Rodrigo1001 05/08/2018
Magistral!
União perfeita entre pesquisa minuciosa de biógrafo e maestria narrativa de romancista, se há algo que lamento em relação a este livro é não tê-lo passado na frente dos outros.
Escrita pelo historiador norte-americano Robert K. Massie, “Catarina, A Grande” é uma biografia histórica que vai muito além dos limites do gênero. O livro transporta o leitor de volta ao extraordinário mundo da Rússia czarista para contar a história real da princesa germânica Sofia Anhalt-Zerbst que governaria o império russo por mais de 30 anos e que seria mundialmente conhecida como Ekaterina Alekseyevna - Vossa Majestade Imperial Catarina II, ou, ainda, Catarina, A Grande.
Gente, é um livraço do começo ao fim! Prova disso foi a rapidez com a qual devorei suas páginas: foram mais de 200 em uma única sentada! Sim. Me vi reduzindo propositalmente a velocidade de leitura por pura pena de terminar o livro.
Com uma prosa ágil e desafiando o que – nas mãos de um escritor menor – poderia ter se tornado uma ressaca mortal de fatos históricos exaustivamente apresentados, o autor consegue o difícil equilíbrio de impressionar qualquer historiador acadêmico e, ao mesmo tempo, captar a imaginação do leitor comum.
Tudo é descrito de forma consistente e elegante, com um nível de detalhes espantoso, fruto de mais de 8 anos de extensiva pesquisa sobre Catarina e sobre a Rússia do final do século XVIII.
Embora detalhista, o livro está a anos-luz de distância daquelas monótonas descrições históricas de pessoas e lugares constantes em livros didáticos. Na realidade, de tão bem escrito, mais parece um romance ficcional. Talvez ciente do seu talento como romancista, Massie relembra o leitor a todo tempo sobre a veracidade dos fatos, referenciando documentos oficiais e oferecendo até mesmo fotos da família imperial.
O livro entrega choque, suspense e surpresa na medida certa. Extrapola a vida da própria Catarina e nos brinda com correspondências reais trocadas entre a imperatriz e importantes figuras da época, como Voltaire, Diderot e Montesquieu. Com linguagem intimista, revela os amores da imperatriz, a sordidez dos casamentos arranjados, os esgotos das monarquias europeias e, de brinde, ainda explica sobre a Revolução Francesa, sobre o Iluminismo e sobre os sangrentas guerras que aconteceram no período. Você aprende História estando desesperadamente apaixonado pela narrativa.
Amante das artes, Catarina é retratada em toda a sua glória e em toda a sua sordidez. O autor tomou o sensato cuidado de retratar tudo com extrema fidelidade aos fatos, retratando o reinado da imperatriz tal como aconteceu, com seus altos e baixos. Você ama Catarina com a mesma força que a detesta.
Pessoalmente, eu conhecia pouco sobre a vida de Catarina II e lamentei o fato de não ter posto minhas mãos neste livro antes de 2015, quando tive a oportunidade de visitar São Petersburgo em uma viagem de negócios. De qualquer forma, a experiência de leitura foi muito mais profunda pra mim, especialmente por ter tido a sorte e por ter contado com a gentileza do nosso cliente russo em providenciar um mini-tour de final de semana pelos castelos e pontos turísticos da cidade – muitos deles citados na biografia.
Como dica, embora o tamanho do livro seja um tanto assustador com suas 640 páginas, persevere, pois bastam poucas páginas antes de você perder a noção do tempo e se encontrar transportado para o passado. E isso é mágico!
Por fim, Catarina certamente se colocou no panteão da História enquanto o autor acabou de colocar esse livro no meu panteão particular de livros favoritos.
Leva 10 estrelas de 10 estrelas brilhantes!