Camila 02/12/2023
Vaidade, vaidade, tudo é vaidade
Não é o que eu esperava. Mas isso não significa que foi uma experiência ruim. "A Insustentável Leveza do Ser" nos levará em uma jornada de exploração crua do ser humano. Eu supunha inicialmente que a abordagem seria mais metafísica, porém o enredo se concentra em algo muito mais corpóreo. A história não é linear e sim fragmentada pelos diferentes contextos em que se encontram os personagens. Somos apresentados a Tomas, Tereza, Sabina e Franz que se entrelaçam mutuamente em uma trama de percursos tortuosos e existencialmente conflitantes.
O sentido pretendido pela obra não fica propriamente claro, pois são várias analogias simultâneas, mas o que eu posso constatar com clareza é a representação humana encarnada nos protagonistas.
Com Tomas eu visualizo o receio, a eterna hesitação do homem diante dos precipícios que enaltecem o desconhecido e que nos remontam ao primeiro instinto de preservação. Com Tereza eu detecto a personificação da insegurança, o assentamento dos grilhões das experiências traumáticas anteriores que nos tornam inaptos sob o olhar do futuro. Com Sabina eu constato os vícios, os hábitos perversos que se assomam sobre nossa pele e consciência, mas que não conseguimos se desvencilhar. E com Franz eu evoco a racionalidade, a tentativa fugaz, contudo, persistente do ser humano em equilibrar a dualidade da vida.
É uma leitura densa, ambientada em uma atmosfera erótica e ornamentada pelas comparações truculentas e ásperas dos momentos reais e opressivos vivenciados pelos tchecos durante a ocupação russa.
Recomendo bastante.