spoiler visualizarBruna 05/02/2024
A insustentável leveza do ser
Pensei que esse livro seria filosófico e de difícil leitura, mas descobri que é um romance com personagens bem construídos, dramas e recheado de momentos históricos. Existe uma humanidade na forma de escrever do autor que abarca não só os tradicionais dramas humanos e sociais, mas cria reflexões sobre "merda" que levam a conclusões superiores ao inaceitável excremento humano.
Definitivamente recomendo a leitura e quero ler outros livros do autor. Minhas críticas estão apenas no fato das personagens femininas claramente terem sido escritas por um homem e apresentam essa forte característica, apesar disso elas não são apenas seres sexuais, ainda que essa característica seja muito forte.
Seguem algumas citações da obra com paginação:
"Quanto mais pesado é o fardo, mais próximo da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.
Em compensação, a ausência total de fatdo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semirreal, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.
O que escolher, então? O peso ou a leveza?" (p. 11)
"Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação." (p. 14)
"Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço." (p. 14)
"[...] A nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro." (p. 14)
"Nunca se pode saber o que se deve querer, pois só se tem uma vida e não se pode nem compará-la com as vidas anteriores nem corrigi-la nas vidas posteriores." (p. 14)
"[...] einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Poder viver apenas uma vida é como não viver nunca." (p. 15)
"O sono compartilhado era o corpo de delito do amor." (p. 20)
"Os extremos delimitam a fronteira além da qual a vida termina, e a paixão pelo extremismo, em arte como em política, é desejo de morte disfarçado." (p. 104)
"Seu drama não era o drama do peso, mas da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser." (p. 134)
"São precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de nossa existência." (p. 152)
"A unidade do 'eu' se esconde exatamente no que o ser humano tem de inimaginável. Só podemos imaginar o que idêntico em todos os seres, o que lhes é comum. O 'eu' individual é o que se distingue do geral, portanto o que não se deixa adivinhar nem calcular antecipadamente, o que precisa ser desvendado, descoberto, conquistado no outro." (p. 213)
"Patece que existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar memória poética e que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida." (p. 223)
"Numa sociedade em que coexistem diversas correntes e em que suas influências se anulam ou se limitam mutuamente, ainda é possível escapar mais ou menos à inquisição do Kitsch; o indivíduo pode salvaguardar sua originalidade e o artista criar obras inesperadas, mas nós lugares em que um só movimento político detém todo o poder, todos encontram sem escapatória no reino do kitsch totalitário." (p. 270)
"Mas sobretudo: nenhum ser humano pode oferecer a outro o idílio. Só o animal pode fazê-lo, porque não foi expulso do paraíso. O amor entre o homem e o cão é idílico. É um amor sem conflito, sem cenas dramáticas, sem evolução." (p. 318)