uma técnica: tentar guardar todos os detalhes físicos que compõem a pessoa. Se a quantidade de páginas pode intimidar, a capa instiga o leitor, com esse título tão forte.

Após muitas paisagens paradisíacas, peripécias e reflexões, nosso protagonista descobre o que de fato aconteceu com seu avô. Toda essa busca deixa clara a necessidade que ele tem de se autoconhecer e conhecer seu passado. Possivelmente seja o motivo para que ele não tenha identidade, construída ao longo do romance resgatando características do pai e do próprio avô. Podendo ser uma metáfora à intertextualidade, em que um texto sofre influência de outro.

Romance supercomentado em 2012, e continua sendo este ano, e aclamado pela crítica, leitura mais do que recomendada. Agora é só aguardar pela adaptação para o cinema.
comentários(0)comente



Nanda Lima 14/10/2014

Surpresa boa
Após uma breve análise dos meus hábitos de leitura, decidi ler mais obras brasileiras. Afinal de contas tem muito livro bom que já foi ou está sendo lançado no Brasil afora. Após ler Múltipla Escolha, da Lya Luft, optei por um romance contemporâneo e escolhi Barba ensopada de sangue, elogiadíssima obra do jovem escritor Daniel Galera, sobre a qual eu já tinha ouvido falar há algum tempo. Fico feliz em dizer que foi uma escolha muito acertada.

Confesso que minha expectativa, criada pelo título, era encontrar uma história de bang bang moderna passada nos campos sulistas do Brasil. Não foi isso o que encontrei o que não quer dizer que tenha sido ruim, pelo contrário. A partir do momento em que parei de criar expectativas na minha cabeça, passei a curtir melhor o livro.

Essa história é sobre a busca de um homem por respostas do seu passado familiar que, de alguma forma, diminuam a sua dor pela perda trágica do pai. Uma dor latente, da qual ele não prefere falar. Aliás, o protagonista está imerso em dores latentes: da perda do pai, da traição do irmão e da mulher que amava, da preferência da mãe pelo irmão, da solidão da qual ele não consegue fugir pois é da sua natureza ser só. É uma história sobre mitos também e sobre o folclore que existe nas pequenas cidades do Brasil em torno de histórias e personagens.

É um romance muito gostoso de ler, temperado com drama, trechos que te levam à reflexão (aliás, pelo menos para mim, todo o livro me fez refletir, especialmente sobre relacionamentos amorosos), romance e suspense. Mas não é só isso. A escrita e a trama de Galera possuem uma singeleza e ao mesmo tempo uma força que são difíceis de explicar. É uma escrita que marca, modifica o pensamento ou pelo menos mexe com ele e que te embarca na história sem esforço. A honradez e a luta do protagonista te levam a, naturalmente, sentir uma forte empatia por ele.

Recomendo Barba ensopada de sangue para qualquer pessoa e penso que, assim como foi comigo, essa leitura pode ser uma ótima porta de entrada para a literatura contemporânea brasileira para aqueles que se acostumaram a ler apenas o que vem de fora.

site: www.umaleitoraassidua.blogspot.com
comentários(0)comente



Jacqueline 24/11/2014

“A vida não é para amador”
"Há apenas dois lugares possíveis para uma pessoa: a família e o mundo inteiro"

