May Tashiro | @slcontagiante 07/07/2015#MLI2015 Half Bad & Half Lies, de Sally GreenOlá!
Não sei como anda a maratona de vocês, mas a minha começou fodidamente bem. Desculpa o palavreado de baixo escalão, mas não existe um advérbio que se encaixe melhor. Talvez maravilhosamente cruel e monstruoso funcione também... Difícil dizer.
Só não posso acreditar que demorei tanto para começar a ler a Trilogia Half Bad e mergulhar de cabeça nesse mundo onde existem os bruxos das Sombras e os bruxos da Luz, que obviamente se odeiam e se matam mutuamente. O plano de fundo é a Europa e seus personagens são de diversos lugares, sempre tendo a magia como ponto em comum. Nesta estória devemos esquecer que o bem é representado por um símbolo e que o fato de tratar-se de bruxos exime-os de serem tão cruéis, se não mais, nas torturas físicas. Não há essa de eu sou um representante da paz, da justiça e de tudo que há de bom no universo, esse tipo é o pior monstro, é aquele que te torna uma massa sangrenta e ri em cima do seu cadáver. Se tiver uma coisa que posso afirmar sem culpa nenhuma de spoiler é que Half Bad é crueldade crua e nua, um misto de intolerância e impertinência.
Acompanhamos a trajetória de Nathan e sua evolução de menino a homem, um menino afastado de sua própria sociedade por ser o que eles chamam de meio-código – meio bruxo da Luz e meio bruxo das Sombras. Se fosse simples, o que com certeza não é, ser um mestiço entre duas facções de bruxos que se odeiam, Nathan é filho do bruxo das Sombras mais procurado do globo e o mais maligno de todos, conhecido por caçar e matar bruxos de não importa qual facção e comer seus corações para obter seus poderes. Nathan foi criado pelo lado da Luz de sua genética sendo odiado por sua meia irmã mais velha Jessica e criando um laço de amizade e companheirismo com seu meio irmão Arran; ele se apaixonou no início da adolescência por uma linda bruxa da Luz da mais pura linhagem chamada Annalise, levou umas surras, bateu de volta... O básico para um menino. A coisa é que o Conselho dos Bruxos da Luz o vê como uma de duas armas profetizadas que podem matar Marcus, o pai de Nathan. Agora chegamos ao ponto que eu queria, Nathan não fica de mimimi “eu não quero ser que nem meu pai e eu vou atrás dele e matá-lo para provar que eu sou bom e blábláblá”. Ele sente no fundo do âmago que o pai dele é de algum jeito bom, que ele se importa com Nathan, que ele sempre o tem vigiado e que o ama. Ele quer encontrar esse pai, quer provar que nunca o mataria. E essa ideia é reforçada quando Nathan é tirado de sua família pelo Conselho e entregue a uma ditadora que ninguém sabe se odeia ou se gosta. Nathan tem que escapar de qualquer modo e encontrar uma bruxa, Mercury, que pode ajudá-lo a se tornar um bruxo de verdade, pois eles têm que passar por um ritual elaborado aos 17 anos.
“— Tanto em termos de violência quanto de fama, sua família supera a minha.”
— Gabriel, p. 227.
Nesse quesito o livro não peca. Sally Green conseguiu construir uma cultura envolvendo esses dois povos e seus vários outros componentes, recheou o livro com a necessidade que Nathan tem de passar por esse ritual de transição e descobrir o seu dom. A narrativa na primeira parte do livro, posto que ele é dividido em seis partes, me deixou com um pé atrás. Acontece que ele narra em segunda pessoa, eu nunca tinha lido nada assim, mas é só na primeira parte mesmo. Depois, quando entendi o porquê daquele início, eu só conseguia ficar abismada e xingar de tão incrível que a escritora conseguiu externar o fato de que o personagem estava andando na corda bamba da loucura. E o Nathan, minha gente, é um filho da mãe impertinente. Existem poucos personagens principais que nós podemos encher a boca para falar que adoramos, que são incríveis, Nathan é assim para mim. Acho que é muito culpa da autora também, ela te liga ao personagem e você se aferra às necessidades dele como se fossem suas.
“— Ela é uma bruxa velha e maluca — digo. — Ninguém mais na família foi convidado. Não a conheço e não devo ir a lugar nenhum sem a permissão do Conselho. — Sorrio, para o deleite de Arran. — É claro que vou.”
— Nathan, p. 96.
Além de o livro trazer toda uma ideia sobre preconceito e intolerância, ele me fez questionar se podemos ser bons fazendo o mal. É nisso que Nathan acredita sobre o pai e é nisso que Arran acredita em relação ao irmão. E durante a trajetória de Nathan, a escritora nos prova que é possível. A sobrevivência vem em primeiro lugar.
Agora eu preciso falar um pouquinho de um dos meus personagens favoritos, Gabriel. Gabriel aparece depois da metade do livro como um contato na Suíça que pode ou não levar o nosso protagonista à bruxa Mercury; ele é gay e se apaixona pelo Nathan. É através dele que sabemos que Nathan é um tipo de celebridade, mas também descobrimos um lado sutil do mesmo. A coisa é que eles se tornam amigos, algo que os dois necessitavam. Mesmo depois que Nathan tem jogado na cara dele por um terceiro que o Gab é apaixonado por ele, ele não se afasta e nem tem aquelas reações homofóbicas. É sutil e ao mesmo tempo lindo e desesperador. Eu shippo os dois, mas sabemos que o Nathan ainda tem aquele amor de infância...
“Ele sorri, depois me dá um beijo no rosto, diz algumas palavras e, apesar de ser em francês, sei o significam. Damos um abraço apertado.”
— Nathan, p.277.
Eu estou querendo muito ler a continuação, Half Wild, e ontem quando terminei ainda não queria me desligar desse mundo incrível. Existe um conto que foi publicado pela Editora Intrínseca em formato e-book chamado Half Lies, é uma estória que se passa nos Estados Unidos com a irmã do Gabriel, antes de ele se mudar para a Suíça. Ele tem por volta de 62 páginas, mas a prova viva que Sally Green sabe fazer narrativas incríveis não importa a quantidade de páginas. Half Lies é o diário de Michèle, retrata seu dia-a-dia, seu amor por um garoto chamado Sam, sua nova vida em um país novo com seu pai alcoólatra e inútil. Não posso falar muito senão conto tudo, mas no fim foi como se eu estivesse de luto por um membro da minha família. Esse conto me fez gostar ainda mais do Gabriel. Aqui vai um trecho sobre como é um bruxo das Sombras do ponto de vista de um:
"artista
bêbado
fumante
mulherengo
assassino
todas as alternativas anteriores
O típico bruxo das Sombras."
— Michèle sobre o pai.
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Beijos, May.
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