letty biachi 16/01/2024Uma ficção bibliográfica e uma bibliografia ficcionalA imp, assim como ela deixa claro no começo, é esquizofrênica, e você sabe que a partir daí não pode confiar muito na narrativa dela, ela mesma diz para você não fazer isso. seu modo de organizar fatos e tempos é diferenciado, mesmo com a medicação, e ela tem seu jeito próprio e cheio de bifurcações de contar sua história.
eu não achei confuso, nem quando ela meteu duas narrativas em uma, eu achei esse livro aqui um tesouro, eu estava realmente na mente dela e fiquei fascinada pela sua forma de pensar, e não falo isso de um jeito poético, falo com um certo interesse psicológico. é definitivamente uma experiência e foi definitivamente um livro.
ele é um livro cheio de elementos fantasiosos, cheio de referências a lobos, sereias e artistas e obras que não existem, mas ao mesmo tempo ele é tão real, toda a deturpação da imp em relação ao mundo a sua volta... um tour inexplicável pela mente de alguém afetado por uma doença que assombra seu sangue há gerações.
eu gostei como em muitos momentos, principalmente pro final, o livro busca plantar a semente da dúvida em nós, nos fazendo questionar a realidade assim como a imp, mesmo após todas as barbaridades desconexas que lemos no capítulo 7, ainda assim tentei juntar as peças de quebra-cabeça de uma forma lógica, coisa que a narrativa desse livro não é.
marquei vários trechos reflexivos enquanto lia, e me senti tão imersa na cabeça da imp que por dois dias dos quatro em que li eu praticamente conseguia ouvir meus próprios pensamentos como se fosse ela narrando, achei bizarro. enfim, me envolvi.
mesmo a imp sendo um cavalo num carrossel dando inúmeras voltas sem sair do lugar ao tentar contar sua história, eu me mantive entretida, apreciando seus devaneios e suas inúmeras fugas do tema. é um livro que não acrescenta muito, te faz sentir como se ele fosse um círculo fechado e te convidasse a rodar um pouco pelas suas bordas, te deixando um pouco tonto no caminho. porque sim, toda vez que a história ia para o extremos da loucura metafórica fantasiosa, eu me sentia uma cabeça de vento, parecia que eu só estava lendo coisas desconexas sem absorver nada e isso é muito esquisito e frustrante, não costuma acontecer em nenhum livro, por motivos óbvios. blocos e blocos de textos cheios de palavras que não valsavam juntas para ninguém além da imp, mas que ainda assim eu fiz questão de ler cada uma delas, como se eu devesse isso a ela. não me pareceu certo desconsiderar seus pensamentos só porque sua doença os tornava abstratos demais.
enfim, não é um livro pra qualquer um, mas eu adorei toda essa experiência sensorial e como, de alguma forma, ele contribuiu para a futura psicóloga que serei.
no mas, digo que a abalyn foi e é um anjo, seu amor pela imp se provou o mais puro e resistente, fiquei muito feliz pela imp por ela ter tido alguém que ficasse. na minha cabeça elas tiveram um final feliz. agora sobre eva canning não quero nem saber, parece que essa daí só aparecia para desviar a imp de todas as coisas, da sua saúde, da abalyn, da sua historia, e, principalmente, dela mesma. eu ficava irritada toda vez que a imp voltava seu foco para a demonia da eva.
apesar de, de certa forma, ter adorado a obra, estou muito feliz e grata por ter terminado e não precisar mais continuar nessa realidade ditada pela imp. eu definitivamente não releria, ao mesmo tempo que recomendo para todos dispostos a se envolver com uma história de uma mente não lúcida.
ACABOU! FIM. Glória! estou livre.