Uma história bem contada que envolve o leitor desde o começo e o coloca em muitos momentos frente aos acontecimentos. Depois de ler o livro, temos a sensação de termos passado um período em Garopaba e até somos capazes de reconhecer a casa do protagonista (ainda que ela não exista mais). Pode-se dizer que se trata de uma saga contemporânea, em que as histórias de um avô, de um pai e um filho se entrelaçam de maneira espiral.
O livro é dividido em 3 partes. Na parte 1, conhecemos o protagonista (sem nome). É onde se dá a morte do pai e a ida do protagonista com o cachorro herdado para Garopaba (com direito a formulação de um dilema ético: não atender ao último pedido do pai - sacrificar a cachorra após sua morte -, mas ficar com ela e cuidar bem dela seria traição? Vale mais o espírito da coisa - garantir que a cachorra fique bem, não deprimida sozinha? Mas quem garante que somos capazes de depreender corretamente o espírito da coisa?). Ainda na esfera familiar, aqui também tem início a investigação da misteriosa morte do avô e temos conhecimento da briga entre os irmãos. Também na primeira parte, acompanhamos o protagonista se estabelecendo em uma nova cidade: arrumando casa, trabalho, namorada, amigos. Junto com o rearranjar da vida do protagonista, vemos um balneário se preparando para a baixa estação e descobrimos como não são raros os casos de gentes que se mudam para lugares como Garopaba para esquecer alguém, escrever um livro, dar um tempo na vida, tomar contato consigo e por aí vai (quem nunca pensou em tomar um trem noturno para Lisboa?) É nessa parte do livro também que tomamos contato com a doença neurológica do protagonista - prosopagnosia: ele não é capaz de reconhecer rostos (aqui, há algo um pouco inverossímil: como pode considerar alguém bonito se não guarda feições e, portanto, não pode estabelecer comparações, ficando a percepção da semelhança e da diferença circunscrita ao presente?)
Na parte 2, com o fim da temporada, vemos como passa a ser o dia a dia do protagonista, depois de estabelecido. Temos contato também com os distúrbios sazonais dos moradores (que só se manifestam fora de temporada) e com o contraste entre a ideologia de viver no paraíso e a realidade opressiva da vida contemporânea do lugar. Também aqui podemos conhecer uma pouco mais da história do avô.
Finalmente, na parte 3, vemos a vila se preparando para uma nova temporada e as histórias familiares se esclarecem (o que não quer dizer, necessariamente, que todas se resolvam). O final do livro remete ao seu começo, quando então entendemos as circunstâncias por trás da carta que abre o livro.
Como se vê, a história tem como pano de fundo as mudanças de estação e suas consequências para uma cidade litorânea turística e o fim (ou, no mínimo, diminuição sensível) da pesca artesanal, em função do aumento da pesca industrial e dos apelos da indústria do turismo. Esse cenário acompanha a trajetória do protagonista que depois de uma sucessão de perdas procura dar sentido à sua vida.
comentários(0)comente



Newton Nitro 21/12/2014

Autoconhecimento versus Autoesquecimento nesse romance sensacional de Daniel Galera!
Barba Ensopada de Sangue é o quarto romance de Daniel Galera, e minha primeira leitura do autor, de quem ouvi falar muito bem pelos blogs de literatura internerd a fora. Mas não sabia que iria gostar tanto do seu livro, uma espécie de Heart of Darkness tropical, uma jornada de autoconhecimento ou autoesquecimento bem brasileira.

Motivado pela morte do pai e pelo mistério que circunda a morte de seu avô, o protagonista, um professor de educação física que nunca ganha nome na narrativa, sendo chamado sempre de “ele”, segue para Garopaba, uma cidade litorânea em Santa Catarina, um local turístico com praias paradisíacas como centenas de outras pelo Brasil. A partir dessa premissa, a narrativa perambula entre o cotidiano da vida “fora de estação” na cidade de Garopaba e a procura sobre a verdade sobre o avô.

Com essa espinha narrativa, Galera mergulha o leitor no universo particular de Garopaba com grande precisão, perfurando as ilusões metropolitanas da suposta vida paradisíaca em uma cidade praiana no Brasil, mas com realismo, sem cair no melodrama. Mães solteiras que se drogam em festas à noite e que ralam nos restaurantes e lanchonetes que servem turistas, kiosqueiros budistas que enchem a cara e pedem dinheiro junto de tiradas filosóficas, a depressão e o sofrimento que vêem à tona nos habitantes nos períodos da baixa temporada, a mistura de violência, hedonismo, complacência e resignação dos nativos, o surrealismo dos confrontos de um período de eleições em uma cidade pequena, as novas configurações das neuroses urbanas da classe média urbana radicada nesse suposto “paraíso tropical”, a cultura dos “malucos BR” e a camada de tensão “nativos-versus-de-fora” que existe sob a película de cordialidade brasileira, prestes a se irromper, permeiam a narrativa de investigação criando uma espécie de noir-existencialista-tropical.

Ou seja, DOIDIMAIS VÉI!

Técnicas Literárias:
O romance tem um meio falso começo-meio prólogo em primeira pessoa, narrando eventos pós-narrativa e depois entra de cabeça na narrativa em terceira pessoa limitada, mas sem nunca revelar o nome do protagonista.

Monólogos interiores e memórias se misturam nas cenas, transições de tempo bem feitas, e um POV narrativo desafiador, pois o protagonista tem prosopagnosia, é incapaz de reconhecer rostos.

