Lua 21/07/2023
Livro pequeno, com grande estrago
Não sei bem se foi o melhor momento pra ler esse livro, mas vamos lá.
Em A Vegetariana conhecemos Yeonghye, uma jovem adulta sul-coreana absurdamente ordinária, mediana. Cada vez mais entendemos de onde vem essa postura e comportamento. Yeonghye conhece bem das violências desse mundo.
Pra quem não sabe, a Coreia do Sul tem uma cultura ainda muito machista e pouco debate acerca do feminismo, o que acaba gerando violências nas mulheres, sem ter espaço para oposição. Ou seja, filhas apanham dos pais (mesmo adultas), estupro matrimonial acontece de forma desenfreada, mulheres são deslegitimadas socialmente, e ninguém acha estranho. É tudo aceito coletivamente.
Nesse cenário, nossa protagonista se torna vegetariana, não porque tem dó dos animais, mas sim porque começa a sonhar todas as noites com assassinatos (muitas vezes cometido por ela), sangue jorrando, pedaços de carne, etc., e ela acredita que parando de comer carne, esses sonhos pararão. Mas não param.
Acompanhamos nossa protagonista perdendo o fio que segura sua sanidade nesse mundo. Vemos cada vez mais ela se dessassociando dessa sociedade e percorrendo o que sua mente (muito debilitada) lhe convence de o que lhe trará felicidade.
Para além do tema de saúde mental, outro ponte forte da narrativa é a autonomia do corpo. Nesse caso, qual o tamanho da autonomia de um corpo feminino, "vulgar" e "louco"? A autora faz uma escolha narrativa que exemplifica bem isso: nunca lemos na percepção da protagonista. Primeiro, quem conta sua história é o marido. Depois o cunhado, e por fim, a única pessoa que ainda está ao seu lado, sua irmã mais velha.
O livro é curtinho, há muita coisa nas entrelinhas e no entendimento de o que se transformou a Coréia no pós 2 guerra mundial, mas pra quem gosta de uma narrativa forte, vale a pena conferir.