PorEssasPáginas 08/10/2015
Era uma vez Morgana, que ama Lancelote, que ama Gwenhwyfar, que também ama Lancelote, mas tem que se casar com Arthur, que ama Morgana. Espera um pouco… Arthur não é irmão de Morgana? Sim, pois é. Para complicar ainda mais toda essa situação, a história não se resume apenas ao romance mas também de toda a ascensão e queda de um reino, a disseminação do Cristianismo (e a alienação das pessoas) sobre a Religião Antiga – e tudo isso sob a ótica das mulheres da época, abordando muito o psicológico das personagens.
Mas vamos com mais calma: A história começa muitos anos antes, com Dumbledore Viviane, a Senhora do Lago e Sacerdotisa de Avalon, fazendo história pelo bem maior pela união dos povos da Bretanha contra os saxões através de um Grande Rei, uma vez que o povo saxão não respeitava a Deusa. Viviane convence sua bela irmã Igraine a se casar com Uther Pendragon, rei recém-coroado. Com a revelação de que ela e Uther são almas gêmeas (não perguntem, leiam), ela se casa com Uther após a morte de Gorlois (seu primeiro marido e pai de sua filha, Morgana) e ambos tem um filho chamado Arthur.
A partir desse ponto, a história passa para o ponto de vista de Morgana, que até então ocupava o segundo plano. Viviane vê em Morgana um grande potencial para ser uma sacerdotisa e a leva para Avalon, escondida entre as brumas, próxima ao mosteiro de Glastonbury, onde dizem que José de Arimateia (personagem bíblico) levou o Santo Graal, o cálice de Cristo.
Desculpem o “resumão”, mas é complicado falar desse livro sem explicar alguns pontos.
Uma coisa que vocês tem que saber sobre As Brumas de Avalon: Não é porque tem ponto de vista feminino que é um romance estilo chick-lit. Esqueçam isso, aqui a coisa é séria. É uma leitura densa, que você tem que fazer se estiver realmente disposto e com mente aberta, porque questiona muitos conceitos de certo e errado e também é uma crítica muito grande ao Cristianismo, principalmente quando mostra a forma como as pessoas na época começavam a se alienar e oprimiam outras crenças ou rituais (não necessariamente com violência, mas alimentando a culpa e tecendo uma lista de pecados e subsequente condenação ao inferno se essa pessoa não se convertesse). Com tudo isso, é uma ótima leitura.
Confesso que fiquei muito fascinada com alguns detalhes dos rituais antigos, a forma como o povo daquela época interagia e se comportava com respeito em relação às sacerdotisas de Avalon. É ainda nessa primeira parte que conhecemos Lancelote e Gwenhwyfar. E por último, e não menos importante, conhecemos Arthur, que é coroado rei da Bretanha (ou melhor, Gamo-rei) primeiramente nos ritos da Antiga Religião.
Nessa primeira fase da história vemos, então, surgir uma nova Bretanha, governada por Uther e em seguida pelo jovem Arthur. A passagem do tempo é gradativa e muitas vezes você mal percebe quantos anos se passaram. Eu fazia as contas aqui conforme a leitura avançava (isso em todos os volumes). O ápice dessa parte é justamente o Rito de Beltane e suas consequências no futuro.
Detalhe interessante foi a autora inserir aqui o Bispo Patrício, o famoso St. Patrick (ou São Patrício), aquele mesmo que os irlandeses celebram seu dia com uma grande festa regada a cerveja e roupas verdes. Diz a lenda que ele expulsou todas as serpentes da Irlanda e em As Brumas de Avalon ele tem uma grande influência como conselheiro de Arthur, assim como Taliesin, o Merlim da Bretanha, sendo este o conselheiro de Arthur e representante de Avalon. Percebam que Merlim na verdade é um título de mais alto grau concedido a um druida e não o nome do personagem.
Como eu disse lá em cima, a história é ótima. Ela flui sem você perceber, porque por mais que tenhamos conhecimento no mínimo supérfluo da lenda do Rei Arthur (como era meu caso), sentimos que esses personagens são mais reais, mais “humanos”, com paixões, dúvidas, tristezas, inseguranças e também amargura. A história se desenvolve e ganha vida de tal forma que não tem como você não querer acompanhar até o final.
Eu acho que falei demais por aqui e mesmo assim não passei tudo o que eu queria em relação a esse livro. Eu recomendo muito a leitura dessa obra, como um todo, e seria muito interessante ela ser relançada no Brasil como livro único (o que assustaria no tamanho, mas valeria a pena). Em breve eu postarei as resenhas das demais partes que correspondem às Brumas.
site: http://poressaspaginas.com/resenha-as-brumas-de-avalon-1-a-senhora-da-magia#more-20396