vininho 17/10/2022
Segundo volume consegue aumentar o escopo do primeiro!
Há inúmeros spoilers do livro.
Seguindo os eventos apresentados no livro antecessor, Words of Radiance (2014) é o segundo livro da épica série de fantasia de Brandon Sanderson, The Stormlight Archive. Apesar de ser um livro que prometia muito e que, para mim, algumas expectativas não foram atendidas, já adianto, contudo, o fato de que amei ele, talvez até mais do que o primeiro; essas meras expectativas não atendidas foram substituídas por eventos melhores que equilibraram minhas emoções e apresentaram cenas melhores do que as que esperava.
O prólogo do livro já é bastante interessante, ao apresentar o ponto de vista de Jasnah Kholin no dia em que seu pai fora assassinado, bem como ao mostrar pela primeira vez uma spren que não seja a Syl. A personagem ficou de fora por três quartos do livro, logo não consigo analisar tão bem seu desenvolvimento, a não ser o fato de que senti falta de sua presença e a abordagem mágica, onde é possível ver que desde a morte de Gavilar, ela já lidava com os problemas enfrentados pela Shallan em TWoK.
Por falar nela, Shallan brilhou mais do que no primeiro livro. O autor conseguiu trançar um fio narrativo super interconectado com os capítulos de seu passado. Ao perder sua amiga e mentora, Shallan precisa enfrentar um longo caminho, utilizando-se de habilidades aprendidas com uma vivência cruel com seus familiares e negando sua real origem. É lindo ver como ela assume as rédeas de sua própria vida, utiliza seus poderes mais livremente e, finalmente, consegue assumir para si mesma, ao final do livro, o que realmente aconteceu para deixá-la tão traumatizada. Acredito que seus flashbacks estejam longes de alcançar a tensão que os capítulos de Kaladin conseguiram atingir no primeiro volume, mas, ainda assim, são ótimos para podermos compreender a Shallan do presente.
Kaladin começa o livro tentando se provar como o melhor capitão do mundo. O personagem possui um peso enorme em suas costas, por se cobrar demais, e também lida com as frustrações e inúmeros momentos depressivos – que acarretam a quebra do seu juramento. Uma das poucas coisas que me incomodam, é o incômodo de Kal com o romance de Shallan e Adolin; pressinto um possível desenvolvimento de triângulo amoroso no futuro, e não sei se fico feliz com esta escolha narrativa. Ademais, o momento em que ele e Shallan ficam presos nas fendas das Shattered Plains é lindo, já que ambos entram com uma relação conturbada, e saem de lá compreendendo as vivencias de cada um e aceitando-as. Espero, do fundo do meu coração, que isso se torne uma grande amizade, e não um desejo de “algo mais”. Por conta de cenas como essas mencionadas, e outras presentes na obra, Kaladin cada vez mais se torna um personagem com vida, verossímil e de extrema compreensão – passei o livro inteiro me irritando com algumas de suas atividades, mas não posso deixar de amá-lo tanto quanto amo Shallan e Dalinar.
Já que toquei em seu nome, devo dizer que Dalinar cresceu imensamente nas minhas concepções. No primeiro livro, lembro de ter vontade de pular alguns de seus capítulos por querer saber mais dos outros protagonistas, já neste aqui, me encontro feliz de não existirem momentos que quisesse pular algo – todos estavam em perfeito equilíbrio. Mesmo com suas atitudes que beiram uma tirania, apesar de justificadas por conta do contexto, Dalinar se mostra alguém de bom coração no meio de tantos militares e políticos nojentos de Alethkar, como Sadeas (com sua inescrupulosidade não sendo escondida de alguém) e Amaram (que se disfarça de bom homem). Dá para entender suas motivações perfeitamente, assim como também tu torces para que ele se saia bem em sua missão de unir o povo, que depois entendemos que talvez seja a união dos Knight Radiants em si. O final de Dalinar nesse livro é esplêndido, com o seu juramento e a união com o Stormfather, que não parece ser uma spren tão obediente, ou subserviente, como as antes apresentadas.
