Telma 14/06/2013Pós "Geração Coca-Cola" Rio 2054 – Os Filhos da Revolução – Jorge Lourenço
Antes de qualquer coisa, quero “dizer” em alto e bom tom que ESTE FOI UM DOS MELHORES LIVROS DE LI EM 2013.
Há tempos eu não sentia aquela agonia eletrizante que senti tempos atrás. Há uma densidade quase palpável na narrativa... fez-me lembrar demais de Mad Max, Waterworld, Blade Runner, O Vingador do Futuro e o Exterminador do Futuro (dentre outros), assim como me remeteu aos livros de André Vianco cujas histórias se passavam em cidades brasileiras. Jorge Lourenço ambienta no Rio de Janeiro, com uma escrita impecável! Isso eu preciso citar novamente: A escrita, as sacadas, o Português de Jorge é impecável!!! Fiquei realmente impressionada.... e para me impressionar com a Língua Portuguesa, o cara precisa ser BOM! Ele é! Até quando alguns personagens (ou algumas personagens pra dizer em Português perfeito) falam “errado” (linguagem coloquial, como verão no trecho abaixo), Jorge demonstra sua intimidade com a Língua. *batendo palmas*
Narra como quem conta o que viu ou o que viveu. Eu cri.
Os personagens são críveis. As cenas são de pura adrenalina. A ação corre solte à cada página.
O Rio, dividido em duas categorias: poucos com muito e muitos com quase nada, resultado do pós-guerra. É nesse contexto que Miguel (uma de minhas personagens favoritas) encaixa-se. Ele recolhe nos escombros, restos de peças e revende-as para um amigo que tem alto conhecimento tecnológico e lida com inteligência artificial... (aqui fui remetida a Dean Koontz, na trilogia Frankenstein).
Várias personagens me impressionaram e “causaram” no livro. Um exemplo disso é Angra.
Vejam um pouco dela neste trecho da página 38.
“ Todas as pessoas que enfrentaram Angra dizem que ela tem “poderes”, que é uma bruxa. Ela é muito habilidosa, tanto na moto quanto a pé, mas não é lá muito forte. Mas as coisas que ela faz... ninguém consegue explicar direito – disse, quando olhou pela primeira vez para Miguel. Naquele momento, não havia máscara de falsa coragem, e sim apreensão.
_ Que tipo de coisa?
_ O tanque de gasolina de um conhecido meu que enfrentou ela arrebentou do nada. Por causa disso, a moto acabou pegando fogo. Na luta com outra gangue, que é quase tão forte quanto nós ou os Caçadores, dizem que chegaram a derrubá-la da moto, achavam até que tinham vencido. Mas ela fez o cara voar sem tocá-lo.”
Na hora pensei: “pronto... eis a personagem que vou odiar!”... mas não sei... isso não aconteceu. Cheguei a sentir empatia e raiva... enfim... conflito de sentimentos dentro de mim, tão grande quanto os conflitos causados pelo caos no Rio de Janeiro, em 2054.
Do outro lado da cidade temos “Luzes”, onde vivem os abastados, com Shopping Centers e tudo o que a grana pode comprar em termos de tecnologia e demais itens para se viver com conforto. Pouco se importam se próximo (não o suficiente) a eles, vivem pessoas na miséria.
Miguel observa os dois lados... está inserido nos dois contextos (você vai saber como) e define em frase um sentimento tão meu (e talvez tão seu...)
“Como a humanidade é mesquinha”, pensou. “Conseguimos viver nossa ilusão de segurança normalmente enquanto tem gente passando fome bem ao nosso lado. Atribuímos o bem-estar ao nosso trabalho, ao merecimento ou até à sorte. E não abrimos mão disso.”
Termino com uma frase de Angra (de quem fui tornando-me amiga de modo bem devagar, ao longo do livro).
“_ Essa cidade, assim como tantas do mundo inteiro, sempre foi partida. A diferença é que aqui, as fronteiras são mais visíveis. Toda cidade é permeada por níveis de exclusão. A Indiferença é inata a qualquer sociedade humana. “
Reconhece-se aqui?
Pois é... 2054 nunca esteve tão perto da realidade e tão longe do que imaginamos viver. Para experimentar essa adrenalina toda... essa poesia toda, sugiro que adquira o livro com máxima urgência!
Não resisti e tenho que colocar um trechinho romântico:
“- A decisão do primeiro beijo é a mais crucial de qualquer história de amor. – disse a androide.”
Recomendo veementemente!