Moonlight Books 06/07/2013
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Será possível viver o hoje para mudar o amanhã?
O Livro do Amanhã é o terceiro livro da escritora irlandesa Cecelia Ahern publicado no Brasil pela Editora Novo Conceito, antes disso tivemos a chegada de P. S. Eu te amo e A Vez da Minha Vida. Embora eu tenha estes dois, minha primeira experiência com a autora foi este aqui, minha escolha se deu por causa de seu enredo intrigante e diferente. Vamos ver o que achei.
Sabe aquele livro que te captura na primeira página, pois é, assim é O Livro do Amanhã. Uma história que pede sua atenção, que quer, antes de mais nada, que o leitor abra a mente e o coração para poder sentir o que está por vir. Um livro que te convida, que se abre para você e oferece sua história.
Tamara é a narradora desta trama, um relato de sua própria história. Ela nos leva ao ponto que sua vida deu uma reviravolta e fez com que ela mudasse totalmente sua maneira de ser e ver as coisas. Tamara é uma narradora exemplar, que mostra bem como era, com uma visão crítica de si mesma, sem colocar panos quentes. Vemos claramente a menina que era imatura, desagradável na maior parte do tempo, que sentia prazer em ferir as pessoas ao seu redor com palavras cruéis e incômodas e a menina de hoje, madura e sensata.
Sabem uma pessoa que tem tudo e mesmo assim acha que é pouco? E pior ainda, acha que é obrigação de todos lhe dar sempre o melhor?
Obrigada é uma palavra que faltava no vocabulário de Tamara, mas ao encontrar o pai morto, após ter se suicidado, descobrir que a fortuna da família acabou e ter que ir viver no interior da Irlanda, de favor na casa dos tios que sempre considerou uma dupla de caipiras, a jovem foi obrigada a rever seus conceitos e adaptar-se a nova vida. Como se não bastasse, sua mãe entrou em um estado letárgico deprimente, deixando Tamara totalmente sozinha. O maior arrependimento dela foi nunca ter dito ao pai o que ele significava para ela, sendo que agora é tarde demais para isso.
O novo local de moradia é no meio do nada, uma casa perdida nos campos da Irlanda, próxima as ruínas de um castelo. É sem dúvida um belo cenário, solitário, mas sem igual. É descrito com maestria, ao mesmo tempo que a protagonista descobria as belezas que ali estavam ocultas, eu vivi a mesma experiência e posso dizer que foi deliciosa.
Sem muito o que fazer, um dia Tamara conhece a biblioteca itinerante, e além de gostar bastante do belo bibliotecário, Marcus, que é alguém bem humorado e atencioso, que parece entendê-la perfeitamente, de maneira acolhedora e reconfortante, ela encontra um interessante acervo de livros, entre eles um livro sem nome, sem autor e fechado. Que livro seria aquele? Logo ela descobre ser um diário, mas não um em que escrevemos nossa história de hoje, e sim que lemos nossa história de amanhã, podendo assim, sabendo sobre nosso futuro, evitar certos erros e tornar o amanhã melhor.
Tamara teme seu Livro do Amanhã, mas por incentivo de uma boa freira que conhece, a irmã Ignatius, acaba deixando -se envolver por este livro mágico. O que acaba mostrando à menina muito mais do que ela esperava. Ela percebe que tem uma ligação muito forte com aquele local, que até mesmo as ruínas do castelo fazem parte de sua existência. Mas é estranho, visto que Tamara não lembra de ter vivido naquele lugar.
Tem mais, o casal de tios, Arthur e Rosaleen são muito esquistos. Ele não fala quase nada e ela é, totalmente, obcecada por limpeza e cozinhar. Quando Rosaleen é interpelada pelas perguntas de Tamara, se esquiva, mostra estar sempre em alerta, desconfiada, escondendo algo. As atitudes do casal nos levam à perceber a existência de um grande segredo. Gente que mulher assustadora, acho que se estivesse na mesma casa que ela jamais dormiria, só se fosse com uma faca embaixo do travesseiro. Sério, uma personagem complexa, que dá medo com sua personalidade psicótica.
Acompanhamos o amadurecimento desta jovem, e embora ela tenha sido uma péssima pessoa, em momento algum consegui não gostar dela, acredito que por ver como ela estava sofrendo e tentando ser melhor, não há como não torcer por ela. Sua língua ferina é uma maneira de se defender das coisas que não conhece e não sabe manusear. Ela perdeu tudo o que tinha e conhecia. Seu mundo, sempre seguro, desabou e agora não existe alguém para direcioná-la. Tamara faz comparações engraçadas com tudo que a cerca, formigas ilustram sua vida, flores e botões a mente das pessoas, é algo poético e profundo. Ela nos diverte e nos comove, tenta sorrir para ajudar na melhora da mãe, ao passo que adormece todas as noites chorando. É triste, eu via o quanto ela era perturbada e cheguei a imaginar se realmente o livro aparecia escrito sozinho ou era apenas imaginação dela.
Como eu disse, fui capturada pelo livro, primeiro pelo tom intimista e depois pela sequência de fatos inesperados. A trama é recheada de mistério, nos deixando ávidos para saber sobre os segredos daquele local e das pessoas que ali viveram. Tem até mesmo tem uma pitada de magia com o tal Livro do Amanhã e um alguém nas sombras que observa nossa protagonista. Eu acreditava que ficaria presa em um drama adolescente, mas mesmo tendo 16 anos, a protagonista é muito madura, sua fase infantil é parte do passado que nos conta, então de maneira alguma chega a ser irritante. E o drama fica em segundo plano, o que temos aqui é uma história que mostra o peso de nossos atos, e como podemos tentar melhorar as coisas sendo pessoas melhores. Não é certo que vamos fazer a vida dar certo cem por cento do tempo, mas vale ter fé e deixar com as pessoas que conhecemos palavras boas, com carinho, para não nos arrependermos depois.
Há ainda um romance sutil e ótimas pinceladas de humor na história, muito delicioso e cativante. Existe apenas um ponto que não me deixou satisfeita, mesmo que seja um elemento que ilustra a mensagem passada pela trama, o diário não foi esclarecido de maneira satisfatória, pelo menos no meu caso. Eu desejei neste ponto algo mais conclusivo. De qualquer maneira eu estou muito feliz com O Livro do Amanhã e recomendo com certeza. Mergulhem neste conto de fadas moderno.