Carlos.Eduardo 16/12/2020
Um homem com os defeitos de seu tempo
Gostaria de pegar um desvio e comentar brevemente sobre o autor.
Sim, a xenofobia e o racismo aparecem nos seus contos, nos pegam de surpresa e geram uma repulsa instantânea. É preciso ter em mente, entretanto, a época em que ele viveu e sua maneira orgulhosamente conservadora e antiquada de ver o mundo. Ainda, ele mesmo se declara, na carta que consta no final do livro, como um homem materialista e de ciência, apesar de seu conservadorismo. Bom, as teorias eugênicas predominavam nos variados círculos intelectuais do início do século XX - atingiriam o auge com o nazismo, sendo, obviamente, condenadas posteriormente, e também por falta de evidências.
Lovecraft era um típico representante de seu tempo, portanto. Como ele existiram muitos. E assim como essa sua moral é condenável, com toda a razão, na atualidade, talvez muitos de nós mesmos venhamos a sofrer censura no futuro pela nossa maneira de ver as coisas hoje. Não, não estou passando pano pra racista, apenas ressaltando o quanto isso era comum e nada absurdo há 100 anos. É preciso, sim, que Lovecraft e sua obra sejam assim caracterizados, até porque o medo do desconhecido, discussão central do autor, é uma das emoções que explicam, em parte, os comportamentos racistas e xenófobos de qualquer ser humano - ontem, hoje e sempre.
Para não terminar sem falar do livro, que é o primeiro que leio dele: curti demais o estilo e esse conceito original de horror cósmico, no qual percebe-se claramente o casamento da sua fixação pelo antigo com sua visão científica de mundo (a insignificância do ser humano perante a vastidão incompreensível do universo). Já deve ter ficado claro por aqui, mas sou dos que acham totalmente possível apreciar o legado artístico das pessoas sem referendar mecanicamente sua visão de mundo. Até porque tudo é muito mais cinza do que preto e branco, e todos temos nossos anjos e demônios internos, em maior ou menor grau.