Naty__ 08/01/2016Nada melhor do que terminar/iniciar o ano com uma leitura que nos leva à reflexão. Geralmente as pessoas são fadadas à ideia de que o início do ano é um processo de mudança, de observar o que foi feito de ruim para que não seja repetido. Diante dessa linha de pensamento, esse livro é um grande auxílio para quem deseja essa meditação.
Dessen trata sobre superação, amadurecimento e, claro, antes de tudo isso vem os erros que ela soube descrever muito bem. Durante a história, senti-me comovida pelos personagens principais e consegui me colocar no lugar de cada um – aliás, quase. Sidney é uma garota simples e que vive rodeada de simplicidade, aquele tipo de pessoa que passa na rua e você nem a nota.
Em contrapartida, seu irmão é o queridinho da família, sempre teve tudo o que quer, popular, chama a atenção por onde passa, além de ter uma beleza singular – algo que Sidney tem apenas de forma comum. Essa parte me incomodou um pouco, até porque como classificar uma beleza comum de uma singular? É algo um tanto quanto subjetivo e me parece que a autora usou de padrões que a mídia tenta, incessantemente, forçar-nos a entender e a aceitar. Entretanto, comigo isso não funcionou e não funciona. A beleza que sentia em Sidney é algo totalmente fora do comum, a garota refletia da maneira mais lógica que uma pessoa sensata poderia refletir, porém, geralmente não fazem. Vou explicar o motivo: seu irmão, Peyton, foi preso ao dirigir embriagado e atropelar uma adolescente que ficou dependente de uma cadeira de rodas.
A todo o momento Sidney reflete na conduta de seu irmão e não passa a mão na cabeça, não sente dó pela sua punição. Vi na protagonista uma forma realista de ser, ela parecia ser a única a enxergar a culpa no irmão, enquanto seus pais apenas almejavam a liberdade a todo custo. Contudo, é essa maneira diferenciada de Sidney observar as coisas que as pessoas deveriam ter quando um parente seu comete um crime ou algo próximo disso. Claro que não é para condená-lo duas vezes, a própria justiça trata de fazer isso com a sociedade. Porém, os pais de Peyton tratavam-no como se fosse um inocente, um filho coitadinho e mimado. Não se preocupavam com a frustração que Sidney estava passando por sempre fazer a coisa certa e nunca receber a atenção devida. A sensação que tive, depois da prisão dele, foi sobre a atenção dada pelos pais – que já era muita –, passou a ser exacerbada e voltada exclusivamente ao jovem.
Senti a dor de Sid e o mimo exagerado de Peyton, mas também pude notar o amadurecimento no decorrer da obra, Dessen explorou esse lado muito bem. No entanto, como nem tudo são flores e nem todas as obras são classificadas como melhores do mundo, aponto este como um livro muito bom, mas que poderia ter sido desenvolvido melhor. Durante a leitura senti que outros assuntos tratados poderiam ser excluídos da história e não faria diferença alguma. Parecia mais um jeito de aumentar e deixar o leitor curioso para saber o que aconteceria no final – o que não foi nada de extravagante.
Um ponto essencial que devo abordar é sobre a escrita de Dessen. É fantástica, fora do comum e instigante. Você lê e quer continuar lendo, mesmo notando que alguns pontos na história são desnecessários; você sente que precisa chegar ao fim para descobrir tudo e somente depois fechar os olhos e refletir sobre o desfecho.
Tratando da capa e da diagramação foram muito bem feitas, a primeira apresentou um trabalho estético que chama a atenção em qualquer prateleira numa livraria; a segunda proporciona uma leitura agradável, com folhas amareladas, letras e espaçamentos ótimos. A respeito da revisão notei um erro no nome da personagem, na contracapa está Sydney, mas no decorrer da história ela é tratada por Sidney. Os demais erros foram bem insignificantes e não atrapalham no entendimento. Uma ótima obra para quem procura uma grande lição.
Quotes:
“Do jeito que minha mãe falava parecia que Peyton ia receber um diploma de Harvard, não o certificado de um curso na prisão que, para ser honesta, era obrigatório. Mas minha mãe era assim. Quando o assunto era Peyton, qualquer coisinha boba já virava um feito sensacional” (p. 213).
“– A questão é que reconheço que fiz algo que não devia. Quebrei a confiança dela. Mas foi a única vez na vida, a única vez que fiz qualquer coisa errada. Pelo castigo que ela me deu, parece até que fui eu que quase matei alguém (p. 340).
“Era isso. Ninguém era capaz de saber o que viria adiante; o futuro era a única coisa que jamais poderia ser destruída, porque ainda não tivera a chance de existir. Num minuto, você está andando sozinha pelo bosque escuro; noutro, a paisagem muda, e você enxerga. Enxerga algo maravilhoso e inesperado, quase mágico, que jamais teria encontrado se não tivesse seguido em frente. Como uma nova amizade que parece antiga, uma lembrança que nunca vai esquecer. Talvez até um carrossel” (ps. 399-400).