A festa da insignificância

A festa da insignificância Milan Kundera




Resenhas - A Festa da Insignificância


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R4 24/08/2014

Indiferença
Como a maioria das pessoas, confesso que escolhi resenhar esse livro da Companhia das Letras por ter amado demais o livro mais famoso de Milan Kundera, A insustentável leveza do ser. Assim como esse, o novo livro do autor checo, chamado de A festa da insignificância, tem uma excelente escolha de título. É curioso, mas eu acho que um título bom ajuda muito para escolher uma leitura ou avaliar um romance e eu nunca vi títulos melhores que esses de Kundera.

O livro se passa em Paris e conta a história de um grupo de amigos: Alain, Ramon, Calibã e Charles. Os personagens são apresentados com seus problemas, individualmente, e logo depois percebemos que todos eles fazem parte de um mesmo grupo. Alain é apresentado como um homem que é assombrado pela imagem da mãe, que o abandonou quando pequeno. Ele conversa com ela de maneira imaginaria e imagina como ela deve ter tentado se suicidar para se livrar do feto. Para ele, o mundo se resume ao umbigo, que explicaria a falta de sentido humana. Ramon é um despreocupado que ensaia todos os dias para visitar uma exposição do Chagall, mas que sempre se desmotiva por causa da fila. Ele é convidado por D'Argelo para ir à sua festa de aniversário e apenas decide ir por compaixão, porque acredita que seu amigo está a beira da morte. Calibã é um ator frustrado que se passa por um garçon paquistanês, inventando sua própria língua para que as pessoas o achem mais intersessante do que é. E Charles está obcecado com um livro sobre a vida de Stalin.

Todos os personagens, a exceção de Alain, se preparam para ir à festa de D'Argelo e existe um grande desânimo em relação a essa noite. Nesse sentido, Kundera mostra que não apenas essa festa de aniversário de D'Argelo é insignificante, como também a festa como metáfora da vida. A vida se resume ao umbigo, pois é um detalhe que torna todos os seres humanos iguais, remete às origens e, ainda assim, é absolutamente inútil.

A festa da insignificância é uma apologia à indiferença. Kundera se desfaz em sarcasmo para denunciar uma hipocrisia social, por exemplo, a elevação da tristeza, da solidão e da falsa doença para causar simpatia ou compaixão. E, ainda assim, tudo isso é vão. Por isso, o único personagem que passa pelo livro e é visto como bem sucedido é Quaquelique, que me remete ao homem "qualquer", que consegue as coisas justamente por não chamar atenção ou expressar opinião relevante. Ele é o medíocre que vence na vida por evitar conflitos e se manter no senso comum. Sendo assim, o triste sentido da vida mostrado pelo autor é que ela é totalmente insignificante:

"A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. E ela está conosco em toda parte e sempre." pp.132

Achei A festa da insignificância bem diferente de A insustentável leveza do ser, o único livro que já tinha lido desse autor. Ele é tão duro quanto, mas muito mais sarcástico. É um livro bastante curto e a leitura flui rápido. Contudo, é o tipo de livro que faz com que tenhamos que pensar muito sobre ele, ou corremos o risco de fechá-lo sem compreender.

Quanto ao objeto em si, a edição da Companhia das Letras ficou maravilhosa. O livro é em capa dura e o livro foi impresso em papel pólen, que é aquele papel amarelado e com textura agradável.

Kundera, Milan. A festa da Insignificância. Trad: Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo: Companhia das Letras. 2014. 134p.
Suiany 17/01/2015minha estante
Muito boa sua perspectiva sobre o livro! Adorei e me identifiquei muito com sua opinião em: "A vida se resume ao umbigo, pois é um detalhe que torna todos os seres humanos iguais, remete às origens e, ainda assim, é absolutamente inútil."
http://divinaleitura.wordpress.com/




Dressa Oficial 17/08/2014

Resenha - A Festa da Insignificância
Olá, tudo bem com você?

Resolvi ler esse livro por abordar temas sobre filosofia que gosto muito e por esse ser em forma de romance achei que iria gostar, mas infelizmente essa é a resenha mais difícil de se fazer, apesar de ter lido o livro em apenas um dia, a história não me cativou e ao terminar a leitura fiquei com aquela sensação de não ter entendido nada do que tinha acabado de ler.

O livro conta uma história simples sobre quatro amigos: Alain, Ramon, Charles e Calibã, eles moram em Paris e se encontram em alguns lugares da cidade, como os Jardins de Luxemburgo e uma festa bem inusitada onde trocam ideias sobre diversos assuntos.

A leitura até que flui rápida os capítulos são bem curtos, e os assuntos são simples mas com uma pegada leve de filosofia, creio que o autor quis contar uma história qualquer apenas para mostrar suas ideias filosóficas, mas eu por gostar de filosofia não entendi muitas passagens e assuntos que os amigos discutiam.

Um dos amigos lê um livro chamado "Memórias de Khruschóv " e debatem alguns assuntos, muitos na minha opinião de pouca relevância, pois um dos amigos acha um absurdo as mulheres andarem na rua mostrando a barriga.

