Queria Estar Lendo 09/04/2017
Resenha: Real
Essa resenha funciona melhor com os gifs: http://migre.me/wpd96 :P
Preciso começar essa resenha avisando que eu não ficava com raiva de uma leitura há muito tempo. Eu não sentia que tinha perdido horas preciosas que jamais seriam recuperadas há muito tempo. Eu não lia um romance abusivo assustador há muito tempo. E isso tudo, senhoras e senhores, parou de acontecer graças à Real.
New Adult's já estão saturados de mocinhas doces e ingênuas e seus mocinhos bad boys correspondentes. É um gênero que não inova muito, mas que se sustentou muito tempo com esses dois arquétipos construindo um romance quente e arrebatador. Alguns deram certo, fugindo do clichêzão e inovando esse arquétipo, como Easy ou Perdendo-me. Outros deslizaram feio em um penhasco, vide Belo Desastre. Agora, bem... Digamos que Real me fez ver Belo Desastre como uma obra prima da literatura.
A história é narrada por Brooke, uma recém formada fisioterapeuta que deveria saber um pouco mais sobre ética e envolver-se com clientes, mas que está ocupada demais caindo de joelhos pela beleza de Remy, um boxeador mulherengo extremamente obsessivo. Brooke é chamada para trabalhar como fisioterapeuta dele durante o campeonato e daí para frente já dá pra imaginar o que acontece?
Bom, o livro é isso. Eles na turnê do campeonato e Brooke e Remy se aproximando e começando a se relacionar. E é perturbador.
Por que é perturbador, você me pergunta? Primeiro porque, a partir do momento em que Remy aparece na sua frente, tudo o que Brooke pensa, faz e respira é por causa dele. Ela perde as definições de amor próprio e consciência e respeito por si mesma e se torna um fantoche da luxúria, caindo de joelhos e usando expressões como "os músculos do meu sexo se contraem ao olhá-lo" a cada nova aparição do boxeador. Seria cômico se não fosse assustador.
O gênero New Adult geralmente acompanha trajetórias de mudança, de crescimento, de amadurecimento, principalmente. Easy, por exemplo, trata temas pesados como abuso e estupro em meio a um romance saudável e quente. É um livro que te inspira a continuar lendo e se apaixonando por ele, pelos personagens, por tudo.
Real é o tipo de livro que te faz querer gritar para os céus e perguntar POR QUÊ? Que história ele está contando? A de uma guria que poderia ter um futuro brilhante pela frente, que poderia superar um acidente e o trauma dele, mas que prefere se afundar em um romance perigoso com um cara mais perigoso ainda só porque ele é gostoso?
Porque, sim, as motivações da Brooke são basicamente: "ele é gostoso, eu aguento esse desaforo. Eu aguento esses surtos. Eu aguento ele ter me beijado à força da primeira vez que nos conhecemos. Eu aguento sua obsessividade doentia. Ele é gostoso, gente!"
O Remy, no entanto, é o mais assustador. Porque, honestamente, se eu encontrasse com esse cara, a primeira coisa que faria seria correr para a delegacia mais próxima e pedir uma ordem de distância. Remy é obsessivo ao extremo, violento como ninguém e vê na Brooke sua propriedade. Típico homem das cavernas, lógico, já que é isso que dá prazer em uma leitura, não é mesmo?
Remy me deu medo, real oficial.
Ah, Deus, e a narrativa. As eloquentes colocações da protagonista. A quantidade de palavras que ela repete para descrever os atributos físicos do Remy. A quantidade de vezes que ela repete essas palavras usadas para descrever os atributos físicos do Remy.
"There is, literally, a ball of fire in my throat." (Tem, literalmente, uma bola de fogo na minha garganta.).
"He just fucked my name in front of me." (Ele f* meu nome bem na minha frente).
Remy, argh. Ele transformou Travis Maddox em um cavalheiro muitíssimo controlado. Toda e qualquer aparição do boxeador me faziam querer fechar o livro, até o momento em que eu fechei mesmo e não aguentei mais.
Remy tem um distúrbio que não vou citar por ser parte da trama, mas que é tratado com extremo desleixo, um desleixo quase ofensivo. É um problema psicológico sério e preocupante, uma doença, o tipo que mata quem o possui e não trata adequadamente. O tipo que precisa de doses de remédios fortes, que precisa de acompanhamento profissional. E o livro te diz, simplesmente, "ah, ele toma uns tranquilizantes de vez em quando, mas não precisa de remédios.". Que bom, gente. Que bom que um livro que poderia te ensinar e te educar sobre uma doença escolhe romantizá-la só para não perder a "violência sexy e feroz do protagonista". Que bom que, em vez de educar, a autora mente pra você e para os personagens e destrincha uma história irritante sobre como o boxeador gostoso deixa a garota excitada e é só isso que importa.
Apesar de ter abandonado o livro, procurei spoilers para saber o final, e aparentemente a coisa fica ainda pior. Com a graça dos céus, não me importo e nunca vou me importar. Estou aqui para falar sobre como esse livro é errado e perturbador e como não serve para enquadrar um New Adult agradável, sobre como é intragável e doentio e como a autora escorregou no que poderia ter sido uma boa trama só para escrever mais sexo.
Foi a minha nota mais baixa até agora, e foi merecida. Só não zerei o livro porque as cenas de luta foram bem descritas, e salvaram a leitura até o ponto que eu cheguei. Por favor, em nome de tudo que é mais sagrado e bem escrito na literatura, até de algumas coisinhas ruins, esse não é um livro para você. Mesmo que ame New Adult ou odeie, só... Não. Real não.