Lucas Goncz 24/06/2020
Apenas Rick Riordan, apenas mais do mesmo
Primeiramente, quero deixar claro que reconheço a importância de Rick Riordan na literatura infanto juvenil. Acho admirável a forma como ele cria histórias que realmente trazem as crianças para o mundo da leitura, desenvolvendo personagens carismáticos para esse tipo de público e, principalmente, incluindo representatividade. Porém, acho triste que autor se limite apenas à essa “fórmula mágica do sucesso e do dinheiro”.
Eu li os livros de Percy Jackson e Os Herois do Olimpo quando eu era mais novo, e de fato me diverti bastante com a leitura. Porém desde essa época a mesma fórmula repetitiva de Rick Riordan já me cansava. Qualquer livro começa com uma sombria profecia que relata o fim dos tempos, seguido pela perigosíssima missão dada ao protagonista e enchendo 500 páginas entre enrolação + monstro terrível sendo derrotado + mais enrolação + outro monstro terrível sendo derrotado e assim por diante, chegando em finais previsíveis e felizes. Desisti de vez do autor quando comecei a ler a saga As Provações do Apolo e mais uma vez me deparei com a mesmíssima fórmula batida e cansativa.
O motivo pelo qual eu decidi dar uma chance à Magnus Chase é um tanto diferente: comecei a jogar o jogo God of War 3 e percebi que absolutamente todo o meu conhecimento sobre mitologia grega se deve aos livros de Percy Jackson. Como o próximo jogo da franquia (God of War - 2018) retrata a mitologia nórdica e esse era um assunto do qual eu não sabia nada, busquei em Magnus Chase essa característica didática que me ensinou tanto nas sagas anteriores. E mais uma vez, sem surpresa alguma, me deparei com a mesma fórmula, porém falhando até mesmo nessa pegada didática.
A própria sinopse do livro resume bem a história e não há o que acrescentar além de sabermos que é mais do mesmo. Magnus Chase é filho de um deus nórdico que morre em batalha e surge em Valhala, uma espécie de paraíso para semideuses mortos que irão compor o exército do deus Odin para o Ragnarok, que seria a guerra no fim dos tempos. Esse mundo mágico da mitologia nórdica é apresentado de uma maneira um tanto corrida, sem focar em maiores explicações para nomes e termos que, diferente da mitologia grega, são completamente desconhecidos para grande parte do público. Como eu li pelo kindle, acabei aprendendo mais ao pesquisar o termo na wikipédia do que pelo livro em si. Parece que foi escrito partindo do pensamento de que os leitores já entendem sobre mitologia nórdica.
Magnus é claramente Percy, o protagonista que vive deslocado e descobre sua origem. A valquíria Sam é Annabeth, a “cabeça” da história que acredita no protagonista e toma as melhores decisões, enquanto o anão Blitzen é Groover, o companheiro talentoso que tem a função de alívio cômico e se mostra como um amigo fiel e divertido. Apenas o personagem Hearthstone, um elfo surdo, que me surpreendeu, tanto pela representatividade como pela abordagem inédita de magia e runas. Se o livro fosse narrado por Hearthstone provavelmente minha resenha teria mais estrelas, e isso é o que mais me incomoda: Rick Riordan tem um potencial ENORME, sabe como criar uma história e criar personagens, mas escolhe propositalmente dar seu desenvolvimento medíocre baseado no mais do mesmo e na fórmula imutável.
A impressão que eu tenho é que o autor é ciente da força e do tamanho de seu público alvo, então ele prefere se limitar a escrever apenas para as crianças pois sabe que isso jamais seria como um tiro no escuro, desperdiçando assim a chance de desenvolver uma história que poderia se tornar incrível tendo a escrita e os conflitos mais maduros, o que também acompanharia o crescimento de seus próprios leitores antigos e assim expandiria seu público para diferentes idades e gerações. É um escritor comercial, uma máquina que segue um algoritmo de escrita que vende, um escravo das editoras e dos números.
Concluindo e dizendo novamente, é mais do mesmo. Sim, mais do mesmo. Devo ter dito isso umas 50 vezes nessa resenha, mas é o que mais grita quando penso em Magnus Chase. É um livro cansativo e previsível para leitores adultos, que terão a impressão de estar relendo Percy Jackson pela décima nona vez, a não ser que estejam cientes de que não terá nenhuma novidade e de fato goste de ler livros bobinhos e leves com uma linguagem infantil de vez em quando. Por outro lado, é um livro válido para crianças que buscam uma aventura a la Sessão da Tarde e uma forma de ingressar no mundo da leitura.