Tici 14/08/2013Está aí, Satã? Eu sei que a sua expressão ao ver a capa de “Condenada” ou foi *Argh, que horror!* ou *Wow, que maneiro!* Indiferente não foi. Pois bem, aos que foram de *Argh*, sugiro que abandonem qualquer superstição que talvez possa impedi-los de ler o livro. Tudo bem, a heroína está morta, condenada à eternidade do Inferno, a coisa toda é mórbida. Porém, mais até do que sobre a morte, o novo livro de Chuck Palahniuk é uma perpétua e irreverente crítica sobre a vida.
E, aqueles que foram de *Wow*, bem... A condenação de vocês é 96% certa. Mas não temam! O Inferno imaginado por Palahniuk pode ser até legal. Lá tem doces, MAS NÃO OS COMA. Tem oportunidade de trabalho e milhares de figuras com quem você pode fazer amizade. Imagine só, estar vagando pelo Inferno e encontrar nada mais nada menos que John Lennon! (Que heresia, Chuck Palahniuk, que heresia...)
“Condenada” é conduzido por uma narrativa rápida que confunde muito o discurso da heroína com o próprio ideário do autor. Dessa maneira, Madison Spencer, no auge dos seus treze anos e do alto de suas alpargatas Bass Weejuns, pode ser: a) bizarra (Maddy, você SÓ tem treze anos!); b) inteligente e cômica (Maddy, de novo, você SÓ tem treze anos!) e c) emotiva (Aleluia, Maddy, agora você parece ter treze anos!).
Aliás, bizarro, inteligente, cômico e emotivo são quatro dos cinco adjetivos que eu usaria para descrever o próprio livro. Bizarro, desde os pais da Maddy a algumas cenas que se passam no Inferno, então depois não diga que eu não avisei se você sentir muita vergonha alheia em certas cenas. Esperto e cômico, com críticas sociais bem construídas que se tornam hilárias. E emotivo porque... bem, Maddy e seus amigos estão mortos.
“Faz sentido que eu sinta mais saudades dos meus pais do que eles de mim, em particular se considerar que eles só me amaram por treze anos, enquanto eu os amei por toda a minha vida.” (pág. 11)
Por que, Palahniuk? Por que primeiro matar a personagem para depois fazer a gente se apegar a ela? Por quê?
Voltando... O último adjetivo é insuficiente. Sim, insuficiente. Porque tem poucas coisas piores na vida de um leitor do que, após uma revelação, você atingir a última página e encontrar um “Continua...” É, Palahniuk, acrescente à lista de estatísticas da personagem Babette que, assim como os políticos, 100% dos escritores que terminam um livro com “Continua...” ou similares também são jogados no Inferno.
Ou seja, Chuck Palahniuk volta em mais dois livros para continuar mostrando que há uma linha muito tênue entre estar vivo e estar morto e para fazer a pequena Maddy acabar de vez com a figura ardilosa de Satã. Será que ela consegue?