Ainda, Adolin foi um personagem que me surpreendeu positivamente nesse livro. Na verdade, eu nem esperava que ele fosse ter grandes aparições (esperava algo mais equilibrado, como no primeiro), porém, neste o personagem se torna um dos mais queridos entre todos – recentemente li nas mídias sociais que ele é o “golden retriever” de The Stormlight Archive, e não poderia concordar mais. Ao matar Sadeas, no final, Adolin protagoniza uma das cenas mais satisfatórias da Cosmere; um momento que todos esperavam e, sem prometer nada, Adolin conseguiu entregar tudo o que queria. Também amei como Renarin participa mais e como seus problemas são mais aparentes, mesmo que não tão abordados – por conta do final, acredito que ele irá desempenhar um papel cada vez maior.
Ainda não sei direito o que pensar sobre a Eshonai. Acho que a personagem teve pouco espaço e não dá para definir muitas coisas sobre sua personalidade. Apesar disso, é um fato de que sua personalidade e atitudes são extremamente alteradas por conta da transformação no meio do livro. Há, certamente, algum problema com as transformações dos Parshendi, provavelmente ligado às sprens de Odium. Entretanto, foi interessante ver um ponto de vista deles e também as descrições do local onde eles vivem – as formas que eles podem assumir, os campos de estudos e o sistema político democrático, que acaba sendo destroçado com a chegada da stormform (ou voidbringers). Dentro do âmbito dos antagonistas, ainda, Szeth continua sua caçada por Dalinar durante os acontecimentos do livro. A batalha final entre ele e Kaladin era esperada e consegue cumprir bem com o proposto. Compreendo que houve uma alteração nessa cena e, apesar de ter visto algumas reclamações, eu sinceramente acho que faz mais sentido para história essa última versão, do que a anterior. Não sei se fico feliz com sua entrada na ordem dos Skybreakers, mas espero que isso signifique, pelo menos, uma mudança nos rumos desse personagem; que seja um recomeço para ele.
Fiquei levemente frustrado no meio do livro, que parecia perder um pouco a força inicial – é aqui que me refiro às expectativas. No início do livro, as menções aos poderes de Jasnah e Shallan, bem como a viagem entre os reinos, me fizeram acreditar que o livro seria traçado através dessa loucura, porém, foi por volta de 30% que ele começa a dar uma acalmada e a não corresponder com o que ele parecia se propor. Com o final de TWoK sendo a aparição de um Herald, imaginei também que o livro seria mais focado nos deuses de Roshar do que ele realmente foi. Porém, assim como a maioria dos livros de Sanderson, o último terço consegue resolver os problemas gerados e ainda criar novas situações inusitadas que te fazem esquecer das poucas decepções.
Um dos pontos que mais me chamou a atenção durante a leitura, e que fazem eu me perguntar o que o autor está planejando para o futuro, é a inserção dos Ghostbloods (grupo que agora a Shallan faz parte), bem como os que utilizam o Diagram. A política da série sempre foi bem retratada, mas acredito que nunca minuciosamente. Com a adição desses dois grupos (e a caída de Kholinar vista em um interlúdio), fico na expectativa de que o autor irá detalhar mais a política das regiões de Roshar. Além deste ponto, finalmente os elementos dos Knight Radiants começou a aparecer com mais intensidade ao final do livro: a volta de Urithiru e a definição das ordens de cada protagonista me animaram bastante. Alguns outros momentos do livro foram marcantes, por isso, também merecem a minha atenção e um destaque (além do fato de precisar deles escritos para não esquecer quando for ler os próximos):
O duelo de Adolin e Kaladin é de arrepiar, já que proporcionam o que eu acredito ter sido a melhor luta, tanto por descrição dos acontecimentos, como por conta das consequências geradas, dentre todos os livros que já li do Brandon Sanderson. Além disso, a primeira vez que mostra a Shallan com sua Shardblade gerada a partir do Pattern (bem mais avançada dentro da iniciação na ordem do que os outros personagens), bem como a morte de Tyn através dela, são chocantes. Ainda, a volta de Wit ao enredo é incrível, por desempenhar um papel levemente maior e mais voltado para os conceitos da Cosmere. E, por fim, é claro que não poderia esquecer: o retorno de Jasnah nas últimas cinco páginas do livro é contagiante e chama muito a atenção para o terceiro livro.
“You sent him to the sky to die, but the sky and winds are mine. I claim them, as I now claim your life.”