A questão é que um dos amigos esta amando ler esse livro e pretende fazer uma peça de teatro com algumas passagens que ele comenta com seus amigos.

Página 31
- O tempo corre. Graças a ele, em primeiro lugar estamos vivos, o que quer dizer: acusados e julgados. Depois, morremos, e continuamos ainda alguns anos com aqueles que nos conhecem, mas não demora a ocorrer outra mudança: os mortos se tornam velhos mortos, ninguém se lembra mais deles e eles desaparecem no nada.

O livro é de capa dura, não sei dizer porque mas amo livros de capa dura, e realmente o fato de andar com eles na bolsa facilita muito, as páginas são amareladas e grossas, e a letra está de bom tamanho.

Alguns capítulos o autor repete coisas do que já disse no começo da leitura mas depois explica o motivo de repetir algumas coisas.

Página 45
Estou me repetindo? Começo este capítulo com as mesmas palavras que empreguei bem no início deste romance? Sei disso. Mas mesmo se já falei da paixão de Alain pelo enigma do umbigo, não quero esconder que esse enigma continua a preocupa-lo, como vocês também se preocupam durante meses, ás vezes anos, com os mesmos problemas (certamente muito menos nulos do que este que obceca Alain).

É um livro bem diferente do que estou acostumada a ler, mas infelizmente não consegui entender nada do que foi dito, mas como gosto não se discute, só lendo para você saber se será do seu agrado. Para mim foi um livro confuso e que infelizmente não me agradou, tanto que nem consegui explicar direito na resenha.

Beijos

Até mais...

site: http://www.livrosechocolatequente.com.br/2014/08/resenha-festa-da-insignificancia.html
comentários(0)comente



Keylla 11/08/2014

Leve como uma pluma de perdiz ou de um anjo
Após conhecer o belíssimo " A insustentável leveza do Ser" decidi que conheceria todos os títulos de Milan Kundera. Ninguém nunca falou de amor como ele, e seus textos filosóficos(nesta obra, Kundera referencia Kant e Schopenhauer) me fizeram ser fã desse escritor tcheco agora cidadão francês. Quando soube do lançamento após um hiato de 14 anos corri para adquirir meu exemplar.

A festa da insignificância é como um bate-papo entre amigos num fim de tarde. O pano de fundo é a cidade de Paris, logo recomendo a trilha sonora do filme da Amélie Poulain e um bom vinho (ou talvez um armanhaque, como o adquirido por Rámon, um dos amigos que protagonizam a história) para acompanhar o leve diálogo entre os personagens.

O autor coloca em cena quatro amigos parisienses que vivem numa deriva inócua, característica de uma existência contemporânea esvaziada de sentido. Os amigos constatam que as novas gerações já se esqueceram de quem era Stálin, perguntam-se o que está por trás de uma sociedade que, em vez dos seios ou das pernas, coloca o umbigo no centro do erotismo. Profundo, ironicamente conformista, Kundera transita com naturalidade entre a cidade de Paris de hoje e sua vida esvaziada e a União Soviética de outrora, traçando um paralelo entre essas ambas as épocas e parodiando o stalinismo. Seu romance problematiza o pior da civilização e ilumina problemas da humanidade e do mundo, porém o faz com delicioso humor, mostrando com lirismo a insignificância da existência humana.

Um dos pontos altos do livro são as conversas imaginárias com a mãe desaparecida de um deles. Ao narrar como ela se sentia na gestação deste personagem (páginas 94-95) me fez lembrar, pelo tema e pelo gesto crispado, o quadro O Hospital Henry Ford ou A cama voadora, de 1932 da Frida Kahlo.

Só me fez querer caminhar sem compromisso, com pensamentos soltos, pelas ruas e parques de capital francesa.


Torcer para que esta obra, não seja a última valsa de Kundera.

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Considerações:

- O livro foi publicado na França no ano passado e causou alvoroço no mundo editorial, pois o autor não publicava obras de ficção desde A Ignorância, lançado em 2002.
- Amo o que envolve a França e Kundera, então, esse livro foi uma rara experiência.

- Leitura leve e rápida. Li em torno de 2 horas. (Porém, não digo que é de fácil entendimento)

- É melhor ou pior que "A insustentável leveza do ser" ? Cada livro é único. Leia. Porque é um Kundera.

A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre. Ela está presente mesmo ali onde ninguém consegue vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores desgraças. Isso exige muitas vezes coragem para reconhecê-la em condições tão dramáticas e para chamá-la pelo nome. Mas não se trata apenas de reconhecê-la, é preciso amar a insignificância, é preciso aprender a amá-la.
Rafa 11/08/2014minha estante
Resenha muito bem comentada. Parabéns.


Keylla 13/03/2015minha estante
Obrigada, Rafa!


jefftavaresjuni 03/12/2023minha estante
Maravilhosa resenha. Acabei de ler e você realmente retratou de forma fidedigna.


Alexya. 17/04/2024minha estante
Amei a resenha. Acho um dos melhores pontos do livro o diálogo do personagem com a mãe desaparecida/imaginaria e a reflexão do quanto esse abandono refletiu no ser humano ?desculpante? que ele se tornou. Amei o livro.




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