Os diálogos, muito bem feitos por sinal, e não possuem marcadores (”disse”, “respondeu”, etc.), e muitas vezes se misturam no texto, bem ao estilo do Cormac McCarthy e vários outros autores contemporâneos.

Personagens bem construídos, com destaque para a cachorra Beta, que adorei. A pressão narrativa da vida emocional e na angústia do protagonista foi construída aos poucos, por camadas, pacientemente, até transbordar no clímax mitológico da história.

Detalhismo nihilista à moda do David Foster Wallace reforçando a falta de sentido e o absurdo dentro da vida contemporânea.

A narrativa é feita em tempo presente, que dá um certo imediatismo e contrasta com os tempos do passado no prólogo e outras interjeições de textos em itálicos narrados em primeira pessoa.

Descrições dinâmicas, algumas até poéticas e muito bem feitas, ressaltando detalhes específicos, mostrando mais do que contando e envolvendo os sentidos.

Temas, tropos e referências:

A narrativa mistura jornada de autoconhecimento e auto esquecimento, um processo de mitologização do protagonista (o processo de formação de uma lenda ou mito pessoal.

A jornada do civilizado para o selvagem (que me lembrou Heart of Darkness) é bem clara, e marcada por vários símbolos (a barba, o comportamento do protagonista, até mesmo sua linguagem muda ao longo da narrativa).

O estado de alienação, marcado no protagonista biologicamente com a prosopagnosia, junto com o perambular sem destino do protagonista lembra as narrativas existencialistas dos anos 50 e 60, o protagonista é mais um “estrangeiro” de Camus.

A narrativa lida também com existencialismo, nihilismo, budismo, a questão do destino versus livre arbítrio, a ilusão da identidade pessoal, a ilusão das memórias, ego e a violência psíquica de quando tentamos persuadir o outro.

E mais uma vez ressoa a dificuldade de sentir, de ter sentimentos autênticos e não simulados, e a busca desesperada pela experiência emocional do real sem nenhum tipo de filtro, que é o drama contemporâneo que mais aparece na maioria das expressões artísticas dos últimos vinte anos.

O protagonista me lembrou o Louco do tarô, andando a esmo com seu cachorro, guiado pela falsa dicotomia do destino e do livre-arbítrio. O companheiro animal também me fez lembrar Ulisses (junto com toda as imagens de mar, jornada, praia, barco, bote, etc. E em uma relação muito doida, porque fiz a leitura a pouco tempo, o protagonista me pareceu uma versão mais humana do Lester Ballard, o monstro barbudo e violento do Child of God, do Cormac McCarthy, mas que encontra uma forma de interromper a descida completa à pura selvageria, acredito, por conseguir refazer sua ligação emocional com a humanidade.

O romance tem versões subvertidas do tropo do Encontro com o Mestre, um desses encontros é moralmente ambíguo e o outro é violento e inesperado. Curti demais!

Recomendo o livro, é muito bom, não consegui parar de ler! Só um toque, Barba Ensopada tem uma pegada mais literária, com várias tangentes narrativas explorando o passado do protagonista, sua busca de identidade, o universo de Garopaba, seus relacionamentos, etc. e muitas delas sem fechamento, em uma imersão imagética meio cinematográfica mesmo. Eu curto, é um estilo mais na tradição dos "romances de fôlego" norte americanos (David Foster Wallace, Cormac McCarthy, Pynchon, etc.). Esteja avisado!

É um romance para fazer pensar e que dá vontade (misturada com um pouco de medo) de conhecer Garopaba. Medo porque, imagina você andando na praia e encontrar um véio barbudo lhe oferecendo flores, saiba que isso não é Impulse (piadinha para os tiozões anos 80!). Vai por mim, sai correndo e só pare em Porto Alegre vééééi! :)
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



gabi_vargas 08/01/2015

Excelente
Livro divinamente bem escrito e essencial para quem conhece Garopaba (e para quem é aqui do sul). Tipo de livro que leva a várias reflexões, principalmente sobre solidão e família, sem jamais parecer piegas. Na verdade, ele é excessivamente cru e real. E é do tipo de livro que você lê imaginando que daria um filme. Recomendo!
comentários(0)comente



Lahdutra 13/03/2015

INTENSO
Barba é aquele tipo de livro que fica marcado na memória e custa a nos abandonar; é aquele tipo de livro que nos deixa com saudades de seus personagens, porque nos tornamos amigos e queremos acompanhá-los por mais tempo.
comentários(0)comente



201 encontrados | exibindo 76 a 91
6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR