Maria Ferreira / @impressoesdemaria 25/09/2015É sempre um trabalho difícil escrever sobre os livros do Milan Kundera. Me parece que ele nunca vai direto ao ponto e que o que ele quer passar está sempre subentendido. Acredito que é isso que acontece nesse livro. Os acontecimentos são fragmentados mas nos permite compreender perfeitamente as ações das personagens, que são majoritariamente homens e quando aparece uma personagem feminina é para desempenhar um papel secundário. O autor nos faz pensar sobre a natureza da mentira, sobre a falsidade, a fugacidade do tempo e sobre como os acontecimentos históricos vão perdendo a importância para as gerações posteriores.
"No meu vocabulário de ateu, uma única palavra é sagrada: a amizade". -(p.30)
Quatro pessoas: Alain, Ramon, Charles e Calibã têm históris de vida, idades e vivências diferentes, mas são unidos por algo em comum, a amizade.
Alain é um homem que convive com o trauma de ter sido abandonado pela mãe quando criança e tem diálogos imaginários com ela. Ramon sempre quer ir ver uma exposição do Chagall mas quando chega no museu desiste por causa da fila e acaba passeando pelo parque que fica próximo, o Jardim Luxemburgo. Charles organiza coquetéis, pensa em fazer uma peça de teatro e leva os amigos a pensarem sobre Stálin. E Calibã é um ator que trabalha como garçom e para parecer mais interessante finge ser um paquistanês e inventa seu próprio idioma.
"Queria vê-los, mas sabia de antemão que não encontraria forças para se deixar transformar de bom grado numa parte daquela interminável fila que lentamente se arrastava em direção ao caixa". -(p.11)
De forma variada o autor coloca em paralelo a Paris atual e a União soviética extinta. Com ironia e bom humor nos faz pensar se não estamos dando importância a coisas superflúas e insignificantes, deixando o que realmente importa de lado. Quem sabe não é aí que reside a insignificância. É um livro curto e rápido de ser lido, mas que para ser entendido precisa de muita reflexão, talvez até mais de uma leitura.
"As pessoas se encontram na vida, conversam, discutem, brigam, sem perceber se dirigem uns aos outros de longe cada um de um observatório situado num lugar diferente no tempo". -(p.31)
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