Janayna 12/10/2023
Aventura poética
Mal tenho palavras para resumir um livro tão belo e perfeito como Terra Sonâmbula.
Mas atenção! Este livro não é para você que curte aventuras com narrativas simples, diretas e objetivas. Fuja deste livro, se esse for seu caso!
Enfim, a saga é narrada por meio de 2 pontos de vista distintos, que se alternam na narrativa dos capítulos, a saber: o velho Tuahir e seu companheiro o jovem Muidinga; e o personagem que escreveu os cadernos lidos por Muidinga, o jovem Kindzu.
Dessa forma, o livro segue contando ora o que se passa no tempo presente, com Tuahir e Muidinga, e ora o que houve com Kindzu. São histórias que se passam em períodos diferentes, embora sejam contemporâneas, pois têm como contexto a guerra civil de Moçambique, que se passa 10 anos após a guerra contra o colonizador, Portugal.
Assim, os rastros da guerra permeiam todas as narrativas. Ao mesmo tempo em que o leitor acompanha o florescer dos jovens e envelhecimento dos adultos, percebe-se que a guerra deixou marcas profundas na alma, na carne e em tudo que cerca os protagonistas.
A natureza também pode ser considerada protagonista, a meu ver. Percebemos, ao longo do livro, a influência maligna da guerra sobre a natureza. Aliás, os personagens trazem consigo uma forte influência associada à natureza, seja como algo mais cultural, como lendas e comportamentos folclóricos, ou na vida prática e comercial, como nas plantações e atividades marítimas.
Por fim, os diálogos e as relações interpessoais são construídos de tal forma que o leitor se sente parte da história e consegue entender e compreender cada personagem, seus conflitos internos e escolhas.